Introdução
A Igreja Adventista do Sétimo Dia, apesar de sua unidade institucional, abriga uma notável diversidade de perspectivas teológicas e práticas entre seus membros. Essa variedade de abordagens da fé adventista pode ser categorizada em quatro grupos distintos: Adventistas Fundamentalistas, Adventistas Institucionalistas, Adventistas Contemporâneos e Adventistas Progressistas. Cada grupo se relaciona de maneira única com as doutrinas oficiais da denominação, bem como com os escritos de Ellen G. White, uma das fundadoras do movimento. Este artigo explora as características definidoras de cada grupo, suas atitudes em relação a questões práticas e doutrinárias, e as implicações dessa diversidade para a identidade e missão da igreja.
Adventistas Fundamentalistas
Os Adventistas Fundamentalistas se apegam a uma interpretação literal da Bíblia e dos escritos de Ellen White. Eles consideram White como a última mensageira de Deus antes da segunda vinda de Cristo e atribuem a seus escritos uma autoridade canônica, semelhante à das Escrituras. Para os fundamentalistas, a Igreja Adventista do Sétimo Dia é o remanescente fiel, a única igreja verdadeira, enquanto todas as outras denominações representam a “Babilônia” mencionada no Apocalipse.
Esse grupo enfatiza fortemente a guarda do sábado como o selo de Deus e um fator determinante para a salvação. Eles acreditam que a salvação é impossível sem a observância estrita dos Dez Mandamentos e antecipam que católicos e protestantes perseguirão os adventistas no tempo do fim devido à questão do sábado.
Os Adventistas Fundamentalistas geralmente adotam um estilo de vida estrito, que inclui vegetarianismo ou veganismo, abstenção de frutos do mar, refrigerantes, café e bebidas alcoólicas. Eles também evitam cozinhar do pôr do sol de sexta-feira até o pôr do sol de sábado.
Em questões de adoração e prática da igreja, os fundamentalistas se opõem veementemente a qualquer desvio das normas tradicionais, como mulheres usando calças ou joias na igreja. Um líder fundamentalista provavelmente proibiria uma mulher de liderar o louvor ou participar de atividades na igreja se ela se vestisse dessa maneira, possivelmente até disciplinando-a ou removendo-a de suas funções.
Adventistas Institucionalistas
Os Adventistas Institucionalistas são indivíduos intimamente ligados à estrutura organizacional da igreja, muitas vezes por laços profissionais ou familiares. Esse grupo inclui pastores, obreiros, colportores, secretários, professores, médicos, enfermeiros e outros que dependem da igreja para seu sustento.
A principal preocupação dos institucionalistas é defender e preservar a organização a todo custo. Eles reconhecem o poder e a influência da igreja mundial e buscam proteger sua imagem e promover seu crescimento.
Ao lidar com questões controversas, como a adequação de certas roupas e adornos para adoração, os líderes institucionalistas tendem a se alinhar com a vontade da maioria em suas congregações. Se a maioria não se opõe a práticas não tradicionais, os institucionalistas provavelmente as tolerarão para evitar conflitos e divisões que possam prejudicar a igreja. No entanto, se a maioria se opuser, os líderes institucionalistas provavelmente seguirão o consenso para preservar a unidade e a força da organização.
Adventistas Contemporâneos
Os Adventistas Contemporâneos, que podem constituir a maioria dos membros da igreja no Brasil, adotam uma abordagem mais seletiva das doutrinas adventistas. Eles abraçam crenças que ressoam com eles, como a salvação pela graça, enquanto desconsideram ou minimizam doutrinas que consideram menos relevantes, como o juízo investigativo ou as profecias relacionadas à imposição futura da guarda do domingo.
Esse grupo aprecia muitos aspectos da vida e da comunidade adventista, como a ênfase nos valores familiares e os benefícios do descanso sabático. No entanto, eles não veem a guarda do sábado como um requisito para a salvação.
Os contemporâneos raramente baseiam suas decisões nos escritos de Ellen White, preferindo se concentrar em seu relacionamento pessoal com Cristo. Eles são mais tolerantes com diversas expressões de adoração e não consideram roupas ou joias como barreiras à participação na igreja.
Em vez de reivindicar um status espiritual exclusivo, os Adventistas Contemporâneos acreditam que Deus oferece salvação a pessoas de todas as origens e que o adventismo é apenas uma forma de viver a fé cristã.
Adventistas Progressistas
Os Adventistas Progressistas, também conhecidos como liberais, buscam alcançar e se conectar com uma ampla gama de pessoas, muitas vezes por meio de iniciativas sociais, artísticas e culturais fora das estruturas tradicionais da igreja.
Esse grupo se envolve com segmentos da sociedade que podem se sentir excluídos das congregações adventistas convencionais, como a comunidade LGBTQ+, moradores de rua, usuários de drogas e pessoas com estilos de vida não convencionais.
Os progressistas valorizam aspectos do adventismo, mas não se prendem a doutrinas que possam restringir sua capacidade de viver uma espiritualidade aberta e inclusiva. Eles priorizam a justiça social e a responsabilidade ambiental, e muitas vezes servem como pontes entre a igreja e a sociedade em geral.
Para os Adventistas Progressistas, questões como roupas e joias são irrelevantes para a adoração autêntica. Eles abraçam a diversidade cultural e se sentem à vontade para adorar com pessoas de diferentes origens e tradições.
Conclusão
A presença desses quatro grupos distintos dentro da Igreja Adventista do Sétimo Dia reflete a complexa realidade da diversidade teológica e prática na denominação. Embora unidos por uma identidade institucional compartilhada, os adventistas se relacionam com suas crenças e o legado de Ellen White de maneiras variadas e muitas vezes divergentes.
Essa diversidade apresenta desafios significativos para a igreja, pois ela se esforça para manter a unidade e a coerência doutrinárias em face de diferentes interpretações e ênfases. Ao mesmo tempo, essa pluralidade interna também pode ser vista como uma oportunidade para a igreja abraçar uma compreensão mais nuançada e inclusiva de sua missão e mensagem.
Reconhecer e valorizar a presença desses quatro tipos de adventistas pode ajudar a igreja a desenvolver estratégias mais eficazes para atender às necessidades espirituais de seus membros diversos e para se envolver de maneira mais significativa com o mundo ao seu redor. Ao abraçar sua diversidade interna, a Igreja Adventista do Sétimo Dia pode se tornar uma comunidade de fé mais vibrante, relevante e fiel à sua chamada de revelar o amor e a graça de Cristo a todos.
Referências:
- – Knight, G. R. (2000). A Search for Identity: The Development of Seventh-day Adventist Beliefs. Review and Herald Publishing Association.
- – Bull, M., & Lockhart, K. (2007). Seeking a Sanctuary: Seventh-day Adventism and the American Dream. Indiana University Press.
- – Paulien, J. (1993). Present Truth in the Real World: The Adventist Struggle to Keep and Share Faith in a Secular Society. Pacific Press Publishing Association.
- – Pearson, M. (1990). Millennial Dreams and Moral Dilemmas: Seventh-day Adventism and Contemporary Ethics. Cambridge University Press.