Introdução
A Lição 3, intitulada “A luz brilha na escuridão”, aborda o tema do conflito entre a verdade de Deus e os enganos de Satanás no contexto da igreja pós-apostólica. Ela argumenta que, ao longo dos séculos, a igreja fez concessões, misturando verdades bíblicas com erros pagãos.
Embora seja verdade que a igreja nem sempre permaneceu fiel à Palavra de Deus, a lição muitas vezes se baseia mais nas interpretações de Ellen White do que no claro ensino das Escrituras. Como cristãos bíblicos, devemos ser cuidadosos para não ir além do que está claramente revelado na Bíblia, mesmo quando abordamos questões históricas.
Vamos analisar os pontos principais de cada dia:
Domingo: Concessões – A Estratégia Sutil de Satanás
A lição corretamente aponta que Satanás é um mentiroso e pai da mentira (João 8:44), em contraste com Jesus, que é a verdade (João 14:6). Ela também enfatiza o valor da verdade (Provérbios 23:23) e seu poder libertador (João 8:32).[1]
No entanto, a lição então cita extensivamente Ellen White para argumentar que “a circulação das Escrituras foi proibida” pela “igreja de Roma” por séculos, e que o papa “veio a ser quase universalmente reconhecido como o vigário de Deus na Terra”.[1] Essas são alegações históricas controversas que vão além do relato bíblico.
A Bíblia certamente adverte contra adicionar ou subtrair de suas palavras (Deuteronômio 4:2, Apocalipse 22:18-19), mas não fornece os detalhes históricos que Ellen White afirma. Devemos basear nossas doutrinas no claro ensino das Escrituras, não em interpretações extra-bíblicas da história.
Segunda: Lobos Vorazes
A lição cita as advertências de Paulo em Atos 20:29-30 sobre “lobos vorazes” que distorceriam a verdade e 2 Tessalonicenses 2:7 sobre o “mistério da iniquidade”.[1] Essas são advertências válidas sobre falsos ensinos que entrariam na igreja.
No entanto, a lição então especula que práticas pagãs como a adoração de ídolos e a observância do domingo foram introduzidas na igreja durante os séculos 4 e 5.[1] Novamente, essas são alegações históricas controversas que vão além do relato bíblico.
A Bíblia adverte contra falsos ensinos de maneira geral, mas não fornece os detalhes históricos específicos que a lição afirma. Devemos ser cuidadosos para não ler nossas próprias interpretações históricas nas Escrituras.
Terça: Protegidos pela Palavra
A lição corretamente enfatiza o poder da Palavra de Deus para nos proteger contra os enganos de Satanás (João 17:17, 2 Timóteo 3:16-17).[1] O Salmo 119 exalta a Palavra de Deus como uma lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho (v.105), dando entendimento aos simples (v.130).[2]
No entanto, a lição então argumenta que a erudição bíblica moderna mina a autoridade das Escrituras ao tratar a Bíblia como mera palavra humana.[1] Embora certamente existam abordagens críticas problemáticas, essa é uma generalização injusta. Muitos estudiosos bíblicos evangélicos conservadores combinam erudição cuidadosa com uma visão elevada da inspiração e autoridade das Escrituras.
A Bíblia deve ser nossa autoridade suprema, mas isso não significa rejeitar automaticamente todas as contribuições da erudição bíblica. Precisamos examinar cuidadosamente todas as coisas, retendo o que é bom (1 Tessalonicenses 5:21).
Quarta: Raciocínio Humano Separado das Escrituras
A lição adverte corretamente contra seguir um caminho que parece certo aos nossos próprios olhos, mas leva à morte (Provérbios 14:12).[1] Somente a revelação de Deus, não a mera opinião humana, é um guia confiável.
No entanto, isso não significa que a razão humana não tenha lugar na interpretação bíblica. Deus nos deu mentes racionais e espera que as usemos ao estudar Sua Palavra. O próprio exemplo dos bereanos, que examinaram as Escrituras diariamente para verificar os ensinos de Paulo (Atos 17:11), mostra o valor do raciocínio cuidadoso baseado na Bíblia.
A razão humana deve ser um servo, não um mestre, da revelação divina. Mas um estudo bíblico responsável envolve tanto a iluminação do Espírito Santo quanto o esforço mental diligente (2 Timóteo 2:15).
Quinta: Batalha pela Mente
A lição enfatiza corretamente a batalha espiritual pela mente humana (2 Coríntios 4:4).[1] Satanás busca cegar os incrédulos para a luz do evangelho, enquanto Deus brilha em nossos corações para nos dar o conhecimento de Sua glória em Cristo (2 Coríntios 4:6).
A passagem citada, João 1:4-5,9, também destaca Jesus como a verdadeira luz que ilumina todas as pessoas e brilha nas trevas.[2] É na Palavra encarnada, Jesus Cristo, que a luz e a vida de Deus são plenamente reveladas.
Conclusão
Em resumo, a Lição 3 levanta questões importantes sobre a batalha entre a verdade e o erro, a luz e as trevas. Ela corretamente enfatiza a Palavra de Deus como nossa defesa contra os enganos de Satanás e Jesus Cristo como a luz suprema.
No entanto, a lição muitas vezes se baseia em interpretações históricas questionáveis de Ellen White que vão além da clara revelação bíblica. Como cristãos comprometidos com o princípio Sola Scriptura, devemos fundamentar nossas crenças e ensinos nas Escrituras, não em fontes extra-bíblicas.
Que o Senhor nos dê discernimento para estudar diligentemente Sua Palavra, testando todas as coisas por esse padrão divino e agarrando-nos firmemente ao evangelho de Cristo, nossa única esperança de salvação.
Referências:
[1] Lição da Escola Sabatina Adulta, 2º trimestre 2024, lição 3.
[2] Bíblia Sagrada, Salmo 119:105,130; João 1:4-5,9.
Recursos Adicionais: Alguns pontos históricos problemáticos da Lição 3
1. Ellen White afirma: “Durante séculos, a circulação das Escrituras foi proibida. […] Sacerdotes e prelados sem escrúpulos interpretavam seus ensinos de modo que favorecesse suas pretensões.”[1]
Correção: Embora a Bíblia não estivesse amplamente disponível para as massas durante a Idade Média, isso se devia mais à falta de tecnologia de impressão e alto analfabetismo do que a uma proibição oficial. De fato, a Igreja Católica produziu inúmeras Bíblias manuscritas e encorajou a tradução para línguas vernáculas. Como observa o historiador de Princeton, Jaroslav Pelikan: “Tradução da Bíblia estava de fato ocorrendo durante os séculos anteriores à Reforma, mas agora se tornou um veículo para promover a causa do vernáculo contra o latim e do laicato contra o clero.”[2]
2. A lição especula que práticas pagãs como a adoração de ídolos e a observância do domingo foram introduzidas na igreja durante os séculos 4 e 5.[1]
Correção: A adoração cristã no domingo foi registrada já no final do século 1 e início do século 2, muito antes de Constantino. Por exemplo, a Didaquê (c. 80-120 d.C.) instrui: “No dia do Senhor, reúnam-se, partam o pão e deem graças.”[3] Quanto à veneração de imagens, o Concílio de Elvira (c. 305 d.C.) proibiu imagens nas igrejas, indicando que essa não era uma prática estabelecida nos primeiros séculos.[4]
3. A lição argumenta que a erudição bíblica moderna mina a autoridade das Escrituras ao tratar a Bíblia como mera palavra humana.[1]
Correção: Embora existam abordagens críticas que negam a inspiração divina, muitos estudiosos bíblicos evangélicos combinam bolsa de estudos cuidadosa com uma visão elevada da autoridade bíblica. O teólogo J.I. Packer argumenta: “O verdadeiro bolsista é o que manuseia a Escritura com integridade suprema, procurando dar todo o peso que merece a cada palavra que encontra lá, e que procura combinar tudo o que as passagens paralelas dizem. […] A verdadeira erudição bíblica é comprovada quando homens que a possuem ficam humildes, reverentes e determinados perante o texto bíblico.”[5]
Fontes:
[1] Lição da Escola Sabatina Adulta, 2º trimestre 2024, lição 3.
[2] Jaroslav Pelikan, The Reformation of the Bible / The Bible of the Reformation (Yale University Press, 1996), p. 14.
[3] Didaquê 14:1, em The Apostolic Fathers, 2a ed., Trad. J.B. Lightfoot & J.R. Harmer (Baker Book House, 1989), p. 151.
[4] Cânon 36 do Concílio de Elvira, em The Canons of the Council of Elvira, Trad. Dale K. Vree (Catholic University of America, 1981), p. 241.
[5] J.I. Packer, “Fundamentalism” and the Word of God (Eerdmans, 1958), p. 124-125.