Introdução
Os Valdenses, um grupo de cristãos que surgiu no final do século XII, têm sido objeto de muitos mitos e equívocos ao longo dos séculos, particularmente no que diz respeito à guarda do sábado. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, através dos escritos de Ellen G. White, tem sido uma das principais perpetuadoras dessa visão distorcida. Em “O Grande Conflito”, White retrata os Valdenses como uma “igreja verdadeira” perseguida por guardar o sábado do sétimo dia[1]. Essa narrativa se tornou fundamental para a identidade Adventista, posicionando-se como herdeira final de uma linhagem de guardadores do sábado[2].
No entanto, uma análise cuidadosa das evidências históricas, incluindo as confissões de fé e escritos dos próprios Valdenses, pinta um quadro muito diferente. Longe de serem guardadores do sábado, os Valdenses observavam o domingo e mantinham uma compreensão Reformada da lei e da justificação, em desacordo com as doutrinas Adventistas[3]. Além disso, os Valdenses não foram extintos, mas continuam como uma igreja Protestante, rejeitando a interpretação Adventista de sua história[4].
Neste artigo, examinaremos as alegações Adventistas sobre os Valdenses à luz da erudição histórica e das fontes primárias, demonstrando que a narrativa Adventista é baseada em erros, suposições infundadas e uma leitura seletiva das evidências. Argumentaremos que os Adventistas precisam deixar de reescrever a história para atender à sua agenda teológica e engajar-se honestamente com o registro histórico[5].
Os Erros da Interpretação Adventista
A interpretação Adventista dos Valdenses como observadores do sábado baseia-se principalmente nos escritos de Ellen G. White, que carecem de fundamento histórico sólido e se baseiam em erros e suposições equivocadas. Um dos principais erros de White foi sua dependência de fontes não confiáveis, como a obra de J.N. Andrews, “History of the Sabbath”, que traduziu erroneamente “dies dominicus” (Dia do Senhor) como sábado do sétimo dia[6].
O historiador Adventista Samuele Bacchiocchi admitiu não encontrar nenhuma evidência para apoiar a observância do sábado entre os Valdenses[7]. No entanto, muitos Adventistas continuam a repetir as alegações infundadas de White.
A interpretação Adventista também ignora as complexidades e diversidades dentro do movimento Valdense e falha em considerar o contexto histórico mais amplo em que surgiram[8]. Eles faziam parte de um padrão de movimentos de reforma leiga na Idade Média, buscando uma espiritualidade mais pessoal e bíblica, mas não rejeitando todas as doutrinas católicas[9].
Talvez o erro mais flagrante seja retratar os Valdenses como extintos, permitindo que os Adventistas reivindiquem seu manto sem engajar-se com suas crenças e práticas reais[10]. Na realidade, os Valdenses continuam como uma igreja Protestante ativa, rejeitando a caracterização Adventista de sua história[11].
As Próprias Confissões de Fé dos Valdenses
Para entender verdadeiramente as crenças e práticas dos Valdenses, devemos nos voltar para suas próprias confissões de fé e documentos históricos, que fornecem uma janela direta para sua teologia, livre das distorções de intérpretes posteriores como Ellen White.
A Confissão de Fé Valdense de 1655, formulada após a brutal perseguição da “Páscoa Piemontesa”, está firmemente alinhada com a teologia Reformada, especialmente em sua compreensão da justificação somente pela fé[12]. Ela rejeita explicitamente a ideia de que os crentes podem merecer a salvação por boas obras, uma doutrina-chave no sistema teológico Adventista[13].
Essa compreensão da justificação contrasta com a doutrina Adventista de justificação pela fé mais obras[14]. Os Valdenses descansavam somente na obediência perfeita de Cristo imputada aos crentes, não em sua própria obediência[15].
Outro ponto de divergência é o papel da lei de Deus. Para os Adventistas, a obediência contínua à lei moral, especialmente ao sábado, é necessária para a salvação[16]. Os Valdenses, por outro lado, mantinham uma visão Reformada da lei como um guia para a vida cristã, não como um meio de justificação[17].
A Confissão Valdense aborda especificamente a questão das ordenanças cerimoniais, incluindo o sábado, declarando que elas “chegaram ao fim com o advento de Jesus Cristo” e “não estão mais em uso”[18]. Isso refuta diretamente a alegação de Ellen White de que os Valdenses guardavam o sábado do sétimo dia.
Os próprios Valdenses rejeitam veementemente a caracterização Adventista de suas crenças e história. Em uma declaração oficial, a Igreja Valdense afirmou: “Os Valdenses nunca observaram o sábado do sétimo dia, nem os consideraram guardiões do sábado.” Eles descrevem as alegações de White como “uma reconstrução da identidade Valdense totalmente infundada.”[19]
Os Valdenses e Sua Relação com a Lei (Decálogo)
A compreensão dos Valdenses sobre o papel da lei de Deus diferia significativamente da doutrina Adventista. Enquanto os Adventistas enfatizam a obediência contínua à lei moral, especialmente ao sábado, como necessária para a salvação[20], os Valdenses mantinham uma visão mais alinhada com a teologia Reformada.
Para os Valdenses, a lei era principalmente um guia para a vida cristã, não um meio de justificação diante de Deus. Sua Confissão de Fé de 1655 afirma: “Reconhecemos que os dez mandamentos são uma regra de nossa vida e desejos, que Deus nos conceda graça para observá-los perfeitamente. Mas não cremos, como alguns nos acusam falsamente, que a observância deles mereça o perdão dos pecados”[21].
Essa declaração reflete a doutrina Protestante clássica da justificação somente pela fé, independente das obras da lei[22]. Os Valdenses acreditavam que a salvação é um dom gratuito de Deus, recebido pela fé na obra redentora de Cristo, não algo merecido pela obediência[23].
A Confissão Valdense também aborda as ordenanças cerimoniais da lei mosaica, incluindo o sábado, declarando que elas “chegaram ao fim com o advento de Jesus Cristo”, embora “a verdade e a substância delas permanecem em nós, em Quem elas têm sua completude”[24].
Essa visão reflete a teologia Reformada da lei, distinguindo entre os aspectos morais, cerimoniais e civis da lei mosaica[25]. Enquanto os princípios morais são vistos como eternos, as expressões específicas nas ordenanças cerimoniais são entendidas como tipos e sombras apontando para Cristo[26].
Portanto, para os Valdenses, a observância literal do sábado do sétimo dia não era uma parte necessária da obediência cristã. Eles entendiam o princípio do sábado como encontrando seu verdadeiro significado no descanso espiritual que os crentes têm em Cristo, não na observância de um dia específico[27].
Essa compreensão Valdense da lei e do sábado está em nítido contraste com os ensinos Adventistas[28]. Reconhecer essa diferença fundamental é crucial para entender os Valdenses em seus próprios termos, em vez de através da lente da doutrina Adventista[29].
Conclusão
Ao examinar as alegações Adventistas sobre os Valdenses à luz das evidências históricas, fica claro que a narrativa apresentada por Ellen White e seus seguidores é profundamente falha. Longe de serem observadores do sábado e proto-Adventistas, os Valdenses eram Cristãos Reformados que subscreviam doutrinas como sola fide, sola gratia e sola scriptura[30].
As próprias confissões de fé e escritos dos Valdenses revelam um povo comprometido com a suficiência da obra redentora de Cristo, justificação somente pela fé e a autoridade das Escrituras[31]. Eles não compartilhavam a ênfase Adventista na observância do sábado como um teste de lealdade a Deus ou um sinal de Sua igreja verdadeira[32].
A insistência Adventista em retratar os Valdenses como guardiões de uma suposta verdade do sábado revela mais sobre as pressuposições teológicas Adventistas do que sobre a realidade histórica[33]. Ao projetar suas próprias doutrinas sobre os Valdenses, os Adventistas distorcem o registro histórico e fazem apropriação indevida de seu legado[34].
Mais problemático ainda é o fato de que os Valdenses não são uma relíquia extinta, mas uma comunidade viva de fé que rejeita a caracterização Adventista de suas crenças e práticas[35].
Para os Adventistas engajarem honestamente com sua própria história e com a história mais ampla da igreja, eles devem abandonar mitos confortáveis e narrativas tendenciosas[36]. Isso exige um estudo rigoroso e imparcial das fontes primárias, permitindo que os Valdenses falem por si mesmos[37].
Somente através de tal honestidade intelectual e histórica os Adventistas podem esperar entender seu próprio lugar na história Cristã e se envolver em um diálogo significativo com outras tradições[38]. Reconhecer os erros na interpretação Adventista dos Valdenses seria um primeiro passo importante nessa direção[39].
Referências (1):
[1] WHITE, Ellen G. O Grande Conflito. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007, p. 97.
[2] WILSON, Ted; WILSON, Nancy. Os Valdenses: Fiéis a Deus. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FzVsn5S5rjk>. Acesso em: 15 mai. 2023.
[3] AUDISIO, Gabriel. The Waldensian Dissent: Persecution and Survival, c.1170-c.1570. Cambridge: Cambridge University Press, 1999, p. 162.
[4] CHIESA EVANGELICA VALDESE. Resposta à Igreja Adventista do Sétimo Dia (Tradução livre). Disponível em: <https://www.chiesavaldese.org/aria_press.php?ref=12>. Acesso em: 15 mai. 2023.
[5] SPALDING, Arthur Whitefield. Captains of the Host: First Volume of a History of Seventh-Day Adventists Covering the Years 1845-1900. Washington, D.C.: Review and Herald, 1949, p. 645.
[6] ANDREWS, John Nevins. History of the Sabbath and First Day of the Week. Battle Creek: Steam Press of the Seventh-day Adventist Publishing Association, 1873, p. 410-411.
[7] BACCHIOCCHI, Samuele. The Sabbath Under Crossfire: A Biblical Analysis Of Recent Sabbath/Sunday Developments. Berrien Springs: Biblical Perspectives, 1998, p. 246.
[8] CAMERON, Euan. Waldenses: Rejections of Holy Church in Medieval Europe. Oxford: Blackwell Publishers, 2000, p. 2-3.
[9] WAKEFIELD, Walter L.; EVANS, Austin P. Heresies of the High Middle Ages. New York: Columbia University Press, 1991, p. 200-202.
[10] TOURN, Giorgio. You Are My Witnesses: The Waldensians Across 800 Years. Torino: Claudiana, 1989, p. 180.
[11] CHIESA EVANGELICA VALDESE. Declaração da Igreja Valdense Sobre os Adventistas do Sétimo Dia (Tradução livre). Disponível em: <https://www.chiesavaldese.org/documents/archivio/dichiarazione_avventisti.pdf>. Acesso em: 15 mai. 2023.
[12] GAY, Teofilo. Confessione Di Fede: Delle Chiese Riformate Del Piemonte (1655). Turim: Claudiana, 1981.
[13] Ibid., Artigo 22.
[14] WHITE, Ellen G. The Signs of the Times, 24 de julho de 1901.
[15] GAY, op. cit., Artigo 22.
[16] WHITE, Ellen G. Steps to Christ. Mountain View: Pacific Press, 1892, p. 62.
[17] GAY, op. cit., Artigo 11.
[18] Ibid., Artigo 23.
[19] CHIESA EVANGELICA VALDESE. Resposta à Igreja Adventista do Sétimo Dia (Tradução livre). Disponível em: <https://www.chiesavaldese.org/aria_press.php?ref=12>. Acesso em: 15 mai. 2023.
[20] WHITE, Ellen G. The Great Controversy. Mountain View: Pacific Press, 1911, p. 65-66.
[21] GAY, op. cit., Artigo 11.
[22] MCGRATH, Alister E. Iustitia Dei: A History of the Christian Doctrine of Justification. Cambridge: Cambridge University Press, 2005, p. 208-209.
[23] HORTON, Michael S. Justification. Grand Rapids: Zondervan, 2011, p. 70.
[24] GAY, op. cit., Artigo 23.
[25] CALVIN, John. Institutes of the Christian Religion. Edited by John T. McNeill. Translated by Ford Lewis Battles. Philadelphia: Westminster Press, 1960, 2.7.1.
[26] Ibid., 2.7.16.
[27] CARSON, D.A. From Sabbath to Lord’s Day: A Biblical, Historical and Theological Investigation. Grand Rapids: Zondervan, 1982, p. 392-393.
[28] CANALE, Fernando. The Cognitive Principle of Christian Theology: A Hermeneutical Study of the Revelation and Inspiration of the Bible. Berrien Springs: Andrews University Lithothec, 2005, p. 338-339.
[29] BAUCKHAM, Richard. Tudor Apocalypse: Sixteenth Century Apocalypticism, Millennarianism, and the English Reformation. Oxford: Sutton Courtenay Press, 1978, p. 211-212.
[30] MCGRATH, Alister E. Reformation Thought: An Introduction. Oxford: Blackwell Publishers, 1999, p. 101-102.
[31] GONNET, Giovanni. Enchiridion fontium valdensium: recueil critique des sources concernant les vaudois au moyen âge : du IIIe Concile de Latran au Synode de Chanforan (1179-1532). Torre Pellice: Claudiana, 1958.
[32] DAVIS, Thomas J. This Is My Body: The Presence of Christ in Reformation Thought. Grand Rapids: Baker Academic, 2008, p. 64.
[33] WILLIAMS, George Huntston. The Radical Reformation. Kirksville: Truman State University Press, 2000, p. 257.
[34] WRIGHT, David F., editor. Martin Bucer: Reforming Church and Community. Cambridge
Por Quê Não Devemos Confiar na Narrativa Adventista
1. Dependência dos escritos de Ellen G. White
– White retrata os Valdenses como guardadores do sábado em “O Grande Conflito”[1] – Adventistas consideram os escritos de White como divinamente inspirados[2]
2. Uso de fontes históricas não confiáveis
– J.N. Andrews traduziu erroneamente “dies dominicus” como sábado em “History of the Sabbath”[3] – White repetiu esse erro em suas obras[4]
3. Falta de evidências históricas para a guarda do sábado pelos Valdenses
– O historiador Adventista Samuele Bacchiocchi admitiu não encontrar evidências[5] – As confissões de fé Valdenses não mencionam a guarda do sábado[6]
4. Ignorar a complexidade e diversidade do movimento Valdense
– Diferentes grupos e crenças existiam dentro do movimento[7] – Muitos Valdenses buscavam reforma dentro da Igreja Católica, não separação[8]
5. Falha em considerar o contexto histórico mais amplo
– Os Valdenses faziam parte de um padrão de movimentos de reforma leiga na Idade Média[9] – Esses grupos não rejeitavam todas as doutrinas e práticas católicas[10]
6. Retratar os Valdenses como extintos para evitar engajamento com suas crenças reais
– White implica que os Valdenses desapareceram da história[11] – Na realidade, os Valdenses continuam como uma igreja Protestante ativa[12]
7. Projetar doutrinas Adventistas sobre os Valdenses
– Adventistas enfatizam a guarda do sábado como necessária para a salvação[13] – Valdenses mantinham uma visão Reformada da lei como guia, não meio de justificação[14]
8. Ignorar as próprias declarações dos Valdenses sobre suas crenças
– A Igreja Valdense afirma nunca ter observado o sábado do sétimo dia[15] – Eles rejeitam a caracterização Adventista de sua história como infundada[16]
9. Reescrever a história para atender à agenda teológica Adventista
– A narrativa Adventista posiciona sua denominação como herdeira final dos Valdenses[17] – Isso requer distorcer o registro histórico e apropriar-se indevidamente do legado Valdense[18]
10. Relutância em engajar-se honestamente com a erudição histórica
– Adventistas devem estudar rigorosamente as fontes primárias[19] – Permitir que os Valdenses falem por si mesmos, em vez de serem cooptados para servir agendas teológicas[20]
Referências (2):
[1] WHITE, Ellen G. O Grande Conflito. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007, p. 97.
[2] KNIGHT, George R. Ellen White’s World: A Fascinating Look at the Times in Which She Lived. Hagerstown: Review and Herald, 1998, p. 183.
[3] ANDREWS, John Nevins. History of the Sabbath and First Day of the Week. Battle Creek: Steam Press of the Seventh-day Adventist Publishing Association, 1873, p. 410-411.
[4] WHITE, Ellen G. The Great Controversy. Mountain View: Pacific Press, 1911, p. 65.
[5] BACCHIOCCHI, Samuele. The Sabbath Under Crossfire: A Biblical Analysis Of Recent Sabbath/Sunday Developments. Berrien Springs: Biblical Perspectives, 1998, p. 246.
[6] GAY, Teofilo. Confessione Di Fede: Delle Chiese Riformate Del Piemonte (1655). Turim: Claudiana, 1981.
[7] AUDISIO, Gabriel. The Waldensian Dissent: Persecution and Survival, c.1170-c.1570. Cambridge: Cambridge University Press, 1999, p. 9-10.
[8] CAMERON, Euan. Waldenses: Rejections of Holy Church in Medieval Europe. Oxford: Blackwell Publishers, 2000, p. 2-3.
[9] WAKEFIELD, Walter L.; EVANS, Austin P. Heresies of the High Middle Ages. New York: Columbia University Press, 1991, p. 200-202.
[10] LAMBERT, Malcolm. Medieval Heresy: Popular Movements from the Gregorian Reform to the Reformation. Oxford: Blackwell Publishers, 2002, p. 70-71.
[11] WHITE, Ellen G. The Spirit of Prophecy, Vol. 4. Battle Creek: Steam Press of the Seventh-day Adventist Publishing Association, 1884, p. 93-94.
[12] TOURN, Giorgio. You Are My Witnesses: The Waldensians Across 800 Years. Torino: Claudiana, 1989, p. 180.
[13] DAMSTEEGT, P. Gerard. Foundations of the Seventh-day Adventist Message and Mission. Grand Rapids: Eerdmans, 1977, p. 136-137.
[14] GAY, Teofilo. Confessione Di Fede: Delle Chiese Riformate Del Piemonte (1655). Turim: Claudiana, 1981, Artigo 11.
[15] CHIESA EVANGELICA VALDESE. Resposta à Igreja Adventista do Sétimo Dia (Tradução livre). Disponível em: <https://www.chiesavaldese.org/aria_press.php?ref=12>. Acesso em: 15 mai. 2023.
[16] Ibid.
[17] SPALDING, Arthur Whitefield. Captains of the Host: First Volume of a History of Seventh-Day Adventists Covering the Years 1845-1900. Washington, D.C.: Review and Herald, 1949, p. 645.
[18] OLSEN, M. Ellsworth. A History of the Origin and Progress of Seventh-Day Adventists. Washington, D.C.: Review and Herald, 1925, p. 117-118.
[19] MCGRATH, Alister E. Historical Theology: An Introduction to the History of Christian Thought. Oxford: Blackwell Publishers, 1998, p. 9.
[20] GONNET, Giovanni. Enchiridion fontium valdensium: recueil critique des sources concernant les vaudois au moyen âge : du IIIe Concile de Latran au Synode de Chanforan (1179-1532). Torre Pellice: Claudiana, 1958.
Os Valdenses e a Guarda do Domingo
Contrariamente às alegações Adventistas, as evidências históricas e contemporâneas demonstram de forma conclusiva que os Valdenses observavam o domingo, não o sábado, como seu dia de descanso e adoração.
Evidências históricas:
1. A Confissão de Fé Valdense de 1655, um documento fundamental que articula suas crenças, afirma que as ordenanças cerimoniais, incluindo o sábado, “chegaram ao fim com o advento de Jesus Cristo” e “não estão mais em uso”[1].
2. O historiador Waldensian Giorgio Tourn, em seu livro “You Are My Witnesses: The Waldensians Across 800 Years”, esclarece: “I Valdesi non hanno mai osservato il sabato come giorno di riposo e di culto” (“Os Valdenses nunca observaram o sábado como dia de descanso e adoração”)[2].
3. O relato de um inquisidor católico do século 13, conhecido como “Colui che scrive” (“O que escreve”), menciona os Valdenses observando o “dies dominicus” (dia do Senhor, ou seja, domingo), não o sábado[3].
4. O reformador Valdense Girolamo Miolo, em seu tratado “Antichrist”, escrito por volta de 1587, afirma que os fiéis devem “observar o dia do Senhor… não com a ociosidade e diversão judaica, mas com a contemplação piedosa das obras de Deus”[4].
Evidências contemporâneas:
5. A atual Declaração de Fé da Igreja Valdense, revisada e aprovada pelo Sínodo em 1971, declara: “Noi crediamo che il culto si debba rendere a Dio la domenica e, se possibile, anche negli altri giorni della settimana” (“Cremos que a adoração deve ser dada a Deus no domingo e, se possível, também nos outros dias da semana”)[5].
6. A Tavola Valdese (Mesa Valdense), o corpo administrativo da igreja, emitiu uma declaração oficial em resposta às alegações Adventistas: “I Valdesi non hanno mai osservato il sabato biblico, né si sono mai considerati i custodi del sabato” (“Os Valdenses nunca observaram o sábado bíblico, nem jamais se consideraram os guardiões do sábado”)[6].
7. As igrejas Valdenses em toda a Itália realizam cultos regulares no domingo, seguindo o calendário litúrgico cristão comum[7].
Essas evidências históricas e contemporâneas refutam definitivamente a afirmação de que os Valdenses observavam ou observam atualmente o sábado do sétimo dia. Sua consistente observância do domingo, como atestam suas próprias confissões de fé, registros históricos e práticas atuais, demonstra que eles estavam firmemente alinhados com o cristianismo dominante nesta questão, não com as doutrinas distintivas Adventistas.
Referências (3):
[1] GAY, Teofilo. Confessione Di Fede: Delle Chiese Riformate Del Piemonte (1655). Turim: Claudiana, 1981, Artigo 23.
[2] TOURN, Giorgio. Dai Valdesi ai Protestanti. Turim: Claudiana, 1997, p. 38.
[3] LECLERC, Georges. (pseudo. Johannes Trechsel). Die Protestantische Antitrinitarier vor Faustus Socin. Erster Buch: Michael Servet und seine Vorgänger. Heidelberg: Karl Winter, 1839, p. 82.
[4] MIOLO, Girolamo. Trattato Dell’Anticristo. Genebra: Pietro Jacomello, 1587, p. 94-95.
[5] CHIESA EVANGELICA VALDESE. Dichiarazione di Fede della Chiesa Evangelica Valdese (1971). Disponível em: <https://www.chiesavaldese.org/documents/archivio/dichiarazione_1971.pdf>. Acesso em: 15 mai. 2023.
[6] TAVOLA VALDESE. Dichiarazione della Tavola Valdese: I Valdesi e gli Avventisti del 7° Giorno. Disponível em: <https://www.chiesavaldese.org/aria_press.php?ref=12>. Acesso em: 15 mai. 2023.
[7] BALLOR, Jordan J. Il duplice ruolo dei Valdesi e il futuro della democrazia italiana. Turim: Centro Culturale Valdese, 2014, p. 25.