Introdução
A visão de Ellen G. White sobre os edifícios de Chicago foi um dos seus maiores erros proféticos. A relação desta visão com o “testemunho” (de acordo com os adventistas, testemunho é a comunicação de Deus, através de sua porta-voz, Ellen White, para uma pessoa ou grupo) enviado ao Dr. John Harvey Kellogg fez com que ela se tornasse alvo de piadas entre o grupo de médicos adventistas que se associaram ao Dr. Kellogg no Sanatório de Battle Creek. A defesa evasiva de Ellen White a respeito da visão não era páreo para a grande intelectualidade representada por esse grupo de médicos. Suas rendas não eram dependentes da Igreja Adventista do Sétimo Dia, então eles foram capazes de reagir à questão como a razão e o bom senso indicavam. Ela passaria os próximos três anos tentando escapar do problema que criou para si mesma, mas suas desculpas não eram convincentes e tornavam-se até cômicas às vezes. O fiasco fez com que “caísse a máscara” de Ellen White, revelando ser ela uma falsa profetisa. Com isso, deu-se início a uma série de eventos que culminou na secreta Conferência Bíblica de 1919, que forçou os principais líderes do adventismo a debater se deveriam efetuar uma limpeza na igreja e denunciar Ellen White como uma fraude, ou continuar a encobrir a verdade sobre ela. Erros proféticos adicionais, entre a virada do século e sua morte em 1915, praticamente forçaram os delegados da Conferência Bíblica de 1919 a incluir na pauta a questão de suas profecias fraudulentas.[1]
O Caso Kellogg-Chicago
Através de uma extensa pesquisa, foi possível montar uma linha do tempo de eventos em torno do fiasco da visão dos edifícios de Chicago – uma linha do tempo que põe Ellen White “na parede” e prova, além de qualquer dúvida, que ela tentou encobrir seu erro com uma série de falsidades. Ao tentar criar a ilusão de que Deus havia lhe dado a capacidade sobrenatural de discernir o que as pessoas estavam fazendo do outro lado do mundo, ela envergonhou a sua igreja e a si mesma. De fato, reivindicar que Deus falou através dela quando, claramente, Ele não fez isso representa um tipo de blasfêmia. A ocultação deste capítulo vergonhoso da história adventista representa uma das várias realizações de sucesso obtidas pela liderança adventista por sua especialidade em controlar danos.
“Porque o SENHOR Deus não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas.” (Amós 3:7)
Além da acusação de blasfêmia, sua exigência feita em nome de Deus de que o Dr. Kellogg lhe enviasse fundos do Sanatório de Battle Creek para o seu projeto do sanatório australiano significava que ela estava acima da lei do estado, uma vez que o novo Estatuto para Sanatórios de Michigan de 1897 tornaria essa ação ilegal. Ela deveria, com certeza, ter entendido as disposições do estatuto, uma vez que era acionista do sanatório após sua reorganização. Deus instruiria Ellen White a violar uma lei que era justa e plausível simplesmente porque a lei era inconveniente aos projetos pessoais dela? Isso seria um “dar a César o que é de César”?[2]
“Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” (Mateus 22:21b)
Ela começou a exigir dinheiro do Dr. Kellogg para o novo sanatório na Austrália durante o ano de 1899. Infelizmente para Ellen White, o meio-irmão do Dr. Kellogg, Dr. Merrit G. Kellogg, fez-lhe uma visita em sua casa na Austrália em 1900, exatamente na época em que a sua paciência com o programa do Dr. Kellogg em Chicago se esgotara. A declaração do Dr. Merrit Kellogg de 1908 atestou que ele havia explicado a ela que seria ilegal para o Dr. Kellogg lhe enviar fundos do Sanatório de Battle Creek por causa do novo estatuto. Ele testemunhou também que ela lhe havia mostrado um artigo de um jornal americano de alguns anos que dava uma descrição imprecisa do que o Dr. Kellogg estava fazendo em Chicago. Ele também afirmou que a viu enviar seu testemunho de repreensão para seu irmão três dias depois.[3]
No verão de 1900, ela retorna da Austrália para a América. No ano seguinte ao seu retorno, ela e seu filho Willie C. White deram seu apoio ao projeto para construir um novo prédio para a Escola Médica Americana – o único projeto de construção na área de Chicago já efetuado pela Igreja Adventista e/ou pelo grupo do Sanatório de Battle Creek.[4] Ela e Willie foram apresentados na sessão da Conferência Geral de 1901, onde declararam seu apoio para o novo edifício. Willie White participou de uma reunião especial da diretoria, também convocada em 1901, para considerar os planos para o novo edifício, e expressou seu total apoio a sua construção.[5] Se Ellen White foi a porta-voz de Deus para comunicar Sua vontade aos adventistas, Willie White foi, por muitas vezes, o porta-voz de Ellen White para comunicar sua vontade a seus seguidores.
Os médicos de Battle Creek e quase todo mundo no Sanatório estavam tentando descobrir se ela, em seu testemunho ao Dr. Kellogg em 1899, havia condenado a construção do mesmo prédio proposto na Conferência de 1901, para o qual ela e o filho deram sua aprovação com grande entusiasmo. Qualquer um que se informar destes fatos os achará, no mínimo, cômicos. Charles E. Stewart, em seu relato do fiasco, relatou que mesmo os membros do comitê responsável por planejar o novo prédio da Escola de Medicina Americana em Chicago continuaram planejando-o porque não se aperceberam, nem por um momento, que ela poderia estar condenando-os por isso. Na mente deles, ela deveria estar falando sobre outro prédio.[6]
Além disso, está o fato de Ellen White se tornar acionista do Sanatório desde sua reorganização sob o novo estatuto de 1897, levantando a questão de um caso de conflito de interesses. Será que ela não queria que o Dr. Kellogg gastasse o dinheiro do Sanatório de Battle Creek em Chicago porque queria que suas ações rendessem mais dividendos?
É lamentável que Ellen White tenha trazido todo esse problema sobre si. Se ela tivesse deixado as alegações sobrenaturais de fora, as coisas poderiam não ter sido tão ruins para ela. Ela poderia ter escrito para Kellogg e dito algo assim:
“Harvey, acabei de ler um relatório sobre seus gastos extravagantes em Chicago com os necessitados, e não acho que seja o que Deus quer que você faça com seu dinheiro. Eu acredito que Deus quer que você gaste seu dinheiro onde Ele possa agir, especialmente na conservação das doutrinas distintivas do adventismo.”
Ao dar crédito a Deus por suas informações, ela passou a ideia de que Deus não sabia o que estava acontecendo em Battle Creek ou Chicago, ou que tivesse esquecido o que tinha visto lá. Essa mentira sobre a fonte de suas informações parece um tipo de blasfêmia de “colarinho branco”.
“Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.” (Êxodo 20:16)
Não podemos dizer que o seu fracasso como profetisa foi causado somente pela visão dos edifícios de Chicago. Nos anos anteriores à crise causada por esta visão, Ellen White havia cometido uma série de erros semelhantes que já haviam levado ao limite sua credibilidade junto aos médicos de Battle Creek.[7] Ela se contradisse em seus testemunhos tantas vezes que os médicos estavam confusos e pedindo respostas. Eles ficaram intrigados com o fato de ela continuar comendo carne e até carnes impuras como ostras enquanto pregava uma rigorosa dieta vegetariana.[8] Os médicos acharam hilário o fato de ter sido a influência de uma mulher católica que finalmente, nos últimos anos de ministério de Ellen White, tenha lhe convencido de parar de comer carne por ser algo cruel para com os animais.[9]
Eles ficaram também perplexos com suas declarações bizarras e contraditórias sobre o uso de medicamentos[10], e a pegaram em um grotesco plágio no caso do livro britânico Sketches From the Life of Paul.[11] Assim, eles não se surpreenderam ao descobrir, sendo eles profissionais de ampla leitura, que ela havia copiado os ensinamentos de saúde de um tal de Dr. Cole e alegado que as informações que obteve vieram de Deus em visão.[12] Talvez eles soubessem que os ensinamentos de Ellen contra o uso do Quinino foram responsáveis por matar muitos dos primeiros missionários adventistas. Quando esses missionários pegaram malária, eles não administraram o medicamento para salvar as suas vidas e as de seus filhos.[13]
Além disso, muitos dos “atores do drama de Battle Creek” estavam cientes de que os testemunhos dela eram frequentemente o resultado de influências de outras pessoas sobre ela. Como, por exemplo, o caso de A. R. Henry.[14]
Segundo o White Estate, A. R. Henry era um banqueiro de Battle Creek que se tornou adventista do sétimo dia. Em 1882, ele foi convidado a integrar a equipe administrativa da Review and Herald Publishing House. Em 1895-1896, Ellen White, que estava na Austrália, começou a se preocupar que A. R. Henry e outro empresário adventista, Harmon Lindsay, estavam exercendo influência mundana sobre a obra. Harmon Lindsay era tesoureiro da Conferência Geral, localizada em Battle Creek. Segundo o White Estate, ela começou a enviar testemunhos para os principais líderes da conferência, em particular para O. A. Olsen, presidente da Conferência Geral. Como resultado desses testemunhos, A. R. Henry e Harmon Lindsay perderam suas posições denominacionais.[15]
Aqui está o que o White Estate diz sobre essa situação:
“Embora Ellen White tivesse simpatia para com Olsen, ela não poupou palavras a ele: ‘Eu senti que você estava sendo “amarrado de mãos e pés”, e submetendo-se àquilo submissamente’. Ela via claramente o que os outros não podiam ver, porque Deus estava iluminando sua mente. ‘As coisas estão balançando em cordas erradas’. Ela viu, por trás do aparente raciocínio, que os principais homens estavam agindo ‘como se estivessem no lugar de Deus’, ‘…lidando com seus semelhantes, como se fossem máquinas. Não posso respeitar a sabedoria deles, nem ter fé no seu cristianismo.’ Depois, ela escreve especificamente: ‘O Senhor me apresentou os perigos que há nele [Henry]. Eu não espero nada, mas ele, como sempre fez, dirá: “Alguém contou à irmã White!”. Isso mostra que ele não tem fé em minha missão ou testemunho, e ainda irmão Olsen, você tem feito dele, seu braço direito.’”[16]
Pelo que sabemos do fiasco de Battle Creek, não é de surpreender que A. R. Henry tivesse pouca fé nos testemunhos. Questões sobre seu dom profético estavam surgindo em todos os lugares como resultado de seus vários erros. Seja como for, com suas palavras, ela o colocou em uma classe de indivíduos que agem como se estivessem no lugar de Deus e que lidam com seus semelhantes como se fossem máquinas. Henry perdeu o emprego denominacional por causa dessas acusações. Quando o advogado de Henry começou a “apertar” a Igreja sobre o assunto, uma investigação interna começou a descobrir como Ellen White obteve as informações sobre A. R. Henry. Enquanto eles se esforçavam para descobrir como fariam para se defender do processo judicial previsto, veja o que aconteceu segundo o relato do Dr. J. H. Kellogg (lembrando que ele era o CEO do Sanatório de Battle Creek):
“Evans disse: ‘Esse testemunhos, de algum jeito, tem que parar! Se fossemos em maior número e permanecêssemos unidos, acredito que poderíamos parar com isso.’ Ele disse: ‘Will White não acredita nesses testemunhos. Agora vou lhe contar como eu sei disso.’ Ele disse: ‘Você sabe que A. R. Henry estava nos processando por difamação, e você se lembra que o Sr. Hulbert foi nosso advogado. Eu fui ao escritório do Sr. Hulbert um dia, e ele disse: “Onde a Sra. White conseguiu essas informações sobre o Sr. A. R. Henry?”‘ Henry tinha afirmado que as coisas escritas sobre ele [no testemunho] não eram verdadeiras.
Agora, quero lhe contar algo sobre isso: Eu sei como esse testemunho de Henry foi fabricado. Um dia, no escritório, R. O. Tait veio até mim e disse: ‘Nós vamos dar um jeito naquele velho [Henry]’. Ele disse: ‘Estou me correspondendo com a irmã White, e, com a ajuda dela, daremos um jeito no velho. Vamos removê-lo, e não mais teremos esse homem lá.’ Algum tempo depois, A. O. Tait veio até mim, e disse que recebeu uma carta da irmã White, expulsando o velho. Ele disse que esteve passando informações a ela por telégrafo e por cartas, e que continuaria a fazer isso.
O Sr. Hulbert perguntou ao Sr. I. H. Evans: ‘Evans, como a Sra. White obtém essas informações?’ Evans disse: ‘Não conheço muito a Sra. White. Só me encontrei com ela uma vez. Meu entendimento é que ela é profeta, e que o Senhor lhe dá as informações em visões noturnas; ela tem visões como os velhos profetas.’ Sr. Hulbert disse: ‘Ah, caramba! Você não quer que eu acredite em bobagens como essa!’. Evans disse: ‘É nisso que eu sempre fui levado a acreditar.’ O Sr. Hulbert disse: ‘W. C. White, seu filho, está na cidade, e acho melhor você perguntar a ele sobre isso.’
Veja bem, a ideia de Will era salvar sua mãe da acusação de difamação, ao mostrar onde ela havia conseguido as informações, e passar isso para mim, para A. O. Tait e para os outros colegas [Eu não tinha escrito nenhuma informação a ela sobre Henry, porque eu estava meio com dó do velho, e eu estava bastante preocupado com ele]. Isso não livraria Ellen, pois Will não conhecia a lei. Ele era ignorante neste tipo de coisas, tanto que, pra ele, não havia nada melhor do que pensar que a estava livrando do problema, ao envolver aqueles homens. Então ele disse: ‘Minha mãe está em constante correspondência com a liderança, e recebeu as informações de várias pessoas’
Então Hulbert escreveu uma carta para Will White, fazendo a mesma pergunta, e a entregou para Evans. Evans a examinou, a colocou em um envelope, selou e a entregou para W. C. White [Ele estava em seu escritório quando fez isso]. W. C. White a levou para o andar de cima, e logo desceu. Evans disse: ‘W. C. White me entregou a carta, e eu a examinei. A carta dizia: “Minha mãe está em constante correspondência com os principais membros da denominação, com O. A. Olsen, Dr. J. H. Kellogg, A. O. Tait, W. O. Palmer e várias outras pessoas; ela recebeu as informações deles.”‘
Evans disse: ‘Passei o lápis, riscando toda a carta, até a parte inferior e à esquerda, não deixando nada além do “Atenciosamente, W. C. White.”‘ Will disse: ‘Por que você fez isso?’ Eu disse: ‘Você está entregando todo o caso.’ ‘Bem’, disse Will, ‘O que mais eu deveria dizer?’ Ele disse: ‘Você deveria dizer: “Minha mãe é profeta do Senhor. O Senhor vem a ela nas visões da noite, e Ele revelou a ela, as coisas com referência a A. H. Henry.”‘ Evans me disse: ‘O que você acha que Will respondeu? Will White disse: “Não posso mentir!”‘</p
Houve aquele testemunho sobre o qual, tanta confusão foi feita por causa de A. R. Henry. O próprio Will White testemunhou sobre o caso, com fatos reais. Ele confirma que as coisas apresentadas naquele testemunho foram enviadas à sua mãe por A. O. Tait e por outras pessoas, e que A. R. Henry foi condenado sem piedade, por algo que ele não havia feito. Foi feito um enorme alvoroço sobre isso, pois era dito que ele estava resistindo ao Senhor. Isso tudo de acordo com o próprio testemunho de W. C. White. [17]
Um diálogo que aborda o caso:
Bordeau: “Willie me disse algo sobre isso.”
Kellogg: “Eu sabia o tempo todo!”
Bordeau: “Ele me disse que o que a irmã White viu, não foi com relação ao roubo da instituição ou qualquer coisa assim, mas com relação à retenção de fundos do Senhor.”
Kellogg: Havia muitas coisas nele [testemunho] que não eram verdadeiras, mas apenas fofocas que as pessoas haviam enviado. Henry sabia disso, e o irmão Olsen também. Isso causou um impacto muito terrível em Henry, porque quando esses homens escreveram para ela, ela enviou seu testemunho de volta a eles, enviou cópias para Tait e Palmer, e enviou uma cópia para O. A. Olsen. Olsen deveria pegar a carta e lê-la para Henry. Não deveria entregá-la para ele, mas somente ler. Olsen viu o que ele tinha pela frente, pois ele sabia que Henry descobriria, imediatamente, de onde a coisa tinha vindo. Havia referências a problemas que ele teve com A. O. Tait e outros, e assuntos pessoais também; e ele sabia que Henry iria, rapidamente, ligá-las às pessoas de onde as informações vieram.
Olsen não se atreveu a encontrá-lo, e assim, carregou a carta no bolso por três semanas. Enquanto isso, Tait e Palmer vazavam o testemunho aos garotos do escritório. Então, depois de algum tempo, a coisa foi chegando aos ouvidos de A. R. Henry através dos meninos, e então, a coisa “pegou fogo”.[18]
Como mencionamos anteriormente, Ron Graybill, ex-secretário associado do White Estate, declarou em sua dissertação de doutorado (que foi vazada) de que os líderes da Igreja frequentemente manipulavam Ellen White para o próprio benefício deles, enquanto que em outras ocasiões, ela os manipulava para conseguir o que queria.[19] A situação de A. R. Henry é um bom exemplo de como os líderes da IASD a manipularam para favorecer seus próprios projetos pessoais.
Os médicos pediram que ela respondesse às questões que os inquietavam, mas a reação dela às perguntas foi tão sem sentido quanto foram as coisas que eles estavam pedindo para que ela explicasse. No início, ela teve uma visão “de Deus” instruindo-a a responder a todas as suas perguntas. Depois de receber as perguntas, teve outra visão instruindo-a a não respondê-las.[20]
Os médicos, diferentemente do clero adventista, não dependiam da Igreja para alimentar suas famílias, por isso eram muito mais livres do que qualquer outra classe de pessoas para pensar por si e agir de acordo.
O Dr. J. H. Kellogg permaneceu um fiel guardador do sábado até sua morte. No entanto, o Dr. William Sadler tornou-se o líder do Movimento de Urântia, que investigou as reivindicações do espiritismo e ensinou que as verdades espirituais podem ser canalizadas por seres sobrenaturais através de médiuns humanos. No livro, Urântia: O Grande Mistério do Culto (Martin Gardner, Prometheus Books, 1995), um livro publicado pela primeira vez em 1955 sob a direção do Dr. William Sadler, o autor descreve o Livro de Urântia como “a mais vasta obra já produzida por superseres, através de humanos contatados. Ela difere das ‘Bíblias’ anteriores, pois, contém uma grande quantidade de ciência, bem como uma biografia detalhada de Jesus Cristo completa, com fatos não encontrados nos Evangelhos.” Dr. Wilfred Custer Kellogg, um empresário de Battle Creek e parente do Dr. John Harvey Kellogg, é descrito por Gardner como um dos dois homens que tiveram a maior parcela de responsabilidade na publicação do Livro de Urântia. Gardner diz: “Ambos começaram a desafiar os testemunhos da irmã Ellen White, considerando que, uma vez, eles acreditaram que seus livros e pregações foram divinamente inspirados.”[21]
“Muitos falsos profetas se levantarão, e enganarão a muitos.” (Mateus 24:11)
O fiasco da visão dos edifícios de Chicago
Esse problema realmente provou, sem sombras de dúvida, que suas alegações proféticas eram falsas. Nossos autores tem provado isso de forma esmagadora com a apresentação de nossas pesquisas.
A posição dos apologistas adventistas do sétimo dia é que Deus deu a Ellen White uma visão do edifício ou edifícios, mas não forneceu muitos detalhes sobre o significado da visão. Portanto, foi ela quem deu a interpretação da visão, e não Deus, e, portanto, seu erro está dentro dos limites normais para um profeta que não está citando Deus. Eles dizem que ela não é culpada por não acertar as coisas simplesmente porque Deus não lhe deu nenhuma informação adicional, deixando para ela a incumbência de interpretar o significado. Seus apologistas argumentam que Dr. Kellogg estava planejando, sim, edificar um prédio e que a visão teve o efeito desejado, impedindo a referida construção. Essa racionalização não faz sentido, no entanto, porque não ficou claro a qual edifício ela estava se referindo.[22]
Como você verá ao ler os vários relatos do incidente fornecidos por diferentes testemunhas, Ellen e seu filho Willie C. White eram a favor da construção de um prédio para abrigar a Escola Médico-missionária Americana em Chicago. Esse planejamento é aparente nos registros que fornecemos de sua presença na sessão da Conferência Geral de 1901 e em uma reunião dos principais líderes da Igreja, na qual foi registrada uma declaração de Willie C. White atestando seu total apoio ao projeto. Como o Dr. Kellogg afirmou, os registros provam que ele nunca pensou em construir qualquer tipo de edifício, mas que sempre alugava ou comprava prédios antigos para seu trabalho médico-missionário em Chicago. A sessão da Conferência Geral e a reunião de planejamento do conselho aconteceram bem depois do testemunho enviado por ela a Kellogg em 1899. Basta verificar a linha do tempo fornecida nas páginas subsequentes.
Mais de 100 anos se passaram desde o fiasco da visão dos edifícios de Chicago, e tudo o que temos são relatos escritos do ocorrido. Os pesquisadores têm que levar em consideração a possibilidade das testemunhas não terem sido totalmente parciais. Temos boas razões para crermos que Ellen White tinha segundas intenções ao desacreditar o Dr. J. H. Kellogg. No entanto, também devemos entender que ele e seu meio-irmão Merritt G. Kellogg poderiam estar inconscientemente buscando retaliação devido à humilhação que o Dr. John Harvey Kellogg sofreu como resultado de sua repreensão pública. No entanto, o Dr. Merritt G. Kellogg foi um adventista destacado e médico-missionário com boa reputação na Igreja. Não há nada em seus registros de serviços prestados na comunidade adventista antes de seu envolvimento com o fiasco que sugeriria que ele não fosse um cristão honrado.[23]
O fracasso de Ellen White em acertar em alguns detalhes importantes da visão causou estragos na vida dos líderes da Igreja e deixou Deus em “maus lençóis”, já que ela fez parecer que Deus havia lhe mostrado algo que não era verdade. Seus apologistas gostam de compará-la, ao receber uma visão que ela não entendeu, com o profeta Daniel e a visão que ele recebeu e não entendeu. Infelizmente, este é um péssimo exemplo, pois a falta de entendimento da visão não fez com que Daniel deixasse Deus em situação difícil. E além disso, Deus enviou um anjo para ajudá-lo a entender o sonho.[24]
Kellogg afirmou que sua repreensão veio na forma de um testemunho. Ellen e Willie White nunca negaram que a repreensão tenha vindo em forma de um testemunho. “Testemunho” é um termo usado por Ellen White e entendido pelos adventistas como sendo uma mensagem com um conteúdo que vem diretamente de Deus. Nós não precisamos acreditar em Kellogg ao dizer que a repreensão que recebeu de Ellen tenha sido feita na forma de um testemunho; já que nem Ellen White nem seu filho Willie White negaram isso. Mais importante, temos a palavra de um líder adventista do sétimo dia e historiador da Igreja, Alonzo H. Baker, que trabalhou para o Dr. Kellogg durante os seus últimos anos de sua vida, que afirma que ele lhe mostrou pessoalmente a carta e a muitas outras pessoas. Aqui está o que Baker disse em um artigo que ele publicou na edição de outono da Espectrum em 1972:
“Nos quase três anos em que estive com Kellogg, o tempo total que ele passou falando da sequência de eventos [de 1880 a 1907] que levaram à ‘ruptura’, certamente chegou à marca de 1.000 horas. Ele tinha documentação, para algumas de suas afirmações. Por exemplo, a resolução da sua expulsão da Igreja não tem nenhuma referência à suposta heresia do panteísmo. Ele me mostrou cópias de cartas de oficiais da Igreja em Battle Creek a Sra. White, na Austrália, dizendo a ela que Dr. Kellogg havia ‘comprado grandes edifícios’ no centro de Chicago, e planejava iniciar lá, outro Sanatório de Battle Creek. A verdade era que ele havia arrendado um prédio, em Chicago, com a finalidade de acomodar, alimentar e dar assistência médica, além de fornecer evangelismo, a alguns dos mais pobres nas favelas de Chicago, alcoólatras, prostitutas e ‘favelados’ em geral.”[25]
Ellen escreveu cartas a amigos e familiares, as quais foram recebidas como cartas “comuns”. Como Ellen repreendeu Kellogg em um testemunho, devemos reputá-la por um alto padrão profético. Uma fonte intimamente associada ao White Estate me informou que a carta específica a que Kellogg se refere provavelmente não está disponível no White Estate. No entanto, várias cartas de alguém ligado a ele nos foram disponibilizadas indiretamente pelo White Estate.[26]
Pontos Importantes
Os extensos recursos fornecidos no restante deste capítulo, juntamente com uma linha do tempo dos eventos, fornecem evidências abundantes que demonstram que o testemunho de Ellen para Kellogg era inapropriado, equivocado e até cômico. Aqui está uma lista parcial de seus erros:
- 1. Ela repreendeu o Dr. Kellogg na forma de um testemunho oficial. (Nota: Não conseguimos obter uma cópia do testemunho. No entanto, nenhuma das testemunhas, incluindo a própria Ellen White, nega que a repreensão tenha sido feita na forma de um testemunho, e temos uma declaração de um respeitado historiador da IASD afirmando que ele viu o testemunho com seus próprios olhos.)[27]
- 2. Os fundos para esses edifícios vieram ou viriam de fundos do Sanatório de Battle Creek. Os fundos viriam de um prédio de propriedade da Escola de Battle Creek, uma entidade separada do Sanatório, e da venda antecipada de uma propriedade particular da escola.[28]
- 3. Dr. Kellogg nunca planejou erguer nenhum edifício em Chicago. Ele apenas alugava ou comprava prédios antigos para seu trabalho médico-missionário na cidade.[29]
- 4. Ellen White e seu filho W.C. White apoiaram publicamente a construção de um novo prédio para a Escola Médica Americana em Chicago em 1901, após ela ter condenado o Dr. Kellogg por supostamente planejar construir em Chicago em 1899.[30]
- 5. Não ficou claro a qual edifício específico Ellen White estava se referindo em seu testemunho repreendendo o Dr. Kellogg. Até mesmo o comitê planejando o novo prédio da Escola Médica em 1901 não percebeu que ela poderia estar se referindo a esse projeto.[31]
- 6. Ellen White exigiu que o Dr. Kellogg enviasse fundos do Sanatório de Battle Creek para seu projeto de sanatório na Austrália, o que seria ilegal de acordo com as leis de Michigan na época.[32]
Linha do Tempo Extra: Como Dr. Kellogg Financiou suas Operações em Chicago
Essa linha do tempo detalha como o Dr. Kellogg financiou suas operações médico-missionárias em Chicago até o momento em que Ellen White o acusou de desviar fundos do Sanatório de Battle Creek para tais atividades:
1893:
- – Henry e Wessels doam US$ 40.000 a Kellogg. Eles são adventistas do sétimo dia relativamente novos cuja fortuna veio da descoberta de uma mina de ouro em sua propriedade na África do Sul.
- – A Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, usando a doação dos irmãos Wessels, estabelece a Associação Médico-Missionária e Beneficente para financiar operações voltadas aos pobres e elege Dr. Kellogg como presidente.
- – A Associação adquire uma propriedade no College Place, nº 26, e abre uma filial do Sanatório de Battle Creek em Chicago.
Junho de 1893:
- – Kellogg não consegue encontrar um prédio adequado para a missão de Chicago, então negocia um acordo para compartilhar as instalações da Pacific Garden Mission na Rua West Van Buren, nº 98-100.
1893-1894:
- – Kellogg começa a anunciar nas publicações adventistas pedidos para que enviem roupas usadas em boas condições para a Missão.
Primavera de 1895:
- – Kellogg anuncia um programa para arrecadar dinheiro para a obra médico-missionária em Chicago. Pede aos adventistas que dediquem parte de suas terras para hortas e doem o dinheiro da venda da produção.
1895:
- – Um prédio na Avenida South Wabash, nº 1926, é adquirido e se torna a Escola de Medicina Americana. Os custos operacionais são compartilhados pela Associação e pelo Sanatório de Battle Creek.
Verão de 1896:
- – Uma velha igreja em Custom House Place, nº 42, é comprada para abrigar a Missão, que havia crescido. É renomeada para The Workingman’s Home.
1896:
- – Kellogg parece exagerar à Ellen White sobre o financiamento de suas operações em Chicago. Na verdade, a Associação estava apelando diretamente aos membros adventistas por ajuda financeira.
1897:
- – Kellogg escreve a Ellen White que apenas uma pequena parte do dinheiro recebido pela Igreja Adventista é usada para “realmente promover a causa de Cristo”.
- – Kellogg admite que seus esforços para tornar a Missão Chicago autossuficiente não tiveram sucesso até o momento.
1898:
- – Kellogg prepara um manual para a obra missionária em cidades que enfatiza evitar diferenças doutrinárias entre denominações.
Esta linha do tempo leva até 1899, quando Ellen White acusa Kellogg em um testemunho de construir um edifício com fundos desviados do Sanatório de Battle Creek.
A pesquisa sugere que há duas explicações para as manifestações de Ellen White durante as visões: canalização de espíritos ou consequências de sua lesão cerebral na infância. Um número significativo de pessoas que perderam a fé nela como profetisa bíblica concluiu que se tratava de canalização de espíritos. Considerando todas as informações disponíveis, incluindo o uso frequente de mentiras e enganos por Ellen White para manter a aparência de conexão direta com Deus, a resposta mais lógica é que ela era uma médium espírita com fortes conexões com o cristianismo. Ela se iludiu acreditando que poderia realizar um grande bem se as pessoas acreditassem que ela era porta-voz de Deus, concluindo que os fins justificavam os meios.
Em suma, as evidências indicam fortemente que a visão de Ellen White sobre os edifícios de Chicago estava equivocada em vários aspectos fundamentais. Ela parece ter acusado erroneamente o Dr. Kellogg com base em informações de segunda mão e rumores, enquanto alegava que Deus havia lhe mostrado diretamente essas coisas em visão profética. Esse incidente lança sérias dúvidas sobre a confiabilidade de suas alegações de possuir o dom de profecia. Também sugere que ela estava disposta a usar sua autoridade profética de maneiras questionáveis para promover suas próprias agendas e desacreditar oponentes.
O fiasco foi um momento decisivo que contribuiu para uma crescente desconfiança nas alegações proféticas de Ellen White entre muitos líderes adventistas proeminentes, especialmente os médicos associados ao Dr. Kellogg. Isso pavimentou o caminho para os debates francos sobre seu papel na Conferência Bíblica de 1919.
O Estatuto para Sanatórios de Michigan e a Questão Legal
Em 1897, a legislação de Michigan passou por uma reformulação significativa com a introdução do novo Estatuto para Sanatórios. Esse estatuto estabelecia regulamentos rigorosos sobre a administração financeira das instituições de saúde, incluindo a proibição de transferir fundos arrecadados no estado para projetos fora de suas fronteiras. Essa legislação impactou diretamente as operações do Sanatório de Battle Creek, liderado pelo Dr. John Harvey Kellogg, e tinha implicações para os planos de Ellen White de financiar o sanatório na Austrália usando recursos do sanatório de Michigan.
A insistência de Ellen White em redirecionar fundos para o projeto australiano, apesar das restrições legais, colocou-a em uma posição controversa. Ao exigir que o Dr. Kellogg desobedecesse à lei estadual em nome de uma suposta instrução divina, Ellen White não apenas desafiou as normas legais mas também colocou em xeque a ética de suas próprias reivindicações proféticas. Essa ação destacou um conflito entre o dever civil e o percebido dever divino, criando um dilema moral e legal.
A Reação do Dr. Merrit G. Kellogg
Dr. Merrit G. Kellogg, meio-irmão de John Harvey Kellogg, visitou Ellen White na Austrália em 1900. Sua visita ocorreu em um momento crítico, quando a tensão entre Ellen White e John Harvey Kellogg estava crescendo devido às acusações relacionadas aos edifícios de Chicago. Merrit forneceu esclarecimentos vitais sobre a legalidade das demandas financeiras de Ellen, destacando que a transferência de fundos do Sanatório de Battle Creek para projetos fora de Michigan violaria o novo estatuto.
A intervenção de Merrit foi fundamental para entender a complexidade das alegações de Ellen White. Ele tentou mediar a situação, oferecendo uma perspectiva racional que enfatizava a importância de aderir à legislação vigente. Esse episódio revelou não apenas as dificuldades enfrentadas por Ellen White em navegar pelas implicações legais de suas visões, mas também a importância da consulta a conselhos informados antes de fazer reivindicações públicas.
A Contradição Pública e a Confusão Dentro da Igreja
A postura pública de Ellen White e seu filho Willie C. White em apoio à construção de um novo edifício para a Escola Médica Americana em Chicago, em 1901, foi percebida como contraditória em relação às suas advertências anteriores. Essa mudança de posição causou confusão considerável dentro da comunidade adventista, levantando questões sobre a consistência e a confiabilidade das profecias de Ellen White.
A questão central dessa contradição era se Ellen havia, de fato, condenado a construção de edifícios em Chicago em suas visões anteriores ou se suas advertências foram mal interpretadas. A aparente inversão de sua postura gerou debate sobre a interpretação e aplicação das visões proféticas na tomada de decisões práticas da igreja. Isso também destacou o desafio de discernir entre orientação divina e opiniões pessoais nas lideranças religiosas.
Reações dos Médicos de Battle Creek e o Impacto na Credibilidade
A resposta dos médicos associados ao Dr. Kellogg às acusações de Ellen White variou de descrença a aberta zombaria. Esses profissionais, que gozavam de independência financeira da igreja, estavam mais livres para questionar as alegações de Ellen sem temer represálias. A controvérsia em torno dos edifícios de Chicago e outras visões questionáveis diminuiu significativamente a credibilidade de Ellen White entre este grupo.
Os médicos de Battle Creek se encontravam em uma encruzilhada, questionando a autoridade profética de Ellen White diante de evidências de contradições e incoerências. A situação foi complicada pelo fato de Ellen White ter mantido práticas pessoais, como o consumo de carne, que contradiziam suas próprias instruções para um estilo de vida vegetariano estrito, uma diretriz que ela promoveu vigorosamente dentro da comunidade adventista. Este aspecto da sua conduta pessoal não só minou sua autoridade moral, mas também alimentou o ceticismo em relação às suas reivindicações proféticas.
Conclusão
A percepção de que Ellen White poderia ter usado informações recebidas de terceiros como base para suas visões, em vez de revelações divinas diretas, levou a uma maior investigação e debate dentro da comunidade adventista. O caso de A.R. Henry, por exemplo, ilustrou como informações possivelmente deturpadas ou incompletas poderiam ter sido apresentadas como visões proféticas, levantando sérias questões sobre a origem e a autenticidade de suas mensagens.
A crescente desconfiança em relação a Ellen White culminou na Conferência Bíblica de 1919, um evento crítico na história adventista, onde líderes da igreja reuniram-se secretamente para debater a autoridade e a confiabilidade de suas visões e escritos. Essa conferência revelou um profundo mal-estar entre os líderes da igreja sobre como lidar com as discrepâncias e erros em seus testemunhos proféticos.
O debate não foi apenas sobre a veracidade das visões de Ellen White em relação aos edifícios de Chicago, mas também sobre uma gama mais ampla de questões que incluíam acusações de plágio, contradições em seus escritos e a tensão entre suas reivindicações proféticas e a realidade observável. A discussão na Conferência Bíblica de 1919 não resolveu completamente essas questões, mas marcou um momento de reflexão e reavaliação dentro da Igreja Adventista do Sétimo Dia sobre o papel de Ellen White e a interpretação de sua obra.
No coração dessa controvérsia estava a questão fundamental sobre a natureza da inspiração e revelação profética. O caso dos edifícios de Chicago exemplificou os desafios enfrentados pelos líderes religiosos ao reivindicar orientação divina direta, especialmente quando tais reivindicações entram em conflito com evidências empíricas ou exigências legais. Também destacou o delicado equilíbrio necessário entre fé nas mensagens proféticas e o uso do discernimento crítico para avaliar sua validade e aplicabilidade prática.
Consequentemente, a controvérsia em torno de Ellen White e os edifícios de Chicago teve um impacto duradouro na Igreja Adventista, estimulando debates contínuos sobre a interpretação de sua herança profética. Esses debates contribuíram para uma maior diversidade de pensamento dentro da igreja, à medida que os membros e líderes buscavam compreender a complexa relação entre fé, profecia e prática religiosa no contexto moderno.
Em última análise, o legado dessa controvérsia reflete as tensões inerentes ao movimento adventista e a busca contínua por uma compreensão mais profunda da missão e identidade da igreja em um mundo em constante mudança. Ao examinar e refletir sobre essas questões, a Igreja Adventista do Sétimo Dia continua a evoluir, buscando manter-se fiel aos seus princípios fundamentais enquanto se adapta aos desafios e oportunidades do século XXI.