Os Adventistas do Sétimo Dia Davidianos: Uma História Complexa

Introdução

Quando se ouve o termo “Davidiano”, muitas pessoas imediatamente pensam no trágico evento em Waco, Texas, em 1993, envolvendo os Davidianos Ramo liderados por David Koresh. No entanto, a história e as crenças dos Adventistas do Sétimo Dia Davidianos, também conhecidos como Vara do Pastor, são muito mais complexas e distintas do que esse evento isolado sugere.

Origens e Desenvolvimento

A história dos Davidianos começa com a fundação da Igreja Adventista do Sétimo Dia em 1863. Uma das co-fundadoras, Ellen G. White, cujos escritos são conhecidos como o Espírito de Profecia, desempenhou um papel crucial na formação da doutrina da igreja. Após sua morte em 1915, o cenário estava pronto para novas interpretações e movimentos dentro da denominação.

Em 1919, Victor Houteff, um imigrante búlgaro, juntou-se à Igreja Adventista do Sétimo Dia em Illinois. Rapidamente, ele se tornou um líder ativo em sua congregação na Califórnia, onde se mudou na década de 1920. Houteff se aprofundou no estudo da profecia bíblica e começou a desenvolver suas próprias interpretações.

No entanto, suas ideias encontraram oposição dentro da igreja estabelecida. Em 1929, Houteff completou seu livro “A Vara do Pastor”, que sistematizava suas doutrinas. Publicado em 1930, este livro marcou o início do movimento que se tornaria os Adventistas do Sétimo Dia Davidianos.

Em 1935, Houteff e seus seguidores compraram uma propriedade perto de Waco, Texas, estabelecendo sua sede. Dois anos depois, em 1937, ele formou a Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia da Vara do Pastor, que mais tarde se tornou a Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia Davidianos.

É importante notar que, diferentemente de muitos movimentos dissidentes, os Davidianos não estabeleceram suas próprias igrejas separadas. Em vez disso, Houteff instruiu seus seguidores a continuarem frequentando as igrejas Adventistas do Sétimo Dia regulares. Esta prática continua até os dias de hoje, com os Davidianos focando sua evangelização principalmente nos membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Crise e Fragmentação

A morte inesperada de Victor Houteff em 1955 desencadeou uma série de eventos que levariam à fragmentação do movimento Davidiano. Sua esposa, Florence, assumiu a liderança, alegando que seu marido havia recomendado que ela fosse nomeada vice-presidente antes de sua morte. Ela começou a publicar materiais que ela afirmava terem sido escritos por Victor antes de sua morte, incluindo uma profecia controversa sobre eventos que ocorreriam em 22 de abril de 1959.

Esta profecia, que previa eventos dramáticos no Oriente Médio e a ressurreição de Victor Houteff, foi um ponto de virada para o movimento. Quando a profecia não se cumpriu, muitos seguidores deixaram o movimento, e a própria Florence eventualmente dissolveu a organização em 1962, rejeitando os ensinamentos da Vara do Pastor.

Neste período de incerteza, surgiram várias facções dentro do movimento Davidiano. Uma das mais notáveis foi liderada por Benjamin Roden, que formou os Davidianos Ramo em 1955. Roden alegava ter recebido revelações divinas e se apresentava como “o Ramo”, uma referência a Isaías 11:1.

A história dos Davidianos Ramo é particularmente turbulenta e culminou nos eventos trágicos de Waco em 1993, sob a liderança de David Koresh. No entanto, é crucial entender que os Davidianos Ramo representam apenas uma vertente do movimento Davidiano original e não refletem as crenças ou práticas da maioria dos grupos Davidianos.

Crenças Fundamentais

Os Adventistas do Sétimo Dia Davidianos compartilham muitas crenças fundamentais com a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Eles afirmam a autoridade da Bíblia, a doutrina da Trindade, a divindade de Cristo, a necessidade do novo nascimento através da fé, e a observância do Sábado do sétimo dia.

Como os Adventistas do Sétimo Dia, os Davidianos ensinam a imortalidade condicional, acreditando que apenas aqueles que confiam em Cristo terão vida eterna consciente. Eles também compartilham a crença no julgamento investigativo que começou em 1844, conforme interpretado de Daniel 8:14.

No entanto, os Davidianos têm várias crenças distintivas. Eles acreditam que o dom profético na Igreja Adventista cessou em 1915 com a morte de Ellen White e foi reativado em 1930 com os escritos de Victor Houteff. Eles veem a mensagem da Vara do Pastor como um cumprimento da profecia e como um meio de preparar os 144.000 mencionados no livro do Apocalipse.

Uma das crenças mais distintivas dos Davidianos é a ideia de um reino pré-milenial de Deus estabelecido na Palestina. Este conceito de um reino davídico literal é a fonte do nome “Davidiano”.

Práticas e Estilo de Vida

Os Davidianos são conhecidos por adotar um estilo de vida mais rigoroso em comparação com muitos Adventistas do Sétimo Dia convencionais. Eles são vegetarianos estritos, evitam entretenimento secular como cinema e televisão, e dedicam muito tempo ao estudo das Escrituras e dos escritos de Houteff.

Em termos de vestuário, as mulheres Davidianas geralmente usam vestidos mais longos e cobrem a cabeça na igreja. Os homens tendem a se vestir de maneira conservadora, muitas vezes usando camisa e gravata. A abstenção de joias e roupas chamativas é comum.

Houteff enfatizou que a verdadeira filiação à Associação Adventista do Sétimo Dia Davidiana é evidenciada não apenas pela aceitação das doutrinas, mas também pela adesão a um estilo de vida que inclui a observância do Sábado, vegetarianismo, reforma do vestuário e abstinência total de tabaco e álcool.

Controvérsias e Divisões

Após a morte de Houteff e o fracasso da profecia de 1959, o movimento Davidiano se fragmentou em vários grupos, cada um alegando ser o verdadeiro herdeiro do legado de Houteff. As principais áreas de controvérsia incluem:

  1. Liderança: A estrutura original da organização Davidiana tinha o presidente como profeta. Após a morte de Houteff, surgiram debates sobre quem, se alguém, poderia reivindicar esse papel.
  2. Os “Novos Códigos”: Os escritos publicados por Florence Houteff após a morte de seu marido são uma fonte de controvérsia. Alguns Davidianos os rejeitam completamente, enquanto outros os aceitam parcialmente.
  3. Dízimos: Há debates sobre qual organização é o legítimo “armazém” para receber os dízimos dos fiéis.
  4. Localização geográfica: Alguns grupos fazem reivindicações baseadas na localização de suas sedes, argumentando que o movimento deve continuar se movendo para o leste.

Grupos Davidianos Atuais

Hoje, existem vários grupos que se identificam como Adventistas do Sétimo Dia Davidianos. Alguns dos mais proeminentes incluem:

  1. A Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia Davidianos (GADSDA) em Waco, Texas.
  2. A Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia Davidianos em Salem, Carolina do Sul.
  3. A Associação dos Adventistas do Sétimo Dia Davidianos no Missouri.
  4. A Associação de Publicação Universal (UPA7).
  5. O grupo Mountaindale em Nova York.

Cada um desses grupos tem suas próprias interpretações específicas dos ensinamentos de Houteff e suas próprias práticas organizacionais. É comum que esses grupos tenham visões críticas uns dos outros, cada um alegando ser o verdadeiro representante da mensagem da Vara do Pastor.

Conclusão

A história dos Adventistas do Sétimo Dia Davidianos é complexa e muitas vezes mal compreendida. Embora o incidente de Waco tenha manchado a reputação do nome “Davidiano”, é importante reconhecer que os Davidianos Ramo representam apenas uma pequena facção do movimento Davidiano mais amplo.

Os Davidianos continuam a existir hoje, mantendo muitas das crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia, mas com suas próprias interpretações distintivas da profecia bíblica e práticas de estilo de vida. A diversidade de grupos Davidianos reflete os desafios de manter a unidade após a morte de um líder carismático e as complexidades de interpretar e aplicar profecias bíblicas.

Apesar das controvérsias e divisões, os Adventistas do Sétimo Dia Davidianos permanecem dedicados ao que veem como uma mensagem especial de reforma e preparação para os eventos dos últimos dias. Sua história serve como um lembrete da diversidade dentro do cristianismo e dos desafios enfrentados por movimentos religiosos à medida que evoluem ao longo do tempo.

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