Um Acordo entre Duas Partes

Introdução

A doutrina adventista do sétimo dia afirma que o sábado é uma instituição perpétua e universal, aplicável a toda a humanidade desde a criação até o presente. No entanto, um exame cuidadoso das Escrituras revela que o sábado era um pacto específico entre Deus e a nação de Israel, bilateral em natureza e com validade condicionada à aceitação e cumprimento de ambas as partes.

A Natureza Bilateral do Pacto do Sábado

Quando Deus estabeleceu Sua aliança com Israel no Monte Sinai, Ele deixou claro que era um acordo mútuo que requeria a aceitação e obediência do povo:

“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha” (Êxodo 19:5).

O povo respondeu afirmativamente, comprometendo-se a fazer tudo o que o Senhor havia falado (Êxodo 19:8). Essa troca de promessas e compromissos demonstra a natureza bilateral do pacto.

O sábado, como parte dessa aliança, também tinha um caráter bilateral. Deus o estabeleceu como um sinal entre Ele e os israelitas:

“Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Tu, pois, falarás aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis meus sábados; porquanto isso é um sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o Senhor, que vos santifica” (Êxodo 31:12-13).

A frase “entre mim e vós” [1] enfatiza a natureza recíproca desse sinal. Não era apenas uma ordem unilateral de Deus, mas um acordo que requeria a participação ativa de Israel.

Ellen White, no entanto, afirma o contrário:

“Deus confiou Seus santos mandamentos a Seu povo, e prometeu bênçãos àqueles que Lhe obedecerem. O sábado foi especialmente designado para ser observado como um teste de sua lealdade. Deus tem planos em relação a Seu povo, e lhes dará Suas bênçãos se eles andarem em obediência a Ele” [2].

Essa declaração apresenta o sábado como um teste unilateral da lealdade do povo, ignorando a natureza bilateral do pacto. Ela também sugere que as bênçãos de Deus estão condicionadas à obediência, o que contradiz o princípio da graça enfatizado no Novo Testamento (Efésios 2:8-9).

A Validade do Pacto Condicionada à Aceitação e Cumprimento

A validade e continuidade do pacto do sábado estavam condicionadas à aceitação e ao cumprimento de ambas as partes. Se Israel falhasse em guardar os mandamentos de Deus, incluindo o sábado, as bênçãos prometidas seriam retidas e as maldições viriam sobre eles (Deuteronômio 28).

Deus advertiu Israel repetidamente sobre as consequências da desobediência:

“Mas, se não me ouvirdes, e não cumprirdes todos estes mandamentos, e se rejeitardes os meus estatutos, e a vossa alma desprezar os meus juízos, não cumprindo todos os meus mandamentos, para invalidar a minha aliança, então eu também vos farei isto: porei sobre vós terror, a tísica e a febre ardente, que consumam os olhos e atormentem a alma; e semeareis em vão a vossa semente, pois os vossos inimigos a comerão” (Levítico 26:14-16).

Essas advertências mostram que a aliança não era incondicional ou automática, mas dependia da fidelidade de Israel em cumprir sua parte.

A história de Israel está repleta de exemplos de sua falha em guardar a aliança, incluindo a profanação do sábado (Ezequiel 20:13,21). Como resultado, Deus permitiu que fossem levados cativos por nações pagãs e sofressem as consequências de sua desobediência.

Ellen White, porém, retrata o sábado como um mandamento imutável e eterno, independentemente da resposta de Israel:

“Todos os que guardam o sétimo dia, significam por esse ato que são adoradores de Jeová. Assim o sábado é o sinal de submissão do homem a Deus enquanto houver alguém na Terra para servi-Lo” [3].

Essa afirmação ignora a natureza condicional do pacto do sábado e sua dependência da fidelidade de Israel. Ela também estende a aplicação do sábado a toda a humanidade, contrariando seu propósito específico como sinal entre Deus e Israel.

A Nova Aliança e a Obsolescência do Sábado

Com a vinda de Cristo e o estabelecimento da nova aliança, a antiga aliança, incluindo o pacto do sábado, se tornou obsoleta. O autor de Hebreus explica:

“Dizendo: Novo pacto, Ele tornou antiquado o primeiro. Ora, o que se torna antiquado e envelhece está prestes a desaparecer” (Hebreus 8:13).

Essa nova aliança não é baseada na obediência a leis externas, mas na transformação interior pelo Espírito de Deus (Jeremias 31:31-34; Ezequiel 36:26-27). Sob essa nova aliança, a justificação vem pela fé em Cristo, não pelas obras da lei (Romanos 3:20-22; Gálatas 2:16).

O apóstolo Paulo deixa claro que os cristãos não estão mais sob a lei, incluindo o sábado:

“Portanto, ninguém vos julgue pelo comer ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2:16-17).

Ellen White, no entanto, insiste na continuidade da guarda do sábado para os cristãos:

“O concerto antigo terminou na cruz por acaso? Os Dez Mandamentos foram pregados na cruz? Na nova dispensação não precisamos mais observá-los?” [4].

Essas perguntas retóricas sugerem que os Dez Mandamentos, incluindo o sábado, ainda são vinculantes para os cristãos. No entanto, isso contradiz o ensino claro do Novo Testamento sobre a relação entre a lei e a graça, e a liberdade que os crentes têm em Cristo.

Conclusão

As evidências bíblicas demonstram que o sábado era um pacto específico entre Deus e Israel, bilateral em natureza e com validade condicionada à aceitação e cumprimento de ambas as partes. Não era uma instituição universal e eterna, mas um sinal da relação especial entre Deus e Seu povo escolhido.

Com o estabelecimento da nova aliança em Cristo, a antiga aliança, incluindo o pacto do sábado, se tornou obsoleta. Os cristãos não estão mais sob a obrigação de guardar o sábado como um meio de justificação ou santificação.

As afirmações de Ellen White sobre a perpetuidade e universalidade do sábado contradizem o claro ensino das Escrituras. Elas impõem sobre os crentes um jugo que nem mesmo os apóstolos colocaram sobre os gentios convertidos (Atos 15:10).

Como cristãos, nossa verdadeira paz e descanso são encontrados em Cristo, não na observância de um dia específico. Ele nos convida a vir a Ele e encontrar descanso para nossas almas (Mateus 11:28-30). Nele, não há condenação (Romanos 8:1), mas vida e liberdade (João 8:36).

Recursos Adicionais

1. “The Covenantal Context of the Sabbath” – William J. Dumbrell, em “The Sabbath in Jewish and Christian Traditions”, ed. Tamara C. Eskenazi, Daniel J. Harrington e William H. Shea.
2. “The Sabbath and the Mosaic Covenant” – Harold H.P. Dressler, em “From Sabbath to Lord’s Day: A Biblical, Historical and Theological Investigation”, ed. D.A. Carson.
3. “The Sabbath and the New Covenant” – A.T. Lincoln, em “From Sabbath to Lord’s Day: A Biblical, Historical and Theological Investigation”, ed. D.A. Carson.
4. “Sabbath and the New Covenant” – Tom Shepherd, em “Perspectives on the Sabbath: Four Views”, ed. Christopher John Donato.
5. “Sabbath and the New Covenant” – Ekkehardt Mueller, em “The Sabbath in Scripture and History”, ed. Kenneth A. Strand.

Referências:


[1] Êxodo 31:13
[2] Ellen G. White, “Conselhos Sobre o Sábado e o Domingo”, pp. 34-35.
[3] Ellen G. White, “Patriarcas e Profetas”, pp. 307-308.
[4] Ellen G. White, “Sermões Selecionados”, vol. 1, p. 225.

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