O que aconteceu com aqueles que morreram antes do surgimento do Adventismo?

Resposta:

A doutrina adventista do juízo investigativo, que teria começado em 1844, levanta sérias questões sobre o destino eterno dos cristãos que morreram antes dessa data. De acordo com essa crença, Cristo entrou no Lugar Santíssimo do santuário celestial em 1844 para iniciar uma obra de exame dos registros de todos os que professaram crer em Deus, a fim de determinar quem é digno da vida eterna.

Ellen G. White, em seus escritos, conecta essa doutrina com a importância da guarda do sábado. Ela afirma: “Deus declarou que o sétimo dia é o sábado do Senhor. […] Ele requer que neste dia mantenhamos nossos pés longe do sábado. […] O sábado é um sinal de afinidade entre Deus e o Seu povo, sinal de que este honra Sua lei. É o distintivo entre os fiéis súditos de Deus e os transgressores.” – Testemunhos Seletos Vol. 3 pg. 16-34

No entanto, se a salvação depende de passar pelo crivo do juízo investigativo iniciado em 1844, e se a guarda do sábado é um requisito central nesse processo, como fica a situação dos bilhões de cristãos que morreram antes de 1844 sem ter esse conhecimento ou prática? Seriam eles desqualificados para a vida eterna por não terem sido “aprovados” nesse suposto juízo? Essa noção parece conflitar com o claro ensino bíblico sobre a salvação pela graça mediante a fé em Cristo.

A Bíblia afirma que a salvação é um dom gratuito de Deus, recebido pela fé: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2:8-9). O apóstolo Paulo deixa claro que a justificação vem pela fé, não por obras da lei (Gálatas 2:16).

Além disso, a ideia de que a salvação depende de um juízo que começou em uma data específica na história parece negar a realidade da graça de Deus operando em todas as épocas. A Bíblia apresenta exemplos de pessoas salvas pela fé muito antes de 1844, como Abraão (Gênesis 15:6), Davi (Romanos 4:6-8) e os santos do Antigo Testamento mencionados em Hebreus 11.

A noção de um juízo investigativo a partir de 1844 também levanta a questão: o que mudou nessa data para que Deus começasse a julgar de forma diferente? A Bíblia apresenta Deus como imutável (Malaquias 3:6), com quem “não há variação nem sombra de mudança” (Tiago 1:17).

Finalmente, condicionar a salvação à guarda do sábado como um “distintivo” parece ir contra o ensino paulino de que ninguém deve julgar os outros com base em dias (Colossenses 2:16-17) e que não devemos deixar que tais questões nos dividam (Romanos 14:5-6).

Em última análise, a doutrina do juízo investigativo a partir de 1844, com sua ênfase na guarda do sábado como requisito, parece colocar um fardo sobre os cristãos que a Bíblia não sustenta. Ela gera mais perguntas do que respostas sobre o destino dos que morreram antes dessa data. O evangelho bíblico, em contraste, oferece a certeza da salvação pela graça mediante a fé em Cristo, independentemente de datas ou práticas específicas. Como Paulo declarou confiantemente: “Porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia.” (2 Timóteo 1:12).

Aqui estão cinco possibilidades para reflexão sobre pessoas que morreram antes do surgimento do Adventismo, sem guardar o sábado e sem passar pelo suposto juízo investigativo.

1. Possibilidade: Esses cristãos serão julgados com base na luz que tinham disponível em sua época.
Refutação bíblica: A Bíblia ensina que a salvação é pela graça mediante a fé em Cristo, não pela aderência a práticas específicas (Efésios 2:8-9). O “justo viverá pela fé” (Romanos 1:17), independentemente da era em que viveu.

2. Possibilidade: Eles terão uma oportunidade de aprender sobre o sábado após a ressurreição, durante o milênio.
Refutação bíblica: A Bíblia não menciona uma segunda chance para a salvação após a morte. Pelo contrário, ensina que “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois o juízo” (Hebreus 9:27). O destino eterno é selado na morte.

3. Possibilidade: Sua ignorância sobre a importância do sábado será desculpada, e eles serão julgados apenas por sua fé em Cristo.
Refutação bíblica: Se a ignorância sobre o sábado pode ser desculpada, então a guarda do sábado não pode ser um requisito absoluto para a salvação. A Bíblia enfatiza a suficiência da obra de Cristo (Hebreus 10:12-14) e a justificação pela fé somente (Romanos 3:28).

4. Possibilidade: Eles serão considerados perdidos por não terem guardado o sábado, mesmo sem conhecimento desse requisito.
Refutação bíblica: Isso implicaria que a salvação depende de obras, não da graça. Contradiz textos como Tito 3:5 – “não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia”. Também levanta questões sobre a justiça e a misericórdia de Deus.

5. Possibilidade: Seu destino será determinado no juízo investigativo com base em outros critérios, não na guarda do sábado.
Refutação bíblica: Isso minaria a importância que a doutrina adventista dá à guarda do sábado. Se o sábado não é decisivo para os que morreram antes de 1844, por que seria essencial para os que viveram depois? Isso sugere uma inconsistência no suposto padrão de julgamento de Deus.

Além disso, exemplos bíblicos como os de Moisés, Enoque e Elias, que foram levados ao céu antes de qualquer juízo investigativo em 1844 (Hebreus 11:5, 24-29; 2 Reis 2:11), demonstram que a salvação não depende desse evento. Sua experiência testemunha a graça de Deus operando em todas as épocas para salvar aqueles que crêem.

Em última análise, a doutrina de um juízo investigativo iniciado em 1844, com a guarda do sábado como fator decisivo, levanta mais problemas do que resolve em relação ao destino dos que morreram antes dessa data. A consistência do caráter de Deus e a clareza do evangelho bíblico da graça parecem ser melhor preservadas sem essa doutrina.