Introdução:
Você já se perguntou se os “mandamentos de Deus” mencionados no Novo Testamento se referem especificamente aos Dez Mandamentos, incluindo o sábado do sétimo dia? Os Adventistas do Sétimo Dia frequentemente citam versículos como Mateus 5:17-19, João 14:15 e Apocalipse 12:17 para argumentar que os cristãos são obrigados a guardar o sábado. No entanto, uma análise cuidadosa dessas passagens em seu contexto original revela uma imagem mais nuançada.
Nesta série de estudos, examinaremos nove passagens-chave do Novo Testamento que mencionam a obediência aos mandamentos de Deus. Para cada versículo, consideraremos a língua original, o contexto, as razões pelas quais Jesus ou João não estavam se referindo exclusivamente aos Dez Mandamentos, as interpretações Adventistas e a interpretação correta baseada em uma exegese sólida.
O que descobriremos é que, embora essas passagens certamente enfatizem a importância da obediência fiel a Deus, elas não exigem a observância do sábado do sétimo dia para os cristãos. Em vez disso, elas apontam para uma obediência que flui de um relacionamento de amor com Deus e uma fidelidade inabalável a Jesus Cristo, mesmo em face de provações e perseguições.
Então, quer você seja um Adventista do Sétimo Dia com perguntas sinceras ou um cristão de outra tradição buscando entender melhor essas passagens, junte-se a nós nesta jornada de descoberta bíblica. Com uma mente aberta e um coração disposto a seguir a verdade onde quer que ela leve, vamos nos aprofundar na riqueza e complexidade da Palavra de Deus.
1. Mateus 5:17-19
“Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus.”
Audiência: Judeus, principalmente da região da Galileia, ouvindo o Sermão do Monte.
A) Língua original: Grego Koiné, a língua comum do Novo Testamento.
B) Tradução e contexto: No verso 19, a palavra grega usada para “mandamentos” é ἐντολῶν (entolōn), o plural de ἐντολή (entolē). Esta palavra pode se referir a comandos, ordens ou instruções em geral, não necessariamente aos Dez Mandamentos específicos. No contexto do Sermão do Monte, Jesus está falando sobre a lei moral de Deus como um todo, não apenas os Dez Mandamentos.
C) O foco de Jesus não são Dez Mandamentos do Sinai nesta passagem por várias razões:
- 1. O contexto do Sermão do Monte é Jesus explicando o significado mais profundo da lei moral de Deus, não apenas reafirmando os Dez Mandamentos.
- 2. Jesus usa a palavra “lei” (νόμος, nomos) juntamente com “profetas”, indicando que Ele está falando sobre todo o Antigo Testamento, não apenas os Dez Mandamentos.
- 3. Nos versos seguintes (Mateus 5:21-48), Jesus expande e aprofunda vários princípios morais, indo além da letra dos Dez Mandamentos e focando na intenção do coração.
- 4. Jesus declara que Ele veio para “cumprir” (πληρῶσαι, plērōsai) a lei, não apenas reafirmá-la. Isso sugere que Sua missão era revelar o significado completo da lei, não simplesmente reforçar sua observância literal.
D) Interpretação Adventista: Os Adventistas do Sétimo Dia frequentemente usam esta passagem para argumentar que Jesus reafirmou a validade contínua dos Dez Mandamentos, incluindo o mandamento do sábado. Eles veem as palavras de Jesus como uma prova de que os cristãos ainda estão obrigados a guardar o sábado do sétimo dia e todos os outros mandamentos do Decálogo.
E) Interpretação correta: Embora Jesus certamente não esteja anulando ou diminuindo a lei moral de Deus, Ele também não está simplesmente reafirmando uma observância legalista dos Dez Mandamentos. Em vez disso, Jesus está revelando o significado mais profundo e a intenção da lei, que sempre foi apontar para Ele e ser cumprida Nele (Romanos 10:4; Colossenses 2:16-17).
Mateus 5:17-19 não é um endosso da interpretação legalista Adventista da lei, mas sim uma afirmação de que Jesus é a realização e a encarnação do verdadeiro significado da lei moral de Deus. Seu ensino nesta passagem aponta para uma obediência que flui de um coração transformado, não de uma adesão meramente externa a regras e regulamentos.
2. Mateus 19:17-19
“E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho; Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.”
Audiência: Um jovem rico judeu e os discípulos de Jesus, provavelmente na região da Pereia.
A) Língua original: Grego Koiné, a língua comum do Novo Testamento.
B) Tradução e contexto: Nesta passagem, Jesus usa a palavra grega ἐντολάς (entolas), o acusativo plural de ἐντολή (entolē), que significa “mandamentos”. No entanto, o contexto sugere que Jesus não está se referindo especificamente aos Dez Mandamentos, mas aos mandamentos morais de Deus em geral. Quando o jovem rico pergunta quais mandamentos ele deve guardar, Jesus cita vários mandamentos morais, mas não menciona o sábado.
C) O decálogo não é o centro da apresentação de Cristo por 3 razões:
- 1. Quando o jovem rico pergunta quais mandamentos ele deve guardar para ter a vida eterna, Jesus responde citando principalmente mandamentos morais da segunda metade do Decálogo (não matar, não adulterar, não furtar, não dar falso testemunho, honrar pai e mãe) e um mandamento resumido (“amar o próximo como a si mesmo”) que não faz parte dos Dez Mandamentos.
- 2. Jesus não menciona o mandamento do sábado, o que seria surpreendente se Ele estivesse se referindo especificamente aos Dez Mandamentos como um todo.
- 3. O foco de Jesus está nos aspectos morais e relacionais da lei, não nos aspectos cerimoniais. Ele enfatiza a obediência aos mandamentos como uma expressão de amor a Deus e ao próximo.
D) Interpretação Adventista: Os Adventistas do Sétimo Dia às vezes usam esta passagem para argumentar que Jesus reafirmou a validade contínua dos Dez Mandamentos para os cristãos. Eles podem sugerir que, embora Jesus não tenha mencionado especificamente o sábado, Sua referência aos mandamentos inclui implicitamente todos os Dez Mandamentos.
E) Interpretação correta: Embora Jesus certamente afirme a importância de obedecer aos mandamentos morais de Deus, Ele não está simplesmente reafirmando a observância legalista dos Dez Mandamentos como um meio de salvação. Na verdade, a passagem como um todo enfatiza a insuficiência da mera obediência externa para herdar a vida eterna (vv. 20-26). Jesus está apontando para algo maior – a necessidade de seguir a Ele e depender de Sua obra salvadora, não de nosso próprio mérito.
Como o teólogo William Hendriksen explica: “A verdade saliente desta história é que, embora seja certo que nenhum homem jamais conseguiu guardar a lei à perfeição, ainda assim aquele que deseja herdar a vida eterna deve abandonar tudo, confiar inteiramente no Salvador, e então seguir a Jesus, não a fim de se tornar perfeito e assim merecer a vida eterna, mas por amor e gratidão.” (William Hendriksen, New Testament Commentary: Exposition of the Gospel According to Matthew, p. 727)
F) Por quê o sábado não está incluído nesse contexto?
- Quando o jovem rico pergunta sobre quais mandamentos ele deve guardar, Jesus cita vários mandamentos morais e relacionais, mas não menciona o sábado. Isso sugere que o sábado não era o foco ou a preocupação principal neste contexto.
- O propósito da interação de Jesus com o jovem rico é expor a insuficiência da justiça própria e da obediência meramente externa. Mencionar o mandamento do sábado, que era frequentemente associado ao legalismo farisaico, poderia ter distraído desse ponto principal.
- Como parte da lei cerimonial, o sábado apontava para a realidade espiritual do descanso que seria cumprido em Cristo (Colossenses 2:16-17; Hebreus 4:9-10). No contexto do Novo Testamento, a ênfase muda do sábado literal para o descanso espiritual que os crentes têm em Cristo.
A omissão do sábado em Mateus 19:17-19 é significativa e sugere que Jesus não estava tratando os Dez Mandamentos como uma unidade inseparável que os cristãos são obrigados a observar em cada detalhe. Em vez disso, Seu foco estava nos princípios morais duradouros que refletem o amor a Deus e ao próximo, e na necessidade de depender Dele para a salvação, não em nossas próprias obras.
3. João 14:15
“Se me amais, guardai os meus mandamentos.”
Audiência: Os discípulos de Jesus, durante o discurso de despedida na Última Ceia, em Jerusalém.
A) Língua original: Grego Koiné, a língua comum do Novo Testamento.
B) Tradução e contexto: Neste versículo, Jesus usa a palavra grega ἐντολάς (entolas), o acusativo plural de ἐντολή (entolē), que significa “mandamentos”. No entanto, o contexto do discurso de despedida de Jesus (João 14-16) sugere que Ele não está se referindo especificamente aos Dez Mandamentos, mas aos Seus próprios ensinos e comandos, que se concentram no amor, na unidade e na obediência a Ele.
C) Jesus não está mostrando os Dez Mandamentos do Sinai nesta passagem por várias razões:
- 1. No contexto do discurso de despedida, Jesus está preparando Seus discípulos para Sua partida e prometendo o Espírito Santo. Seus “mandamentos” neste contexto se referem a Seus ensinos específicos aos discípulos, não aos Dez Mandamentos do Antigo Testamento.
- 2. Ao longo do Evangelho de João, Jesus frequentemente fala de Seus próprios mandamentos ou comandos (por exemplo, João 13:34; 15:10, 12). Estes são geralmente mandamentos para amar uns aos outros, permanecer Nele e dar frutos.
- 3. O foco de Jesus neste discurso não está na obediência legalista, mas na obediência motivada pelo amor a Ele e pela habitação do Espírito Santo (João 14:16-17, 23-26).
D) Interpretação Adventista: Os Adventistas do Sétimo Dia às vezes citam este versículo para enfatizar a importância da obediência aos mandamentos de Deus, incluindo o sábado do sétimo dia. Eles podem argumentar que amar a Jesus significa guardar todos os Dez Mandamentos.
E) Interpretação correta: Embora este versículo certamente enfatize a importância da obediência a Jesus como uma expressão de amor por Ele, interpretá-lo como uma reafirmação dos Dez Mandamentos perde o ponto principal. Jesus está falando sobre a obediência aos Seus ensinos e comandos específicos, que se concentram no amor sacrificial, na unidade e no compromisso com Ele. Essa obediência flui de um relacionamento de amor com Cristo e é capacitada pelo Espírito Santo, não por um esforço legalista.
Como o teólogo D.A. Carson explica: “A obediência cristã não é uma conformidade servil a um código legal; é a resposta natural e o impulso de amor por Deus (cf. 15:9-17). Tal obediência é o resultado e o efeito disso, não sua causa. O amor realiza a obediência a Deus e reflete Seu caráter.” (D.A. Carson, The Gospel According to John, p. 498)
F) Por quê o sábado não está incluído nesse contexto?
- Jesus está falando no contexto do Seu discurso de despedida, preparando Seus discípulos para Sua partida e prometendo o Espírito Santo. Neste cenário, seria estranho para Ele de repente enfatizar a observância do sábado do sétimo dia.
- Ao longo do Evangelho de João, Jesus se concentra em Seus próprios ensinos e mandamentos, que enfatizam o amor, a unidade e a obediência a Ele. O mandamento do sábado não é uma preocupação principal neste Evangelho.
- Jesus está preocupado com a obediência que flui de um relacionamento de amor com Ele, não com a adesão legalista a regulamentos específicos. Enfatizar o sábado neste contexto seria inconsistente com essa ênfase.
Em suma, interpretar João 14:15 como uma reafirmação da observância do sábado do sétimo dia é tirar o versículo do seu contexto imediato e do tema mais amplo do Evangelho de João. A preocupação de Jesus aqui não é com os Dez Mandamentos como um código legal, mas com a obediência amorosa e fiel a Ele e a Seus ensinos.
4. João 14:21
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.”
Audiência: Os discípulos de Jesus, durante o discurso de despedida na Última Ceia, em Jerusalém.
A) Língua original: Grego Koiné, a língua comum do Novo Testamento.
B) Tradução e contexto: Neste versículo, Jesus novamente usa a palavra grega ἐντολάς (entolas), o acusativo plural de ἐντολή (entolē), que significa “mandamentos”. Como no versículo anterior (João 14:15), o contexto do discurso de despedida de Jesus sugere que Ele está se referindo aos Seus próprios ensinos e comandos, não especificamente aos Dez Mandamentos.
C) Quais os principais pontos explorados por Jesus:
- 1. Jesus está continuando Seu discurso de despedida, no qual Ele enfatiza a importância de permanecer Nele, amar uns aos outros e obedecer a Seus ensinos. Os “mandamentos” mencionados aqui se referem a esses ensinos e comandos específicos.
- 2. Jesus conecta a obediência a Seus mandamentos com o amor a Ele e a experiência do amor do Pai. Essa ênfase relacional sugere que Ele está falando sobre algo mais do que a mera obediência a um código legal.
- 3. Ao longo do discurso de despedida, Jesus não faz referência aos Dez Mandamentos ou a qualquer dos mandamentos específicos encontrados neles. Seu foco está em Seus próprios ensinos e em Seu relacionamento com os discípulos.
D) Interpretação Adventista: Como no versículo anterior, os Adventistas do Sétimo Dia podem usar este versículo para enfatizar a importância da obediência aos mandamentos de Deus, incluindo o sábado do sétimo dia, como uma expressão de amor por Jesus.
E) Interpretação correta: Este versículo, como João 14:15, destaca a conexão íntima entre o amor por Jesus e a obediência a Seus ensinos. No entanto, reduzir esses “mandamentos” aos Dez Mandamentos ou insistir que eles incluem a observância do sábado do sétimo dia é ir além do contexto imediato e do tema geral do Evangelho de João. Jesus está enfatizando a obediência que flui de um relacionamento de amor com Ele, não a adesão legalista a um conjunto específico de regras.
O teólogo Frederick Dale Bruner comenta: “O amor é a atmosfera e a substância da obediência cristã. E a obediência é a evidência e a expressão do amor cristão. Amor não comprovado pela obediência, ou obediência não enraizada no amor, não é amor nem obediência no sentido realmente cristão.” (Frederick Dale Bruner, The Gospel of John: A Commentary, p. 839)
F) Por quê o sábado não está incluído nesse contexto?
- Como no versículo anterior, Jesus está falando no contexto do Seu discurso de despedida, enfatizando temas como permanecer Nele, amar uns aos outros e obedecer a Seus ensinos. A observância do sábado não é uma preocupação principal neste contexto.
- Jesus conecta a obediência a Seus mandamentos com o amor por Ele e a experiência do amor do Pai. Essa linguagem relacional sugere que Ele está mais preocupado com a obediência que flui do amor do que com a adesão a regulamentos específicos como o sábado.
- Dado o foco consistente de Jesus em Seus próprios ensinos e comandos ao longo do discurso de despedida, seria estranho para Ele de repente enfatizar a observância do sábado do sétimo dia neste ponto.
Em resumo, João 14:21, como o versículo 15, destaca a importância da obediência amorosa e fiel a Jesus e a Seus ensinos, não a observância legalista de um conjunto específico de regras como os Dez Mandamentos ou o sábado do sétimo dia. Interpretar este versículo como uma reafirmação do sábado é ler algo no texto que não é justificado pelo contexto imediato ou pelo tema mais amplo do Evangelho de João.
5. 1 João 2:3-4
“E nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos. Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade.”
Audiência: Cristãos na região da Ásia Menor (atual Turquia), no final do primeiro século.
A) Língua original: Grego Koiné, a língua comum do Novo Testamento.
B) Tradução e contexto: Nestes versículos, João usa a palavra grega ἐντολὰς (entolas), o acusativo plural de ἐντολή (entolē), que significa “mandamentos”. No contexto da epístola de 1 João, o apóstolo está enfatizando a importância de viver uma vida de obediência a Deus como evidência de verdadeiro conhecimento e amor por Ele. Os “mandamentos” aqui se referem aos ensinos de Cristo e aos princípios morais que refletem o caráter de Deus, não especificamente aos Dez Mandamentos.
C) João está se dedicando a explorar os mandamentos de Cristo ao longo de sua exposição.
- 1. Ao longo da epístola de 1 João, o apóstolo enfatiza a importância de viver de acordo com os ensinos de Cristo, que se concentram no amor a Deus e uns aos outros (por exemplo, 1 João 3:23; 4:21). Esses “mandamentos” parecem ser mais amplos do que os Dez Mandamentos específicos.
- 2. João conecta a obediência aos mandamentos com o conhecimento de Deus e a veracidade da afirmação de alguém de conhecê-Lo. Essa ênfase sugere que ele está falando sobre uma obediência que flui de um relacionamento genuíno com Deus, não apenas da adesão externa a um código legal.
- 3. No contexto mais amplo da epístola, João não faz referência aos Dez Mandamentos ou a qualquer dos mandamentos específicos encontrados neles, como o sábado. Seu foco está nos princípios morais e relacionais que definem uma vida cristã autêntica.
D) Interpretação Adventista: Os Adventistas do Sétimo Dia podem usar esses versículos para argumentar que a obediência aos mandamentos de Deus, incluindo o sábado do sétimo dia, é uma evidência necessária de verdadeiro conhecimento e amor por Deus. Eles podem sugerir que alguém que afirma conhecer a Deus, mas não guarda o sábado, está se enganando.
E) Interpretação correta: Embora João certamente enfatize a obediência como uma evidência crucial de uma relação genuína com Deus, interpretar esses versículos como uma exigência de observância do sábado do sétimo dia é ir além do contexto imediato e do tema geral da epístola. João está preocupado com uma vida de obediência que reflete o caráter de Deus e os ensinos de Cristo, não com a adesão legalista a regulamentos específicos.
O teólogo I. Howard Marshall explica: “A obediência não é a condição para conhecer a Deus ou o meio de chegar a conhecê-lo, mas a consequência disso e a prova de que alguém realmente o conhece… A obediência aos mandamentos de Deus é a evidência externa e visível da realidade interior e espiritual do relacionamento do cristão com Deus.” (I. Howard Marshall, The Epistles of John, p. 123)
F) Por quê o sábado não está incluído nesse contexto?
- Ao longo da epístola de 1 João, o apóstolo se concentra nos ensinos morais e relacionais de Cristo, especialmente o amor a Deus e uns aos outros. A observância do sábado não é uma preocupação explícita neste contexto.
- João está preocupado com a obediência como uma evidência de um relacionamento genuíno com Deus, não como um meio de obter a salvação ou o favor de Deus. Enfatizar a observância do sábado neste contexto poderia sugerir um tipo de legalismo que João está tentando evitar.
- Dado o propósito da epístola de 1 João de combater falsos ensinamentos e enfatizar a importância de viver de acordo com a verdade de Cristo, seria estranho para João de repente se concentrar na observância do sábado do sétimo dia.
Em suma, 1 João 2:3-4 destaca a importância vital da obediência como evidência de um verdadeiro relacionamento com Deus, mas interpretar essa obediência como necessariamente incluindo a observância do sábado do sétimo dia é ir além do contexto imediato e do foco geral da epístola. A preocupação de João é com uma vida de obediência fiel que reflete o caráter e os ensinos de Cristo, não com a adesão legalista a regulamentos específicos.
6. 1 João 3:22
“E qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus mandamentos, e fazemos o que é agradável à sua vista.”
Audiência: Cristãos na região da Ásia Menor (atual Turquia), no final do primeiro século.
A) Língua original: Grego Koiné, a língua comum do Novo Testamento.
B) Tradução e contexto: Neste versículo, João novamente usa a palavra grega ἐντολὰς (entolas), o acusativo plural de ἐντολή (entolē), que significa “mandamentos”. No contexto imediato (1 João 3:19-24), João está discutindo a confiança que os crentes podem ter diante de Deus quando vivem de acordo com Sua vontade, o que inclui obedecer a Seus mandamentos. Como no restante da epístola, esses “mandamentos” se referem aos princípios morais e relacionais que refletem o caráter de Deus e os ensinos de Cristo.
C) João novamente está jogando luz aos mandamentos para os Cristãos:
- 1. No versículo seguinte (1 João 3:23), João especifica o que ele entende por “mandamentos”: crer no nome de Jesus Cristo e amar uns aos outros. Esses mandamentos, embora consistentes com os princípios dos Dez Mandamentos, não são idênticos a eles.
- 2. João conecta a obediência aos mandamentos com a confiança na oração e a experiência da presença de Deus (v. 24). Essa ênfase sugere que ele está mais preocupado com uma obediência que flui de um relacionamento com Deus do que com a mera adesão a um código legal.
- 3. Como no restante da epístola, João não faz referência específica aos Dez Mandamentos ou a qualquer dos mandamentos individuais encontrados neles, como o sábado. Seu foco está em viver de acordo com a vontade de Deus como revelado em Cristo.
D) Interpretação Adventista: Os Adventistas do Sétimo Dia podem citar este versículo para enfatizar a importância da obediência, incluindo a guarda do sábado, como uma condição para respostas à oração e bênçãos de Deus. Eles podem argumentar que, se uma pessoa não guarda o sábado, ela não está guardando os mandamentos de Deus e, portanto, não pode esperar que Deus responda a suas orações.
E) Interpretação correta: Embora João certamente veja a obediência como um aspecto importante do relacionamento do crente com Deus, reduzir essa obediência à observância do sábado do sétimo dia é uma leitura estreita que não faz justiça ao contexto imediato ou à mensagem mais ampla da epístola. João está enfatizando uma vida de fé e amor que está em harmonia com o caráter e a vontade de Deus, não a adesão legalista a regulamentos específicos.
O versículo seguinte (1 João 3:23) deixa claro que os “mandamentos” de Deus, neste contexto, não são primariamente os Dez Mandamentos, mas sim o chamado para crer em Jesus Cristo e amar uns aos outros. Como o teólogo Colin G. Kruse explica: “A frase ‘seus mandamentos’, aqui, não se refere aos Dez Mandamentos, mas às exigências morais e éticas que Deus revelou por meio de Jesus aos seus discípulos.” (Colin G. Kruse, The Letters of John, pp. 143-144)
F) Por quê o sábado não está incluído nesse contexto?
- João especifica o que ele entende por “mandamentos” no versículo seguinte, e sua definição não inclui a observância do sábado do sétimo dia. Em vez disso, ele enfatiza a fé em Jesus Cristo e o amor uns pelos outros.
- A ênfase de João na obediência como uma expressão de um relacionamento íntimo com Deus sugere que ele está mais preocupado com uma vida de amor e fé do que com a adesão a regulamentos específicos como a observância do sábado.
- Dado o propósito mais amplo da epístola de combater falsos ensinamentos e enfatizar uma vida autêntica em Cristo, seria inconsistente para João de repente mudar seu foco para a observância do sábado do sétimo dia neste ponto.
Em suma, interpretar 1 João 3:22 como uma afirmação da necessidade de observar o sábado do sétimo dia é uma leitura forçada que não é justificada pelo contexto imediato ou pelo fluxo mais amplo do argumento de João. A obediência que João tem em mente é fundamentada na fé em Cristo e no amor a Deus e ao próximo, não na adesão legalista a regulamentos específicos.
7. 1 João 5:2-3
“Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados.”
Audiência: Cristãos na região da Ásia Menor (atual Turquia), no final do primeiro século.
A) Língua original: Grego Koiné, a língua comum do Novo Testamento.
B) Tradução e contexto: Nestes versículos, João mais uma vez usa a palavra grega ἐντολὰς (entolas), o acusativo plural de ἐντολή (entolē), que significa “mandamentos”. No contexto (1 João 5:1-5), João está enfatizando a conexão entre o amor a Deus, o amor ao próximo e a obediência aos mandamentos de Deus. Ele descreve essa obediência não como um fardo pesado, mas como uma expressão natural do amor de uma pessoa por Deus. Como no restante da epístola, esses “mandamentos” se referem aos princípios éticos e relacionais que refletem o caráter de Deus e os ensinos de Cristo.
C) O foco de João é elevar pontos importantes dos mandamentos de Cristo:
- 1. O contexto imediato (1 João 5:1-5) enfatiza a fé em Jesus Cristo e o amor a Deus e a Seus filhos como marcas de um verdadeiro crente. Esses temas, embora consistentes com os princípios subjacentes aos Dez Mandamentos, não são idênticos a eles.
- 2. João descreve os mandamentos de Deus como não sendo pesados (v. 3), sugerindo que ele está falando sobre uma obediência que flui naturalmente de um relacionamento de amor com Deus, não sobre o fardo da adesão legalista a um código.
- 3. Consistente com o restante da epístola, João não faz referência específica aos Dez Mandamentos ou a qualquer dos mandamentos individuais encontrados neles, como o sábado. Seu foco está na vida de fé e amor que caracteriza um verdadeiro filho de Deus.
D) Interpretação Adventista: Os Adventistas do Sétimo Dia podem citar esses versículos para argumentar que o amor a Deus é inseparável da obediência a Seus mandamentos, incluindo o sábado do sétimo dia. Eles podem sugerir que alguém que não guarda o sábado não ama verdadeiramente a Deus ou a Seus filhos.
E) Interpretação correta: Embora João certamente veja a obediência como uma expressão essencial do amor a Deus, interpretar esses versículos como uma exigência de observância do sábado do sétimo dia é uma leitura que não é justificada pelo contexto imediato ou pelo fluxo geral do argumento de João. A obediência que João tem em mente brota de um relacionamento de fé e amor com Deus, não da adesão legalista a um conjunto específico de regras.
O teólogo David Jackman explica: “A obediência não é um fardo pesado para aqueles que conhecem o Deus amoroso como seu Pai por meio da fé em Jesus. É a resposta espontânea e alegre de um coração transformado pelo amor de Deus e cheio do Espírito de Deus.” (David Jackman, The Message of John’s Letters, p. 136)
F) Por quê o sábado não está incluído nesse contexto?
- O foco imediato de João está na fé em Jesus Cristo, no amor a Deus e no amor aos filhos de Deus como marcas de um verdadeiro crente. A observância do sábado não é mencionada como parte dessa descrição.
- João descreve os mandamentos de Deus como não sendo pesados, o que sugere que ele está mais preocupado com uma obediência que flui do amor do que com um legalismo rigoroso. Enfatizar a observância do sábado neste contexto poderia implicar um tipo de legalismo que João está tentando evitar.
- Dado o propósito geral da epístola de combater falsos ensinamentos e enfatizar as marcas de um verdadeiro relacionamento com Deus, seria fora de contexto para João introduzir repentinamente a observância do sábado do sétimo dia como um requisito-chave.
Em suma, 1 João 5:2-3 destaca o vínculo inextricável entre o amor a Deus e a obediência a Seus mandamentos, mas entender esses mandamentos como especificamente incluindo o sábado do sétimo dia é ir além do contexto imediato e do argumento geral de João. A obediência que João descreve é enraizada no amor e na fé, não num legalismo rígido.
8. Apocalipse 12:17
“E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao remanescente da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo.”
Audiência: Cristãos na região da Ásia Menor (atual Turquia), no final do primeiro século, enfrentando perseguição.
A) Língua original: Grego Koiné, a língua comum do Novo Testamento.
B) Tradução e contexto: Neste versículo, João usa a frase grega τὰς ἐντολὰς τοῦ Θεοῦ (tas entolas tou Theou), que significa “os mandamentos de Deus”. No contexto altamente simbólico de Apocalipse, este versículo descreve o remanescente fiel do povo de Deus que enfrenta a oposição do dragão (Satanás). Eles são caracterizados por guardar os mandamentos de Deus e ter o testemunho de Jesus Cristo. Dado o estilo apocalíptico do livro, é improvável que João esteja se referindo especificamente aos Dez Mandamentos aqui, mas sim à fidelidade geral do povo de Deus a Ele em meio à perseguição.
C) João não está se referindo aos Dez Mandamentos do Sinai (de 1 a 10). Ele abrange o escopo amplo dos mandamentos de Cristo nesta passagem por várias razões:
- 1. O livro de Apocalipse é altamente simbólico e emprega uma linguagem rica em imagens. Interpretar “os mandamentos de Deus” neste contexto como uma referência literal aos Dez Mandamentos seria inconsistente com o estilo geral do livro.
- 2. Ao longo de Apocalipse, João enfatiza a fidelidade a Deus e a Jesus em face da oposição e perseguição. Os “mandamentos de Deus” neste contexto se referem mais amplamente à obediência fiel a Deus, e não a um conjunto específico de leis.
- 3. O versículo também menciona “o testemunho de Jesus Cristo” como uma característica definidora do povo fiel de Deus. Isso sugere que João está preocupado com a lealdade total a Deus e a Jesus, não apenas com a adesão a um código legal específico.
D) Interpretação Adventista: Os Adventistas do Sétimo Dia frequentemente citam este versículo para argumentar que o remanescente fiel do tempo do fim será caracterizado pela guarda dos Dez Mandamentos, incluindo o sábado do sétimo dia. Eles veem isso como evidência de que sua denominação, com sua ênfase na observância do sábado, é o remanescente profético mencionado aqui.
E) Interpretação correta: Embora este versículo certamente destaque a obediência como uma característica do povo fiel de Deus, interpretar “os mandamentos de Deus” como especificamente e exclusivamente se referindo aos Dez Mandamentos, incluindo o sábado do sétimo dia, é uma leitura que vai além do contexto imediato e do estilo geral de Apocalipse. Dado o caráter altamente simbólico do livro, é mais provável que João esteja se referindo à fidelidade geral a Deus em meio à perseguição e oposição.
O teólogo G.K. Beale explica: “O ‘guardar os mandamentos de Deus’ aqui se refere, não primariamente à observância do Decálogo, incluindo o mandamento do sábado, mas à perseverança na fé em Jesus e no evangelho… em face da perseguição”. (G.K. Beale, The Book of Revelation: A Commentary on the Greek Text, p. 678)
F) Por quê o sábado não está incluído nesse contexto?
- O estilo altamente simbólico de Apocalipse torna improvável que João esteja se referindo a mandamentos específicos, como o sábado, neste versículo. Sua preocupação é com a fidelidade geral do povo de Deus em face da oposição.
- O versículo também destaca “o testemunho de Jesus Cristo” como uma marca do povo fiel de Deus, sugerindo que João está enfatizando a lealdade total a Deus e a Jesus, não apenas a observância de um dia específico.
- Dado o tema geral de Apocalipse da fidelidade a Deus em meio à perseguição, seria inconsistente para João de repente introduzir a observância do sábado do sétimo dia como uma questão-chave neste ponto.
Em conclusão, enquanto Apocalipse 12:17 certamente destaca a obediência como uma característica do povo fiel de Deus, interpretar isso como uma referência específica ao sábado do sétimo dia é uma leitura que não é justificada pelo estilo apocalíptico do livro ou seu foco geral na fidelidade em face da perseguição. A fidelidade que João descreve é abrangente, enraizada na lealdade a Deus e a Jesus Cristo.
9. Apocalipse 14:12
“Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.”
Audiência: Cristãos na região da Ásia Menor (atual Turquia), no final do primeiro século, enfrentando tribulação e tentação de comprometer sua fé.
A) Língua original: Grego Koiné, a língua comum do Novo Testamento.
B) Tradução e contexto: Neste versículo, João novamente usa a frase grega τὰς ἐντολὰς τοῦ Θεοῦ (tas entolas tou Theou), que significa “os mandamentos de Deus”. No contexto de Apocalipse 14, que retrata o conflito final entre o bem e o mal, este versículo descreve a perseverança dos santos que guardam os mandamentos de Deus e permanecem fiéis a Jesus. Como no resto do livro, dado o estilo altamente simbólico de Apocalipse, é improvável que João esteja se referindo especificamente aos Dez Mandamentos, mas sim à fidelidade geral do povo de Deus em meio à tribulação.
C) João quer demonstrar o valor direto dos mandamentos de Deus aos crentes verdadeiros destacados em três pontos:
- 1. Como em Apocalipse 12:17, o estilo simbólico do livro sugere que “os mandamentos de Deus” devem ser entendidos como representando a fidelidade geral a Deus, e não um conjunto específico de leis.
- 2. O contexto de Apocalipse 14 enfatiza a fidelidade e a perseverança dos santos em face da oposição e do julgamento divino. Os “mandamentos de Deus” neste cenário se referem à obediência fiel mesmo sob provação.
- 3. O versículo também menciona “a fé em Jesus” como uma característica definidora dos santos. Isso indica que João está preocupado com a lealdade total a Deus e a Jesus, não apenas com a adesão a um código legal específico.
D) Interpretação Adventista: Semelhante a Apocalipse 12:17, os Adventistas do Sétimo Dia frequentemente citam este versículo para argumentar que o remanescente fiel do tempo do fim será caracterizado pela guarda dos Dez Mandamentos, incluindo o sábado do sétimo dia. Eles veem isso como mais uma evidência de que sua denominação, com sua ênfase na observância do sábado, é o remanescente profético mencionado nas Escrituras.
E) Interpretação correta: Embora este versículo certamente enfatize a obediência como uma marca dos fiéis seguidores de Deus, interpretar “os mandamentos de Deus” como uma referência específica e exclusiva aos Dez Mandamentos, incluindo o sábado do sétimo dia, é uma leitura que vai além do contexto imediato e do estilo geral de Apocalipse. Dado o caráter altamente simbólico do livro, é mais provável que João esteja se referindo à perseverança fiel na obediência a Deus em meio à tribulação e à tentação de comprometer.
O teólogo Grant R. Osborne explica: “A perseverança dos santos é demonstrada em sua obediência contínua e compromisso de permanecer fiéis a Jesus aconteça o que acontecer. Isso não se refere à obediência legalista, mas à fidelidade aos mandamentos de amar a Deus e amar ao próximo como a si mesmo.” (Grant R. Osborne, Revelation, p. 543)
F) Por quê o sábado não está incluído nesse contexto?
- Como em outras passagens em Apocalipse, o estilo simbólico do livro torna improvável que João esteja se referindo a mandamentos específicos, como o sábado. Sua preocupação é com a fidelidade inabalável a Deus diante da oposição.
- O versículo também destaca “a fé em Jesus” como uma característica dos santos, sugerindo que João está enfatizando a lealdade total a Deus e a Jesus, não apenas a observância de um dia específico.
- Dado o foco de Apocalipse 14 no conflito final entre o bem e o mal e no chamado para a fidelidade em meio à tribulação, seria fora de contexto para João introduzir repentinamente a observância do sábado do sétimo dia como uma questão central.
Em suma, enquanto Apocalipse 14:12 certamente apresenta a obediência como uma marca dos verdadeiros seguidores de Deus, entender isso como uma referência específica à guarda do sábado do sétimo dia é uma interpretação que não é justificada pelo estilo apocalíptico do livro ou por seu ênfase geral na fidelidade perseverante em tempos de provação. A obediência que João descreve é abrangente, enraizada em uma lealdade inabalável a Deus e a Jesus Cristo em face da oposição.