Testemunhas Oculares sobre as Visões de Ellen G. White

Introdução

Ellen G. White, uma das principais figuras do movimento Adventista do Sétimo Dia, é conhecida por suas alegadas visões e profecias. Embora a Igreja Adventista do Sétimo Dia considere essas visões como manifestações sobrenaturais do dom profético, um exame minucioso dos relatos de testemunhas oculares levanta sérias questões sobre a natureza e a autenticidade dessas experiências. Este artigo analisa diversos testemunhos de indivíduos que presenciaram as visões de Ellen White, destacando as inconsistências, as explicações alternativas e as implicações desses relatos para a avaliação de seu suposto dom profético.

Relatos de Testemunhas Oculares

1. Testemunho de um “irmão amado” (publicado por James White)
Um dos primeiros relatos sobre as visões de Ellen White foi publicado por seu marido, James White, em 1847. Nesse testemunho, um “irmão amado” expressa suas dúvidas sobre a origem divina das visões, sugerindo que elas poderiam ser apenas “devaneios religiosos” nos quais a imaginação de Ellen White “corre sem controle sobre temas nos quais ela está mais profundamente interessada” (WHITE, 1847, p. 22). Essa interpretação sugere que as visões poderiam ser produto de uma mente absorta em questões religiosas, rather than divinas revelações.

2. Testemunho de Joseph Bates
Joseph Bates, um dos pioneiros do adventismo, inicialmente expressou reservas sobre as visões de Ellen White. Em seu relato, ele admite que, por um longo período, sentiu-se “alarmado e extremamente experimentado”, sendo “relutante em acreditar que era algo mais do que o que foi produzido por um estado prolongado e debilitado de seu corpo” (BATES, 1847, p. 21). A hesitação inicial de Bates em aceitar as visões como sobrenaturais sugere que elas poderiam ter uma explicação natural, possivelmente relacionada à condição física de Ellen White.

3. Testemunho de Isaac Wellcome
Isaac Wellcome, um ministro adventista que conheceu Ellen White no início de seu ministério, fornece um relato detalhado de suas experiências em visão. Ele descreve como ela “cairia no chão” e “falaria com grande veemência e rapidez até cair”, alegando ter “visões maravilhosas do céu” (WELLCOME, 1874). No entanto, Wellcome interpreta essas experiências não como visões genuínas, mas como “ecos da pregação do Elder [Joseph] Turner e outros”, sendo “o produto da imaginação superexcitada de sua mente” (WELLCOME, 1874). Esse testemunho sugere que as visões de Ellen White poderiam ser influenciadas pelo ensinos de outros pregadores e por sua própria imaginação.

4. Testemunho de Lucinda Burdick
Lucinda Burdick, esposa de um pastor, relata um incidente em 1845 no qual Ellen Harmon (nome de solteira de Ellen White) entrou em uma condição de transe durante uma sessão de oração. De acordo com Burdick, Ellen “tornou-se rigidamente prostrada no chão”, com “seus olhos permanecendo abertos e assumindo um olhar vítreo” (BURDICK, 1908). Durante o transe, que durou mais de uma hora, James White fez uma série de perguntas a Ellen sobre a posição espiritual de várias pessoas, às quais ela respondeu, declarando algumas corretas com Deus, enquanto outras tinham “manchas em suas vestes” (BURDICK, 1908). Burdick observa que “as manchadas eram aquelas que rejeitavam suas visões ou hesitavam em aceitá-las plenamente”, sugerindo um possível motivo para essas declarações (BURDICK, 1908). Esse relato levanta questões sobre a objetividade e a confiabilidade das visões de Ellen White.

5. Testemunho Adicional de Lucinda Burdick
Em outro testemunho, Lucinda Burdick fornece mais detalhes sobre seu envolvimento inicial com James White e Ellen Harmon em 1845. Ela descreve seu comportamento excêntrico, como sentar no chão em vez de cadeiras e rastejar como crianças pequenas, considerado um sinal de humildade (BURDICK, 1877). Burdick também afirma que Ellen “muito em breve fingiu ver que o sábado devia ser guardado” e que “suas visões eram algo novo, e parecia não haver oposição decidida a elas nas diferentes igrejas onde viajavam” (BURDICK, 1877). No entanto, Burdick observa que as visões logo começaram a entrar em conflito umas com as outras e que “foi apurado por mim e outros que a viram em visão, que ela poderia se lançar em visão quando escolhesse (isso ela confessou), mas que James White poderia controlá-las e tirá-la quando quisesse” (BURDICK, 1877). Esse testemunho sugere que as visões de Ellen White poderiam ser auto-induzidas e manipuladas por seu marido.

6. Testemunho de Israel Dammon
Israel Dammon, um associado inicial de Ellen White, questionou a consistência de suas visões. Ele lembra que “sua primeira visão ou visões foram contadas tanto por ela mesma quanto por outros (especialmente pela Sra. W.) em conexão com a pregação da ‘porta fechada’” (DAMMON, 1877). Dammon relata que, enquanto em visão, Ellen viu a ele e a N. G. Reed “no reino em um estado imortal e coroado”, mas depois os viu “finalmente perdidos” (DAMMON, 1877). Ele conclui: “Como poderiam ambos ser verdadeiros? Eu acho que um era tão verdadeiro quanto o outro, e que Deus nunca lhe disse tal coisa” (DAMMON, 1877). Esse testemunho destaca as inconsistências nas visões de Ellen White e levanta dúvidas sobre sua origem divina.

7. Testemunho de H. S. Dille
H. S. Dille, um editor adventista, comparou as visões de Ellen White aos fenômenos experimentados por A. J. Davis, um místico contemporâneo. Dille conclui que “suas visões nada mais são do que êxtases espontâneos, que é o mais alto estado de clarividência” (DILLE, 1864, p. 4). Ele aconselha uma investigação cuidadosa das doutrinas de Ellen White, mas alerta para ser “muito cauteloso em se deixar mesmerizar” (DILLE, 1864, p. 4). Essa análise sugere que as visões de Ellen White podem ser explicadas como estados alterados de consciência, rather than comunicações divinas.

8. Testemunho do Dr. M. G. Kellogg
O Dr. M. G. Kellogg, um médico que testemunhou várias visões de Ellen White entre 1852 e 1859, oferece uma perspectiva médica sobre suas experiências. Ele afirma que “em cada instância ela estava simplesmente em um estado de catalepsia”, com “cada função vital reduzida ao ponto mais baixo compatível com a vida” (KELLOGG, 1906). Kellogg descreve seus sintomas, incluindo pulso quase parado, respiração imperceptível, pupilas dilatadas e sentidos embotados, concluindo que “ela estava totalmente inconsciente, mas sua mente estava intensamente ativa, a ação sendo automática e totalmente involuntária” (KELLOGG, 1906). Ele atribui as visões a “um ensaio mental conglomerado de concepções, cenas, meditações e sugestões anteriores tão vividamente reproduzidas em sua mente a ponto de serem para ela uma realidade viva” (KELLOGG, 1906). Esse testemunho fornece uma explicação médica plausível para as visões de Ellen White, sugerindo que elas podem ser o resultado de um estado catatônico, em vez de revelações sobrenaturais.

Admissões de Ellen White sobre Dúvidas de Testemunhas Oculares

A própria Ellen White reconheceu que “muitos” que testemunharam suas visões sentiram que estavam presenciando nada mais do que fanatismo ou mesmerismo. Ela escreve: “…se agradasse ao Senhor me dar uma visão na reunião, alguns diriam que era o efeito da excitação e do mesmerismo” (WHITE, 1855, p. 71). Em outro lugar, ela observa: “Se eu tivesse uma visão na reunião, muitos diriam que era excitação e que alguém me mesmerizou” (WHITE, 1882, p. 21). Essas admissões sugerem que as dúvidas sobre a autenticidade de suas visões eram generalizadas, mesmo entre aqueles que as testemunharam em primeira mão.

Explicações Alternativas para as Visões de Ellen White

Alguns defenderam que, enquanto em visão, Ellen White realizava feitos sobrenaturais, como não respirar por uma hora. No entanto, respiração superficial e quase imperceptível é um sintoma de uma condição médica conhecida como catalepsia, e o Dr. M. G. Kellogg a diagnosticou com essa condição (KELLOGG, 1906). A catalepsia é caracterizada por “inatividade, diminuição da responsividade a estímulos e uma tendência a manter uma postura imóvel”, com “os sinais vitais da pessoa, como respiração e batimentos cardíacos, caindo para níveis muito baixos, de modo que são quase indetectáveis, mesmo por médicos” (DODGSON, 2018). Dado esse entendimento médico, não há razão para assumir uma explicação sobrenatural para as manifestações de Ellen White em visão quando existem outras explicações razoáveis.

Conclusão

Os relatos de testemunhas oculares das visões de Ellen G. White levantam sérias questões sobre a natureza e a autenticidade de suas experiências. Embora a Igreja Adventista do Sétimo Dia considere essas visões como manifestações genuínas do dom profético, os testemunhos apresentados neste artigo sugerem explicações alternativas, como devaneios religiosos, imaginação superexcitada, influência de pregações, auto-indução, inconsistências, estados alterados de consciência e catalepsia. As próprias admissões de Ellen White sobre as dúvidas generalizadas entre as testemunhas oculares reforçam a necessidade de um exame crítico de suas alegações.

Como cristãos, somos chamados a “testar os espíritos para ver se eles procedem de Deus” (1 JOÃO 4:1) e a basear nossa fé nas claras revelações da Palavra de Deus, em vez de em experiências subjetivas ou manifestações extrabíblicas. Embora Ellen White possa ter sido sincera em suas crenças, a evidência apresentada neste artigo sugere que suas visões podem não ter sido de origem divina. Portanto, devemos exercer discernimento e cautela ao avaliar suas alegações proféticas, sempre permitindo que a Bíblia, como a infalível revelação de Deus, seja nosso guia supremo e autoridade em todas as questões de fé e prática.

Referências:


  • WHITE, J. (1847). A Word to the Little Flock. p. 22.
  • BATES, J. (1847). A Word to the Little Flock. p. 21.
  • WELLCOME, I. (1874). History of the Second Advent Message. Adventist and Sabbath Advocate.
  • BURDICK, L. (1908). Letter to the Editor. September 26, 1908.
  • BURDICK, L. (1877). Quoted in An Examination of Mrs. Ellen White’s Visions. Boston: Advent Christian Publication Society.
  • DAMMON, I. (1877). Quoted in An Examination of Mrs. Ellen White’s Visions. Boston: Advent Christian Publication Society.
  • DILLE, H. S. (1864). Mesmerized. Hope of Israel, 1(10), p. 4.
  • KELLOGG, M. G. (1906). Letter to J. H. Kellogg. June 3, 1906.
  • WHITE, E. G. (1855). Testimonies, Vol. 1. p. 71.
  • WHITE, E. G. (1882). Early Writings. p. 21.
  • DODGSON, L. (2018). There’s a condition that makes people think you’re dead when you’re not — and it could explain why three doctors sent a living man to the morgue. Business Insider. https://www.businessinsider.com/catalepsy-is-a-condition-that-makes-you-look-like-you-are-dead-2018-1.
  • BÍBLIA. Tradução de João Ferreira de Almeida. 1 João 4:1.

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