Lição 5 – Fé contra Todas as Dificuldades

Introdução

A Lição 5, intitulada “Fé contra todas as dificuldades”, destaca o compromisso inabalável dos reformadores protestantes com as Escrituras e a doutrina da salvação pela graça por meio da fé. Embora levante pontos válidos, a lição por vezes se baseia mais nas interpretações de Ellen White do que na exegese bíblica cuidadosa. Como cristãos bíblicos, devemos fundamentar nossa fé e prática no claro ensino das Escrituras, interpretadas em seu contexto histórico e literário.

Domingo: A Palavra de Deus Somente

A lição corretamente enfatiza o amor e compromisso dos reformadores com as Escrituras, citando Salmo 119:103-104,162.[1]

No entanto, a lição então cita extensivamente Ellen White sobre o poder das promessas bíblicas.[1] Embora suas palavras possam ser edificantes, devemos lembrar que apenas as Escrituras são “inspiradas por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” (2 Timóteo 3:16). Nosso foco deve estar na Bíblia em si, não em fontes secundárias.

Segunda: Transmitindo a Palavra de Deus

A lição destaca a confiança de Paulo de que a verdade de Deus prevaleceria (2 Coríntios 4:1-2, 13:8),[1] e corretamente observa que Deus usou tradutores da Bíblia como Tyndale apesar da oposição.

No entanto, a lição faz várias alegações históricas imprecisas sobre Tyndale, e sua interpretação de Daniel 12:3 e Apocalipse 14:13[1] parece forçada nesse contexto. Devemos ter cuidado para não ler ideias preconcebidas nos textos, mas interpretá-los em seu sentido intencionado original.

Terça: Iluminados pelo Espírito

A lição cita João 14:25-26 e 16:13-15 para ressaltar o papel do Espírito Santo em nos guiar a toda a verdade.[1] Isso certamente é um princípio bíblico importante.

No entanto, a lição então contrasta isso com estudiosos modernos que supostamente “minimizam o elemento sobrenatural” e “exageram o elemento humano” na Bíblia.[1] Essa é uma generalização injusta. Muitos estudiosos bíblicos evangélicos conservadores reconhecem tanto a inspiração divina quanto a instrumentalidade humana nas Escrituras (2 Pedro 1:21). Devemos evitar criar falsos dilemas.

Quarta: Somente Cristo, Somente a Graça

A lição apresenta corretamente a doutrina bíblica da salvação somente pela graça por meio da fé em Cristo, não por obras (Efésios 2:8-9, Romanos 3:23-24, 6:23).[1] Essa foi de fato a redescoberta transformadora de Lutero.

No entanto, a lição então cita extensivamente Ellen White sobre a redenção de Cristo.[1] Embora suas palavras possam ser tocantes, devemos basear nossa doutrina da salvação nas claras declarações bíblicas, não em fontes extra-bíblicas.

Quinta: Obediência – O Fruto da Fé

A lição afirma corretamente, com base em textos como Romanos 3:27-31 e 6:15-18, que a salvação pela graça através da fé não anula a obediência, mas a produz como fruto.[1]

No entanto, ao citar 1 Pedro 2:2 e 2 Pedro 3:18,[1] a lição parece sugerir que o crescimento cristão vem através do estudo das Escrituras por si só. Mas a santificação é obra do Espírito Santo em nós à medida que andamos por fé (Gálatas 5:16-25). Devemos ter cuidado para manter uma visão equilibrada da Palavra e do Espírito.

Análise Histórica


A lição afirma: “Muitas de suas traduções da Bíblia, que foram impressas em Worms, Alemanha, foram apreendidas e queimadas publicamente.”[1]

Correção: Embora algumas traduções da Bíblia de Tyndale possam ter sido queimadas, a grande maioria escapou da destruição. Como observa o historiador David Daniell: “Os oficiais de Wolsey podem ter queimado cem ou algumas centenas de Novos Testamentos… Mas alguns milhares devem ter escapado.”[2]

A lição afirma: “Ele [Lutero] decidiu traduzir a Bíblia das línguas originais e corrigir alguns erros na tradução de Wycliffe de cerca de 140 anos antes.”[1]

Correção: Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, não para o inglês. Além disso, não há evidência de que ele tenha tentado corrigir erros na tradução de Wycliffe, que foi para o inglês médio.[3] Parece haver uma confusão aqui com o trabalho de tradução de Tyndale, que de fato buscou melhorar a Bíblia de Wycliffe.[4]

A lição cita extensivamente a descrição de Ellen White das experiências de Lutero[1], ao invés de se basear em fontes históricas primárias, como os próprios escritos de Lutero.
Embora White possa oferecer insights espirituais, suas obras não devem ser tratadas como fontes históricas primárias. Para entender Lutero, devemos nos voltar para seus próprios escritos e a melhor pesquisa histórica.

Conclusão

A Lição 5 levanta temas cruciais sobre a autoridade das Escrituras e o evangelho da graça que impulsionaram a Reforma Protestante. Os reformadores de fato demonstraram coragem notável em sua dedicação à verdade bíblica.

No entanto, ao depender pesadamente da narrativa histórica de Ellen White, a lição por vezes faz alegações que não são respaldadas pela melhor pesquisa histórica. Como cristãos, nossa fidelidade suprema deve ser à Palavra de Deus, não a fontes extra-bíblicas.

Ao estudarmos a história da igreja, devemos nos esforçar para sermos precisos, fundamentando nossas conclusões na evidência bíblica e histórica. Somente então poderemos discernir corretamente as lições do passado e aplicá-las fielmente no presente.

Que o exemplo dos reformadores nos inspire a amar e obedecer a Palavra de Deus, confiando unicamente na graça salvadora de Cristo. E que Seu Espírito nos conceda sabedoria ao estudar tanto as Escrituras quanto a história de Seu povo.

Referências:


[1] Lição da Escola Sabatina Adulta, 2º trimestre 2024, lição 5.
[2] David Daniell, William Tyndale: A Biography (New Haven, CT: Yale University Press, 1994), 192.
[3] Brian Cummings, ed., The Book of Common Prayer: The Texts of 1549, 1559, and 1662 (Oxford: Oxford University Press, 2011), xvi.
[4] David Daniell, The Bible in English: Its History and Influence (New Haven, CT: Yale University Press, 2003), 121.

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