Introdução
A Lição 12, intitulada “Eventos finais”, aborda vários temas relacionados à escatologia adventista, incluindo o selamento dos 144.000, a “chuva serôdia” e o “alto clamor”. Ela enfatiza a necessidade de fidelidade à verdade bíblica, especialmente em relação ao sábado, em face da crise final.
Embora a lição levante pontos válidos sobre a importância de permanecer fiel a Deus em tempos de provação, algumas de suas interpretações proféticas e doutrinárias são distintamente adventistas e vão além do claro ensino da Escritura. Como cristãos comprometidos com o princípio da Sola Scriptura, devemos basear nossa fé e esperança nas inequívocas promessas da Palavra de Deus, não em elaboradas reconstruções escatológicas.
Domingo: Lealdade a Deus e à Sua Palavra
A lição corretamente enfatiza a importância de conhecer, amar e obedecer à verdade revelada na Palavra de Deus, citando textos como Provérbios 23:23 e João 8:32.[1] De fato, as Escrituras são nossa defesa contra o engano espiritual (2 Timóteo 3:16-17).
No entanto, a lição então cita Ellen White afirmando que “somente aqueles que têm fortalecido a mente com as verdades da Bíblia poderão resistir no último grande conflito”.[1] Embora o conhecimento bíblico seja certamente vital, nossa capacidade de perseverar vem em última análise não de nossa própria força mental, mas do poder sustentador de Deus (1 Pedro 1:5). Devemos ter cuidado para não dar a impressão de que nossa firmeza se baseia em nossos próprios esforços para fortalecer nossas mentes.
Segunda: Selados para o Céu
A lição interpreta o selamento dos 144.000 em Apocalipse 7 e 14 em termos da controvérsia do sábado no tempo do fim.[1] Ela afirma dogmaticamente que “como sinal ou selo de Deus no centro da lei divina, o sábado está no centro do conflito final em torno da adoração”.[1]
Essa interpretação, no entanto, vai além do que o texto de Apocalipse realmente diz. Apocalipse não menciona explicitamente o sábado em conexão com o selamento. O número 144.000 é provavelmente simbólico, representando o povo fiel de Deus, não um número literal.[2] Ler uma controvérsia específica do sábado nessa passagem é impor uma estrutura adventista no texto.
Terça: A Quem Adoramos?
A lição corretamente enfatiza a questão da verdadeira adoração como central na crise final, citando Apocalipse 14:7.[1] De fato, a Bíblia retrata consistentemente um conflito entre a adoração ao verdadeiro Deus e a adoração a falsos deuses ou poderes terrestres.
No entanto, a lição então faz a afirmação especulativa de que “o mundo está mudando drasticamente” e que “num mundo instável, a profecia pode se cumprir mais rapidamente do que pensamos”.[1] Embora devamos certamente estar vigilantes, devemos também ter cuidado com declarações sensacionalistas que vão além do que a Escritura realmente diz sobre o tempo e as circunstâncias dos eventos finais (Mateus 24:36).
Quarta: As Chuvas Temporã e Serôdia
A lição discute o derramamento do Espírito Santo na igreja primitiva (Atos 2) como a “chuva temporã”, e antecipa um derramamento ainda maior do Espírito no tempo do fim como a “chuva serôdia”.[1]
Embora a ideia de um reavivamento espiritual antes da volta de Cristo tenha algum apoio bíblico (Joel 2:28-29), a estrutura específica de chuva temporã/serôdia é uma construção teológica adventista baseada na agricultura do Antigo Testamento, não um claro ensino do Novo Testamento. Devemos ser cautelosos em construir doutrinas detalhadas a partir de passagens do Antigo Testamento sem um explícito endosso do Novo Testamento.
Quinta: O Alto Clamor
A lição interpreta o “anjo” de Apocalipse 18:1 como representando “mensageiros humanos” que proclamarão a mensagem final de Deus com grande poder.[1] Isso é chamado de “alto clamor”, um termo derivado dos escritos de Ellen White.[1]
Embora a proclamação mundial do evangelho antes do fim esteja claramente ensinada nas Escrituras (Mateus 24:14), a ideia específica de um “alto clamor” pré-advento não é uma clara doutrina bíblica. Mais uma vez, devemos ser cautelosos ao basear doutrinas em interpretações especulativas de detalhes apocalípticos, em vez de declarações didáticas claras da Escritura.
Conclusão
Em resumo, a Lição 12 levanta temas importantes de fidelidade a Deus e preparação espiritual para os eventos finais. No entanto, algumas de suas interpretações proféticas e conceitos doutrinários são mais derivados da tradição teológica adventista do que do claro ensino da Escritura.
Como cristãos bíblicos, devemos certamente antecipar com alegria a volta de Cristo e nos esforçar para permanecermos fiéis a Ele. Mas nossa esperança e confiança devem estar fundamentadas nas claras promessas da Palavra de Deus, não em reconstruções escatológicas especulativas, por mais bem-intencionadas que sejam.
Que o Espírito de Deus nos dê discernimento ao estudarmos as profecias bíblicas, sabedoria para distinguir entre a clara doutrina bíblica e a conjectura humana, e graça para “amá-Lo e aguardar a Sua vinda” (2 Timóteo 4:8). No fim, é o evangelho de Deus – a boa notícia da salvação pela graça mediante a fé em Cristo – que é o poder de Deus para o tempo do fim e para todas as épocas.
Referências:
[1] Lição da Escola Sabatina Adulta, 2º trimestre de 2024, lição 12.
[2] G. K. Beale, The Book of Revelation, NIGTC (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1999), 733-735
Correções Importantes e Necessárias
Aqui estão 10 razões pelas quais o sábado não é o selo de Deus e uma crítica à interpretação adventista:
1. Falta de base bíblica clara: Nenhuma passagem do Novo Testamento identifica explicitamente o sábado como o selo de Deus. A ideia de que o sábado é o “sinal ou selo de Deus no centro da lei divina”[1] é uma inferência teológica adventista, não uma clara doutrina bíblica.
2. Inconsistente com a doutrina da justificação pela fé: Enfatizar a guarda do sábado como a marca distintiva do povo de Deus nos últimos dias parece elevar uma obra da lei acima da fé em Cristo como o meio de salvação (Gálatas 2:16). Isso obscurece o evangelho da graça.
3. Menospreza a unidade do corpo de Cristo: Insistir que somente os guardadores do sábado serão o povo fiel de Deus no fim dos tempos menospreza a genuína fé de inúmeros cristãos não-sabatistas ao longo da história.[2] Isso promove um exclusivismo sectário contrário ao espírito de unidade em Cristo (João 17:21).
4. Mal-entendido da liberdade cristã: O Novo Testamento afirma a liberdade dos cristãos em relação a dias e práticas cerimoniais (Romanos 14:5-6; Colossenses 2:16-17). Insistir na observância do sábado como uma questão determinante da fidelidade nos últimos dias parece inconsistente com esse princípio.
5. Falha em apreciar a diversidade de opiniões: Historicamente, cristãos sinceros e biblicamente fiéis tiveram uma variedade de visões sobre a continuidade do sábado.[3] Dogmatizar uma interpretação específica como uma verdade para os últimos dias falha em reconhecer o espaço para respeitosa diferença entre os crentes.
6. Mal-entendido de Joel 2:21-24: Esses versículos, no contexto, fazem parte de uma promessa de restauração física e espiritual para Israel após o arrependimento, não uma predição de um derramamento mundial do Espírito nos últimos dias.[4] Aplicar isso à “chuva serôdia” é ler uma estrutura adventista no texto.
7. Mal-entendido de Atos 2:1-4, 41-47: O derramamento do Espírito no Pentecostes foi o cumprimento da promessa de Jesus de capacitar a igreja para sua missão (Atos 1:8), não um sinal de chuva “temporã” a ser seguida por uma chuva “serôdia” posterior. Essa terminologia agrícola não é usada no Novo Testamento.
8. Desconsideração da singularidade da cruz: Sugerir que a obra da salvação não foi concluída na cruz, mas depende de um “alto clamor” pré-advento (lição sobre Apocalipse 18:1-4)[1], parece diminuir a suficiência do sacrifício “uma vez por todas” de Cristo (Hebreus 10:12-14). Ele declarou “está consumado” na cruz (João 19:30).
9. Interpretação especulativa de Apocalipse: Identificar dogmaticamente a “segunda besta” de Apocalipse 13 como os Estados Unidos[1] vai muito além do que o texto realmente diz. É uma leitura historicista especulativa da profecia apocalíptica, não uma clara doutrina bíblica.[5]
10. Dependência excessiva de Ellen White: Grande parte da estrutura escatológica da lição, incluindo os conceitos de um “alto clamor”, “chuva serôdia” e um decreto dominical universal,[1] deriva mais dos escritos de Ellen White do que de declarações bíblicas claras. Isso eleva seus escritos quase ao nível da Escritura.
Em conclusão, enquanto a lição contém verdades importantes sobre fidelidade a Deus, seu foco no sábado como selo distintivo, sua elaborada escatologia pré-advento e sua dependência dos escritos de Ellen White refletem uma perspectiva distintamente adventista que vai além do claro ensino bíblico. Como cristãos bíblicos, devemos fundamentar nossa fé e esperança nas inequívocas promessas da Palavra de Deus, não em interpretações especulativas de passagens proféticas ambíguas.
Referências:
[1] Lição da Escola Sabatina Adulta, 2º trimestre de 2024, lição 12.
[2] Millard J. Erickson, Christian Theology, 3rd ed. (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2013), 1118.
[3] D. A. Carson, ed., From Sabbath to Lord’s Day: A Biblical, Historical and Theological Investigation (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1982).
[4] Duane A. Garrett, Hosea, Joel, vol. 19A, The New American Commentary (Nashville: Broadman & Holman Publishers, 1997), 369–370.
[5] Steve Gregg, ed., Revelation: Four Views, A Parallel Commentary (Nashville, TN: Thomas Nelson, 2013), 292-294.