No Deserto da Tentação e os Problemas Teológicos de Ellen White

Análise Teológica do Livro Confrontation de Ellen G. White

Confrontation, traduzido para o português como No Deserto da Tentação, é uma obra de Ellen G. White que explora detalhadamente as tentações de Cristo no deserto. Utilizando material de outras publicações, incluindo O Desejado de Todas as Nações, White oferece uma visão ampliada sobre a natureza humana e divina de Cristo e Sua luta contra Satanás. No entanto, o livro levanta várias questões teológicas importantes, especialmente em relação à impecabilidade de Cristo e à Sua capacidade de resistir ao pecado. A seguir, discutimos quatro pontos específicos que expandem a narrativa bíblica e desafiam a compreensão tradicional da divindade e humanidade de Cristo.

1. Natureza Humana de Cristo

No capítulo “Confrontation in the Desert” (Confronto no Deserto), página 17, Ellen White afirma que Cristo assumiu a natureza humana após quatro mil anos de degeneração causada pelo pecado, sugerindo que Ele possuía uma humanidade enfraquecida:

“Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado.”

Essa declaração sugere que Cristo tomou sobre Si uma “natureza humana caída”, o que contradiz a doutrina tradicional da impecabilidade de Cristo, que sustenta que Ele era completamente livre de qualquer inclinação ao pecado. Esse conceito levanta preocupações teológicas sobre a visão adventista de uma natureza vulnerável em Cristo, algo não enfatizado nos relatos bíblicos.

2. Possibilidade de Pecado em Cristo

No capítulo “The First Temptation of Christ” (A Primeira Tentação de Cristo), página 29, Ellen White declara:

“Ele poderia ter pecado; Ele poderia ter caído, mas nem por um momento houve nEle uma propensão má.”

Aqui, White sugere que Cristo tinha a capacidade de pecar, o que levanta debates significativos sobre Sua impecabilidade e a natureza de Suas tentações. A visão tradicional de Cristo na teologia cristã é que, sendo Ele divino, não poderia pecar, mesmo ao enfrentar tentações. Essa sugestão de vulnerabilidade coloca em questão a visão de Sua perfeita divindade.

3. Cristo e o Pecado da Presunção

No capítulo “The Second Temptation” (A Segunda Tentação), página 48, Ellen White explora a tentação de Satanás para que Cristo Se lançasse do pináculo do templo, interpretando essa proposta como uma tentativa de Satanás de levar Cristo a pecar por presunção:

“Satanás tentou levar Cristo a dar um passo em direção à presunção… Ele pensou que poderia explorar a natureza humana de Cristo para fazê-Lo cruzar a linha entre confiança em Deus e presunção.”

Esse comentário sugere que Cristo, em Sua natureza humana, poderia ter sido suscetível a testar o poder de Deus, sugerindo uma fraqueza em Sua confiança no Pai. Tal expansão é teologicamente problemática, pois a Bíblia apresenta Cristo como tendo plena confiança em Deus, sem a necessidade de colocar Sua fidelidade à prova. Essa ideia compromete a compreensão de Sua fé perfeita e inabalável.

4. Enfraquecimento da Humanidade de Cristo

No capítulo “Victory Through Christ” (Vitória Através de Cristo), página 46, Ellen White afirma que Cristo precisou da “força combinada” de Sua natureza humana e divina para vencer as tentações:

“O Filho exaltado de Deus, ao assumir a humanidade, aproximou-Se dos homens, mas Sua vitória foi alcançada através da força combinada de Sua divindade e humanidade.”

Essa declaração levanta questões sobre a capacidade de Cristo de resistir às tentações como verdadeiro representante da humanidade. Tradicionalmente, entende-se que Cristo, sendo plenamente Deus e plenamente homem, poderia resistir sem que Sua divindade diminuísse a realidade de Sua humanidade. Ao enfatizar a necessidade extrema de uma “força combinada,” essa interpretação sugere uma insuficiência da humanidade de Cristo para vencer Satanás, o que desafia a visão teológica de que Ele poderia ter resistido unicamente por Sua fidelidade humana e comunhão com o Pai.

Esses quatro pontos, com exemplos diretos do livro Confrontation, mostram as expansões teológicas de Ellen G. White e levantam questões significativas sobre a natureza e impecabilidade de Cristo conforme descrita nos escritos adventistas.

No Deserto da Tentação e os Problemas Teológicos de Ellen White

Este artigo examina criticamente as interpretações de Ellen G. White sobre as tentações de Cristo no deserto, conforme apresentadas em seu livro No Deserto da Tentação (originalmente publicado como Confrontation). As observações são categorizadas como Expansões (E), Adições (A), Contradições (C) e Erros (ER), comparando-as com as Escrituras.

Expansões (E)

E1: A Natureza da Tentação de Cristo

Afirmado: “Cristo foi tentado em todos os pontos como nós, porém de maneira mais intensa, pois Ele estava em plena comunhão com o Pai, e Satanás sabia que derrotar Cristo significaria a vitória total sobre a humanidade.”

Análise: A Bíblia afirma que Cristo foi tentado em tudo como nós (Hebreus 4:15), mas não menciona que Suas tentações foram “mais intensas” devido à Sua comunhão com o Pai. Essa expansão pode sugerir que a experiência de Cristo foi fundamentalmente diferente da nossa.

Fonte Original: Ellen G. White afirma que “Cristo foi tentado em todos os pontos como nós, porém sem pecado” (O Desejado de Todas as Nações).[1]

E2: A Preparação de Cristo no Deserto

Afirmado: “Durante os quarenta dias no deserto, Cristo jejuou e orou, preparando-Se mental e espiritualmente para enfrentar as tentações de Satanás.”

Análise: Os Evangelhos mencionam que Jesus jejuou por quarenta dias e noites (Mateus 4:2), mas não detalham uma preparação mental e espiritual específica para enfrentar as tentações. Essa expansão pode implicar que Cristo necessitava de um período preparatório.

Fonte Original: Ellen G. White escreve: “Durante quarenta dias, Ele jejuou e orou” (O Desejado de Todas as Nações).[1]

Adições (A)

A1: O Conselho dos Anjos Antes da Tentação

Afirmado: “Antes de entrar no deserto, Cristo foi fortalecido por anjos, que O prepararam para as provações que enfrentaria.”

Análise: As Escrituras mencionam anjos fortalecendo Jesus no Getsêmani (Lucas 22:43), mas não antes de Sua tentação no deserto. Essa adição não encontra suporte direto nos relatos bíblicos.

Fonte Original: Ellen G. White afirma que “os anjos serviram a Jesus” após as tentações (O Desejado de Todas as Nações).[1]

A2: A Luta Espiritual no Deserto

Afirmado: “No deserto, Cristo lutou não apenas contra as tentações físicas, mas também contra as tentações espirituais de dúvida e desespero.”

Análise: A Bíblia descreve as tentações de Cristo como relacionadas a necessidades físicas e desafios à Sua identidade divina (Mateus 4:1-11), sem mencionar uma luta interna de dúvida e desespero.

Fonte Original: Ellen G. White descreve as tentações de Cristo no deserto, mas não menciona uma luta interna de dúvida e desespero (O Desejado de Todas as Nações).[1]

Contradições (C)

C1: A Impecabilidade de Cristo

Afirmado: “Cristo poderia ter pecado; Ele poderia ter caído, mas nem por um momento houve nEle uma propensão má.”

Análise: Essa declaração sugere que Cristo tinha a capacidade de pecar, o que pode contradizer a doutrina da impecabilidade de Cristo, que afirma que, embora tentado, Ele não poderia pecar devido à Sua natureza divina.

Fonte Original: Ellen G. White escreve: “He could have sinned; He could have fallen, but not for one moment was there in Him an evil propensity” (Selected Messages, Livro 1, p. 256).[2]

Erros (ER)

ER1: A Natureza Humana de Cristo

Afirmado: “Cristo tomou sobre Si a natureza humana após quatro mil anos de degeneração devido ao pecado.”

Análise: Essa afirmação pode ser interpretada como indicando que Cristo assumiu uma natureza humana caída, o que levanta questões teológicas sobre a pureza e impecabilidade de Sua natureza humana.

Fonte Original: Ellen G. White escreve: “Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado” (O Desejado de Todas as Nações).[1]

Conclusão

O artigo original destaca que as interpretações de Ellen G. White sobre as tentações de Cristo contêm expansões, adições e possíveis contradições em relação aos relatos bíblicos. Essas observações sugerem a necessidade de uma análise cuidadosa dos escritos de White à luz das Escrituras para uma compreensão teológica precisa.

Referências

  1. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações. Disponível em m.egwwritings.org.
  2. Ellen G. White, Selected Messages, Livro 1, p. 256. Disponível em ellenwhite.cpb.com.br.