Uma Análise das Visões de Ellen White

Introdução

Ellen G. White, uma das principais líderes e cofundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), é conhecida por suas experiências visionárias que moldaram profundamente a teologia e a prática da denominação. No entanto, uma análise cuidadosa de suas visões à luz da ciência médica levanta questões significativas sobre sua autenticidade e origem. Este artigo explora as evidências apresentadas por D.M. Canright em seu livro “The Life of Ellen White”, que sugerem que as visões da Sra. White eram o resultado de condições médicas, como histeria, epilepsia, catalepsia e êxtase, e não de inspiração divina.

O Impacto do Acidente de Infância

Ellen White sofreu um grave acidente na infância que teve um impacto duradouro em sua saúde física e mental. Aos nove anos, ela foi atingida no rosto por uma pedra, quebrando seu nariz e deixando-a inconsciente por três semanas.[1] Esse choque em seu sistema nervoso provavelmente foi a principal causa de todas as visões que ela teve posteriormente. Canright argumenta que esse evento traumático, combinado com sua natureza nervosa e sensível, criou as condições ideais para o desenvolvimento de distúrbios neurológicos que se manifestaram em suas experiências visionárias.

Sintomas Consistentes com Condições Médicas

Canright apresenta evidências convincentes de que os sintomas exibidos por Ellen White durante suas visões eram consistentes com várias condições médicas bem documentadas. Ele cita extensivamente autoridades médicas que descrevem os sintomas de histeria, epilepsia, catalepsia e êxtase, observando as semelhanças marcantes com as experiências da Sra. White. Esses sintomas incluem:

1. Predominância no sexo feminino, geralmente começando na puberdade.[2][3] 2. Causas como distúrbios emocionais, ansiedade prolongada e lesões na cabeça.[4][5] 3. Saúde frágil e fraqueza geral.[6][7] 4. Ocorrência de visões em público, raramente enquanto estava sozinha.[8] 5. Inclinação para exagero e engano.[9] 6. Cessação da respiração durante as visões.[10][11] 7. Senso exagerado de auto-importância.[12]

Os próprios escritos de Ellen White, citados extensivamente por Canright, revelam um padrão consistente de problemas de saúde, desmaios frequentes e visões que ocorriam quando ela estava fisicamente fraca ou doente.[13] Esse padrão, argumenta Canright, é um forte indicador de que suas visões eram o resultado de sua condição física, e não de inspiração divina.

O Testemunho de Médicos

Canright apresenta o testemunho de vários médicos que examinaram pessoalmente Ellen White ou estavam familiarizados com seu caso. O Dr. W.J. Fairfield, que teve ampla oportunidade de observá-la ao longo de vários anos, concluiu sem sombra de dúvida que seus ataques supostamente divinos eram simplesmente transes histéricos.[14] O Dr. William Russell, outro médico adventista do sétimo dia, chegou à mesma conclusão, observando que a própria Sra. White havia sido diagnosticada como sujeita à histeria pelo Dr. Jackson.[15]

Talvez o testemunho mais significativo seja o do Dr. J.H. Kellogg, um renomado médico e cientista que dirigiu por muitos anos o Sanatório Adventista do Sétimo Dia em Battle Creek, Michigan. Criado para reverenciar a Sra. White e suas revelações, o Dr. Kellogg teve todas as oportunidades de estudar seu caso ao longo dos anos. Apesar de ser contrário a seus melhores interesses, ele foi obrigado a perder a fé em suas visões, concluindo que eram simplesmente o resultado de sua fraca condição física.[16]

Comparação com Casos Documentados

Canright fornece descrições detalhadas das condições de Ellen White durante suas visões, extraídas dos escritos de seus associados próximos, como seu marido James White e J.N. Loughborough.[17][18] Ele então compara essas descrições com casos documentados de pacientes sofrendo de histeria, epilepsia, catalepsia e êxtase, conforme descrito em livros médicos e por médicos experientes.[19][20][21] As semelhanças são marcantes, sugerindo fortemente uma base fisiológica, em vez de sobrenatural, para as experiências visionárias da Sra. White.

A Transição das Visões para Impressões

Um ponto particularmente revelador levantado por Canright é a mudança na natureza das experiências reveladores de Ellen White ao longo do tempo. Durante seus anos de visão, ela alegava ser fisicamente transportada para o céu, conversar com Jesus e visitar outros planetas.[22] No entanto, à medida que envelhecia e sua saúde melhorava, suas visões diminuíram em frequência e intensidade, eventualmente cessando completamente por volta da menopausa.[23]

Depois disso, suas revelações supostamente passaram a vir de maneiras diferentes – por uma voz, por sonhos, por “impressões”.[24] Essa mudança, argumenta Canright, é consistente com a explicação médica de suas visões como resultado de sua condição física. À medida que sua saúde melhorou com a idade, os sintomas desapareceram, levando a uma mudança correspondente na natureza de suas experiências reveladores.

Conclusão

As evidências apresentadas por D.M. Canright em “The Life of Ellen White” levantam sérias questões sobre a autenticidade das visões de Ellen G. White. A estreita correspondência entre seus sintomas e condições médicas bem documentadas, o testemunho de médicos que a examinaram, e a mudança na natureza de suas revelações ao longo do tempo, tudo aponta para uma explicação natural, em vez de sobrenatural, para suas experiências visionárias.

Como cristãos, somos chamados a

“[provar] todas as coisas; [reter] o que é bom” (1 Tessalonicenses 5:21)

. Embora Ellen White possa ter sido sincera em sua crença de que suas visões eram de origem divina, as evidências sugerem que ela estava enganada. Ao avaliar suas alegações proféticas, devemos nos voltar para o padrão infalível da Palavra de Deus, e não para experiências subjetivas ou manifestações extrabíblicas.

Que possamos, com humildade e discernimento, examinar todas as coisas à luz das Escrituras, sempre permitindo que elas sejam nossa regra suprema de fé e prática. Ao fazê-lo, podemos abraçar a verdade que liberta

“[conhecereis] a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32)

e evitar ser

“[levados] em redor por todo o vento de doutrina” (Efésios 4:14).

Referências:


  • 1. WHITE, E. G. “Testimonies for the Church”, vol. 1, pp. 9-10. [1]
  • 2. “Raynold’s System of Medicine”, artigo “Hysteria”. [2]
  • 3. “Theory and Practice of Medicine”, by Roberts, p. 399. [3]
  • 4. Ibid., p. 393. [4]
  • 5. “Fundamental Nervous Disease”, Putzel, p. 66. [5]
  • 6. “Theory and Practice of Medicine”, by Roberts, p. 404. [6]
  • 7. “Encyclopedia Americana”, artigo “Hysteria”. [7]
  • 8. “Theory and Practice of Medicine”, by Roberts, p. 401. [8]
  • 9. “Gurnsey’s Obstetrics”, artigo “Hysteria”. [9]
  • 10. “Theory and Practice of Medicine”, by Roberts, pp. 393-394. [10]
  • 11. WHITE, J. “Life Incidents”, p. 272. [11]
  • 12. “Raynold’s System of Medicine”, artigo “Hysteria”. [12]
  • 13. WHITE, E. G. “Testimonies”, vol. 1, citado extensivamente. [13]
  • 14. Fairfield, W. J. Carta, 28 de dezembro de 1887. [14]
  • 15. Russell, W. Carta, 12 de julho de 1869. [15]
  • 16. Conclusão baseada na renúncia do Dr. Kellogg à fé nas visões da Sra. White. [16]
  • 17. WHITE, J. “Life Incidents”, p. 272. [17]
  • 18. LOUGHBOROUGH, J. N. “Rise and Progress of Seventh-day Adventists”, p. 94. [18]
  • 19. PIERCE, H. V. “Medical Advisor”, pp. 647-650. [19]
  • 20. WOOD, G. B. “Practice of Medicine”, vol. 2, p. 721. [20]
  • 21. DURANT, G. Citação sobre êxtase e catalepsia. [21]
  • 22. WHITE, E. G. Experiências durante seu “período de visão”. [22]
  • 23. Análise de Canright sobre a mudança nas experiências da Sra. White com a idade. [23]
  • 24. WHITE, E. G. “Testimonies for the Church”, vol. 9, citado. [24]

BÍBLIA. Tradução de João Ferreira de Almeida. 1 Tessalonicenses 5:21; João 8:32; Efésios 4:14.