Introdução
A Lição 10, intitulada “Espiritualismo exposto”, aborda a doutrina adventista do estado inconsciente dos mortos e a rejeição do espiritualismo. Ela contrasta o ensino bíblico sobre a morte como um sono com a noção da imortalidade natural da alma, que é vista como a base para o engano espiritualista.
Embora a lição levante algumas preocupações válidas sobre os perigos do espiritualismo, ela também faz várias afirmações teológicas que são distintamente adventistas e que diferem do consenso histórico cristão. Como cristãos comprometidos com o princípio da Sola Scriptura, devemos fundamentar nossas doutrinas sobre a morte e o estado intermediário no claro ensino das Escrituras, não em teorias especulativas.
Domingo: As Consequências Mortais do Espiritualismo
A lição corretamente adverte contra o envolvimento com o ocultismo e a necromancia, que são proibidos na Escritura (Deuteronômio 18:9-12).[1] No entanto, ela então faz a afirmação dogmática de que a ideia da imortalidade da alma “se infiltrou na igreja desde o início”.[1]
Essa alegação reflete uma interpretação adventista da história, não o consenso dos estudiosos. Embora alguns pais da igreja primitiva tenham sido influenciados pela filosofia grega, a maioria manteve a doutrina bíblica da ressurreição corporal, não uma imortalidade desencarnada.[2] A Bíblia fala de uma existência contínua após a morte (por exemplo, Lucas 23:43; Filipenses 1:23), embora em um estado intermediário, não final.
Segunda: Morte no Antigo Testamento
A lição cita passagens do Antigo Testamento que falam da morte em termos de silêncio e inconsciência, como Salmo 6:5 e Eclesiastes 9:5.[1] Ela argumenta que o Antigo Testamento não ensina a imortalidade da alma, mas sim uma ressurreição futura.[1]
No entanto, isso não é uma leitura completa do testemunho do Antigo Testamento. Embora enfatize a ressurreição futura, o Antigo Testamento também indica uma existência contínua após a morte. O próprio texto citado pela lição, Eclesiastes 12:7, fala do espírito retornando a Deus após a morte. Passagens como 1 Samuel 28:15 e Salmo 16:10 também sugerem uma existência pós-morte.[3]
A ideia da morte como um estado de completa inconsciência é uma interpretação adventista, não a clara teaching do Antigo Testamento como um todo. A esperança bíblica é centrada na ressurreição, mas isso não exclui um estado intermediário consciente.
Terça: Morte no Novo Testamento
A lição argumenta que o Novo Testamento, como o Antigo, retrata a morte como um sono inconsciente, citando João 11:11-14.[1] No entanto, ela não aborda adequadamente passagens como Lucas 23:43 e Filipenses 1:23, que falam de uma existência consciente imediata com Cristo após a morte.
A lição também cita 1 Coríntios 15 para argumentar que sem a ressurreição os mortos estão perdidos, sugerindo que não há vida após a morte antes da ressurreição final.[1] Mas Paulo está aqui contrastando a ressurreição com a aniquilação, não necessariamente excluindo um estado intermediário.
A maioria dos estudiosos bíblicos entende que o Novo Testamento afirma tanto a realidade de um estado intermediário para os crentes quanto a necessidade da ressurreição corporal futura.[4] A visão do “sono da alma” é uma doutrina distintamente adventista, não o claro consenso da exegese bíblica.
Quarta e Quinta: Espiritualismo nos Últimos Dias
A lição corretamente adverte contra os falsos sinais e maravilhas enganosos que podem ocorrer nos últimos dias (Mateus 24:24).[1] Buscar orientação de espíritos é perigoso e antibíblico.
No entanto, a lição então faz a especulativa afirmação de que Satanás pessoalmente imitará a segunda vinda de Cristo.[1] Embora seja verdade que haverá “falsos cristos” (Mateus 24:24), a ideia de uma falsificação mundial da segunda vinda por Satanás não é uma clara teaching bíblica, mas uma teoria derivada dos escritos de Ellen White.
Vemos aqui novamente o padrão de ir além da Escritura e fazer afirmações dogmáticas com base em fontes extra-bíblicas. Como cristãos, devemos ser cautelosos contra os enganos, mas também devemos fundamentar nossas doutrinas escatológicas nas claras afirmações da Palavra de Deus.
Conclusão
Em resumo, a Lição 10 levanta preocupações válidas sobre os perigos do espiritualismo e corretamente enfatiza a realidade bíblica da ressurreição. No entanto, ela também promove doutrinas distintamente adventistas, como o sono da alma e a personificação satânica da segunda vinda, que vão além do claro consenso do ensino bíblico.
Como cristãos comprometidos com o princípio da Sola Scriptura, devemos fundamentar nossa visão da morte e da vida após a morte no pleno testemunho das Escrituras. A esperança bíblica não está em uma imortalidade inerente da alma, mas na fidelidade de Deus para ressuscitar e transformar Seu povo.
Que o Espírito nos conceda discernimento ao estudarmos Sua Palavra, evitando tanto a especulação antibíblica quanto o dogmatismo sobre assuntos que Deus optou por não nos revelar plenamente. Nossa confiança está na promessa de Cristo: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá” (João 11:25).
Referências 1:
[1] Lição da Escola Sabatina Adulta, 2º trimestre de 2024, lição 10.
[2] Ante-Nicene Fathers, eds. Alexander Roberts and James Donaldson, 10 vols. (Peabody, MA: Hendrickson, 2004), 1:315, 1:414, 3:240, 4:188, 5:299.
[3] John Cooper, Body, Soul, and Life Everlasting: Biblical Anthropology and the Monism-Dualism Debate (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2000), 33-104.
[4] Alan Gomes, “Evangelicals and the Annihilation of Hell,” Christian Research Journal 13, no. 1 (Spring 1991): 15.
Correções Importantes:
Veja as principais falhas históricas na Lição 10, juntamente com correções baseadas em fontes académicas respeitadas e uma análise bíblica da doutrina da imortalidade da alma:
1. A lição afirma: “Essa ideia pagã [da imortalidade da alma] se infiltrou na igreja desde o início, à medida que esta se afastava dos fundamentos bíblicos na tentativa de tornar sua fé compreensível para o mundo romano.”[1]
Correção: Embora alguns pais da igreja tenham sido influenciados pela filosofia grega, a noção de uma infiltração pagã generalizada no cristianismo primitivo é uma simplificação excessiva. Como observa o estudioso bíblico Jeffrey Russell: “A maioria dos estudiosos contemporâneos concorda que o cristianismo primitivo não ‘absorveu’ simplesmente ideias pagãs, mas interagiu criativamente com elas, aceitando algumas, modificando outras e rejeitando outras.”[2]
Além disso, a ideia da imortalidade da alma não é simplesmente uma importação pagã, mas tem algumas bases nas Escrituras. Textos como Eclesiastes 12:7 (“o espírito volta a Deus que o deu”), Mateus 10:28 (“não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma”), Lucas 23:43 (“hoje estarás comigo no paraíso”) e Filipenses 1:23 (“tenho desejo de partir e estar com Cristo”) sugerem uma existência consciente após a morte.[3]
2. A lição cita Ellen White afirmando que “a teoria da imortalidade da alma” é uma das “falsas doutrinas que Roma recebeu do paganismo”.[1]
Correção: A ideia da imortalidade da alma não se originou no paganismo romano, mas tem raízes no pensamento grego, bem como em algumas tradições judaicas. Como explica o estudioso do judaísmo Alan Segal: “Há dois relatos sobre a alma imortal no judaísmo. Um é o platônico ou aristotélico, que acredita na alma incorpórea como a parte imortal da pessoa. O outro é o apocalíptico ou o rabínico inicial, que acredita na ressurreição do corpo.”[4]
Além disso, a doutrina da imortalidade da alma não é uma “falsa doutrina” católica romana, mas tem sido sustentada por muitos teólogos protestantes ao longo da história, incluindo John Calvin, que escreveu: “Devemos considerar firmemente que a alma, tendo sido criada imortal, […] vive além desta vida.”[5]
3. A lição apresenta a doutrina do “sono da alma” como o claro ensino bíblico, em contraste com a noção antibíblica da imortalidade natural da alma.[1]
Correção: A ideia de que a alma entra em um estado de completa inconsciência após a morte, muitas vezes chamada de “sono da alma”, é uma doutrina distintamente adventista (e das Testemunhas de Jeová) que não é apoiada pelo consenso dos estudiosos bíblicos ou pela tradição cristã mais ampla.
Como observa o teólogo Clark Pinnock:
“Os adventistas do sétimo dia e as testemunhas de Jeová negam a existência consciente intermediária entre a morte e a ressurreição, sustentando que a alma ‘dorme’ durante esse período. […] Essa visão é difícil de conciliar com passagens como Lucas 16:19-31; 23:43; Filipenses 1:23 e Apocalipse 6:9-10.”[6]
Embora a Bíblia certamente enfatize a ressurreição corporal como nossa esperança final, ela também indica uma existência consciente imediata com Cristo para os crentes após a morte. Considere os seguintes textos:
- 1. Eclesiastes 12:7 – “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.”
- 2. Mateus 22:32 – “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos.”
- 3. Lucas 16:22-23 – “Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado. No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio.”
- 4. Lucas 23:43 – “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.”
- 5. João 11:26 – “E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá eternamente.”
- 6. 2 Coríntios 5:8 – “Temos, porém, bom ânimo e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor.”
- 7. Filipenses 1:23 – “Entretanto, de ambos os lados, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.”
- 8. 1 Tessalonicenses 4:14 – “Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus trará, com ele, os que dormem em Jesus.”
- 9. Hebreus 12:23 – “… à universal assembleia e igreja dos primogênitos inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados.”
- 10. Apocalipse 6:9 – “Quando ele abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam.”
Esses textos, tomados em seu contexto bíblico mais amplo, apoiam a ideia de uma existência contínua e consciente da alma após a morte, mesmo antes da ressurreição corporal final. Como resume o teólogo Wayne Grudem: “A igreja cristã tem geralmente afirmado, com base em tais passagens, que não há inconsciência quando morremos, mas uma existência consciente a partir desse momento, embora não a existência final em que estaremos após a ressurreição.”[7]
A doutrina adventista do “sono da alma”, embora bem-intencionada, não reflete o pleno testemunho da Escritura sobre a vida após a morte. Como cristãos bíblicos, devemos fundamentar nossa compreensão nesta área nas claras afirmações da Palavra de Deus, não em doutrinas especulativas derivadas de fontes extra-bíblicas.
Referências 2:
- [1] Lição da Escola Sabatina Adulta, 2º trimestre de 2024, lição 10.
- [2] Jeffrey Russell, A History of Heaven: The Singing Silence (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1997), 37.
- [3] John W. Cooper, Body, Soul, and Life Everlasting: Biblical Anthropology and the Monism-Dualism Debate (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1989), 105-128.
- [4] Alan F. Segal, Life After Death: A History of the Afterlife in Western Religion (New York: Doubleday, 2004), 266.
- [5] John Calvin, Institutes of the Christian Religion, trans. Henry Beveridge (Peabody, MA: Hendrickson, 2008), 1:240.
- [6] Clark H. Pinnock, “The Conditional View,” in Four Views on Hell, ed. William Crockett (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1996), 153.
- [7] Wayne Grudem, Systematic Theology: An Introduction to Biblical Doctrine (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1994), 816-817.
Perguntas Adventistas Relacionadas ao Tema:
“Se a alma é imortal, por que Jesus precisa voltar para nos buscar?”
Essa pergunta é bastante comum entre os adventistas e outras tradições que rejeitam a imortalidade da alma. No entanto, essa objeção se baseia em um mal-entendido sobre o que a doutrina cristã tradicional da imortalidade da alma realmente ensina.
A crença na imortalidade da alma não nega a necessidade ou a realidade da segunda vinda de Cristo e da ressurreição corporal. Pelo contrário, a esperança bíblica final é a redenção de toda a nossa pessoa, corpo e alma, não apenas uma existência desencarnada eterna.
A Bíblia ensina que, embora os crentes partam para estar com Cristo imediatamente após a morte (Filipenses 1:23), esse é um estado intermediário, não final. Nossa esperança final é a ressurreição corporal na segunda vinda de Cristo, quando nossos corpos mortais serão transformados e reunidos com nossas almas (1 Coríntios 15:51-54; 1 Tessalonicenses 4:16-17).
Portanto, a imortalidade da alma e a necessidade da ressurreição corporal não estão em conflito. São duas fases da vida eterna que Deus promete a Seu povo. Como explica o teólogo J. I. Packer: “A perspectiva cristã é de uma vida imortal corporal ressuscitada no novo céu e na nova terra, e de um estado intermediário ‘paradisíaco’ consciente e feliz para as almas dos crentes justificados entre a morte e a ressurreição.”[1]
Cinco objeções comuns dos Adventistas
1. Objeção: A Bíblia fala da morte como um “sono” (por exemplo, João 11:11-14), indicando inconsciência até a ressurreição.
Resposta: Embora a metáfora do “sono” seja usada para a morte, ela se refere à aparência do corpo, não ao estado da alma. A Bíblia também fala dos mortos como conscientes e ativos, como em Apocalipse 6:9-11, onde os mártires no céu clamam a Deus. Jesus também declarou que Abraão, Isaque e Jacó estão “vivos” para Deus, mesmo séculos após sua morte física (Mateus 22:32).
2. Objeção: A Bíblia ensina que somente Deus tem imortalidade (1 Timóteo 6:16), então a alma humana não pode ser inerentemente imortal.
Resposta: 1 Timóteo 6:16 está se referindo à imortalidade absoluta e independente de Deus, não negando a imortalidade derivada da alma humana. Deus é a fonte de toda vida e concede imortalidade à alma, como indica Eclesiastes 12:7 – “o espírito volta a Deus, que o deu.”
3. Objeção: A imortalidade é condicional à fé em Cristo (João 3:16), então os ímpios não têm almas imortais.
Resposta: A “vida eterna” prometida em João 3:16 se refere à qualidade de vida em relacionamento com Deus, não à mera existência ou imortalidade. Todos os seres humanos têm almas imortais, mas só os redimidos desfrutam da verdadeira vida eterna em Cristo. Os ímpios enfrentarão o juízo eterno (Mateus 25:46), o que pressupõe uma existência contínua.
4. Objeção: A ideia da imortalidade da alma tem origem na filosofia grega, não na Bíblia.
Resposta: Embora a imortalidade da alma tenha sido discutida pelos filósofos gregos, a Bíblia tem seu próprio testemunho independente a esse respeito (como os textos citados acima). A Igreja não adotou simplesmente a visão grega, mas desenvolveu sua doutrina com base na revelação bíblica. Além disso, a Bíblia usa linguagem comum da cultura circundante sem necessariamente endossar todas as suas implicações filosóficas.
5. Objeção: A imortalidade da alma mina a importância da ressurreição corporal.
Resposta: Pelo contrário, a doutrina bíblica completa ensina tanto a imortalidade da alma quanto a ressurreição do corpo. Como observa o estudioso do Novo Testamento Richard Bauckham, “A ressurreição dos mortos não era vista como incompatível com alguma forma de existência da alma após a morte. […] A perspectiva característica do Novo Testamento é a combinação da ressurreição corporal com uma existência intermediária da alma ou espírito antes da ressurreição.”[2]
Em conclusão, embora os defensores do aniquilacionismo levantem objeções, a doutrina bíblica completa aponta para a imortalidade da alma em conjunção com a promessa da ressurreição corporal. Como cristãos, nossa esperança está fundamentada nas promessas de Cristo de vida eterna e no poder de Sua ressurreição, que garante nossa própria ressurreição vindoura.
Referências 3:
[1] J. I. Packer, “Evangelical Annihilationism in Review,” Reformation & Revival 6, no. 2 (Spring 1997): 45.
[2] Richard Bauckham, “Life, Death, and the Afterlife in Second Temple Judaism,” in Life in the Face of Death: The Resurrection Message of the New Testament, ed. Richard N. Longenecker (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1998), 91.