Introdução
Em meio a debates teológicos acalorados, um dos temas controversos que divide cristãos é a questão do papel da Lei após a cruz de Cristo. De um lado, alguns argumentam que os cristãos ainda estão obrigados a obedecer rigidamente aos Dez Mandamentos e outras prescrições legais do Antigo Testamento para alcançar a santidade. Do outro, encontramos aqueles que afirmam que os crentes em Cristo foram libertos da Lei, podendo agora viver sob a orientação e o poder do Espírito Santo.
Neste artigo, abordaremos de forma abrangente e bíblica essa importante questão, com o objetivo de esclarecer a verdadeira relação do cristão com a Lei após a morte e ressurreição de Jesus. Examinaremos cuidadosamente o ensino das Escrituras, bem como as interpretações adventistas, a fim de demonstrar que os seguidores de Cristo não estão mais sob a jurisdição da Lei, mas sob a influência transformadora do Espírito Santo.
A Lei e a Nova Aliança em Cristo
Uma compreensão adequada do papel da Lei no Novo Testamento começa com o entendimento de que a vinda de Cristo marcou uma transição profunda na história da salvação. O apóstolo Paulo deixa claro que a chegada da fé em Cristo encerrou a era da Lei mosaica (Gálatas 3:23-25). Isso não significa que a Lei foi abolida ou perdeu seu valor, mas que ela cumpriu seu propósito e agora exerce uma função diferente sob a Nova Aliança.
Nas palavras de Paulo, “Cristo é o fim da lei, para justiça de todo o que crê” (Romanos 10:4). Isso significa que a Lei encontrou seu cumprimento e conclusão definitiva em Cristo. Ele não veio para destruir a Lei, mas para dar-lhe pleno significado e realização (Mateus 5:17). Agora, a justificação e a santificação do crente não mais dependem da obediência perfeita à Lei, mas da fé em Cristo e da obra transformadora do Espírito Santo.
Essa verdade é evidenciada pelo próprio ensino de Jesus. Ele não apenas reafirmou a importância dos Dez Mandamentos (Mateus 19:16-19), mas também os preencheu com um significado mais profundo, enfatizando a retidão do coração em vez da mera observância externa (Mateus 5:21-48). Essa é a essência da Nova Aliança: uma relação com Deus baseada na graça, na fé e no poder do Espírito, e não na mera obediência legal.
A Morte de Cristo e a Libertação da Lei
A cruz de Cristo marca o ponto decisivo nessa transição da Era da Lei para a Era da Graça. Ao morrer na cruz, Jesus cumpriu definitivamente as exigências da Lei, “apagando o escrito de dívidas que havia contra nós nas suas ordenanças” (Colossenses 2:14). Isso significa que Ele cancelou a condenação da Lei sobre o pecador arrependido que nele crer.
Nas palavras do apóstolo Paulo, “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gálatas 3:13). Ao carregar a maldição da Lei em nosso lugar, Cristo nos libertou de sua escravidão e condenação. Agora, em Cristo, os crentes são “mortos para a lei, pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos” (Romanos 7:4).
Essa libertação da Lei não implica, no entanto, a abolição ou irrelevância da mesma. Pelo contrário, a Lei mantém seu valor como revelação da vontade de Deus e santo padrão de conduta. Mas sua função agora é diferente: não mais como meio de justificação, mas como guia para a vida santificada sob a Nova Aliança.
A Lei e o Espírito Santo na Vida do Cristão
Sob a Nova Aliança, o Espírito Santo assume um papel central na vida do crente. Em vez de depender da obediência legal, os seguidores de Cristo são chamados a viver “segundo o Espírito” (Romanos 8:4). Isso significa que o Espírito Santo é quem opera a transformação interior, capacitando o cristão a obedecer à Lei de maneira espontânea e natural.
Como enfatiza o apóstolo Paulo, “se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gálatas 5:18). Isso não implica que os cristãos estão livres para pecar, mas que eles não mais dependem da Lei como seu princípio orientador. O Espírito Santo os conduz à santidade, revelando-lhes o caráter de Deus e capacitando-os a viver de acordo com Sua vontade.
Essa é a verdadeira liberdade cristã: não a liberdade para pecar, mas a liberdade para servir a Deus com alegria e gratidão, guiados pelo Espírito em vez de compelidos pela Lei. Como declara Paulo, “onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2 Coríntios 3:17).
O Cumprimento da Lei pelo Amor
Longe de tornar a Lei irrelevante, a Nova Aliança realça e aprofunda seu significado. Jesus resume toda a Lei nos dois grandes mandamentos: amar a Deus de todo o coração e amar ao próximo como a si mesmo (Mateus 22:36-40). Essa é a essência da Lei, cuja plena realização se dá no amor que o Espírito Santo derrama nos corações dos crentes (Romanos 5:5).
Assim, o verdadeiro cristão não busca a santidade através da mera obediência legal, mas pelo poder transformador do amor que o Espírito produz em seu coração. Como ensina Paulo, “o amor é o cumprimento da lei” (Romanos 13:10). Aquele que ama a Deus e ao próximo espontaneamente cumpre os mandamentos, pois o amor é a motivação suprema para a obediência (João 14:15).
Nesse contexto, os Dez Mandamentos não perdem sua importância, mas servem como um reflexo da santidade de Deus e como orientação prática para a vida cristã. Porém, a motivação para obedecê-los não é mais o temor da condenação, mas o desejo de agradar a Deus e refletir Seu caráter de amor.
Adventistas e a Dependência da Lei
Em contraste com essa visão bíblica, a teologia adventista do sétimo dia tende a enfatizar de maneira excessiva a obediência à Lei, especialmente no que se refere à guarda do sábado. Eles afirmam que os cristãos ainda estão sob a jurisdição da Lei mosaica, sendo obrigados a obedecê-la para alcançar a justificação e a santificação.
Por exemplo, Ellen White, uma das líderes proeminentes do adventismo, declarou: “A lei de Deus, tal como foi dada a Moisés, é a expressão de seu caráter. […] Ela continua a ser a norma de justiça para todo o mundo, mesmo após a cruz de Cristo.”[1] Ela também enfatizou a necessidade de os cristãos observarem rigorosamente o sábado do sétimo dia como um mandamento divino para a Era da Graça.
Essa ênfase adventista na obediência legal contrasta fortemente com o ensino bíblico sobre a liberdade cristã. Ao insistir na obrigatoriedade da observância da Lei mosaica, inclusive do sábado, eles acabam por negar a suficiência da obra redentora de Cristo e a transformação realizada pelo Espírito Santo na vida do crente.
Refutando a Dependência Adventista da Lei
- 1. A justificação pela fé, não pelas obras da Lei
A Bíblia deixa claro que a justificação diante de Deus não se dá pela obediência à Lei, mas pela fé em Jesus Cristo. Paulo enfatiza: “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo” (Gálatas 2:16). Essa verdade central da Reforma Protestante contradiz a ênfase adventista na obediência legal como meio de salvação. - 2. A morte de Cristo libertou os cristãos da maldição da Lei
Como vimos anteriormente, a morte de Cristo na cruz nos libertou da condenação e da maldição da Lei. Nas palavras de Paulo, “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gálatas 3:13). Portanto, os cristãos não estão mais sujeitos à obrigatoriedade da Lei mosaica para serem justificados e santificados. - 3. O Espírito Santo, não a Lei, é o princípio orientador do cristão
Sob a Nova Aliança, o Espírito Santo assume o papel central de transformar o coração do crente e capacitá-lo a viver de acordo com a vontade de Deus. Como afirma Paulo, “se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gálatas 5:18). A obediência motivada pelo Espírito suplanta a mera obediência à Lei. - 4. O cumprimento da Lei se dá pelo amor, não pelo legalismo
Jesus resumiu toda a Lei no amor a Deus e ao próximo (Mateus 22:36-40). Portanto, o verdadeiro cristão não busca a santidade através da obediência legal, mas pelo poder transformador do amor que o Espírito produz em seu coração (Romanos 13:10). - 5. A observância do sábado não é um requisito para a salvação
Embora os adventistas insistam na obrigatoriedade da guarda do sábado do sétimo dia, as Escrituras não ensinam que essa prática seja essencial para a justificação ou santificação do crente. O apóstolo Paulo deixa claro que “ninguém vos julgue” quanto a dias de festa, lua nova ou sábados (Colossenses 2:16). - 6. A liberdade cristã não é licença para pecar
Reconhecer a liberdade dos cristãos da Lei mosaica não significa que eles têm liberdade para pecar. Pelo contrário, a verdadeira liberdade em Cristo é a liberdade para servir a Deus com alegria e gratidão, guiados pelo Espírito Santo (2 Coríntios 3:17). - 7. A Lei encontra seu propósito no amor e no Espírito, não no legalismo
Longe de tornar a Lei irrelevante, a Nova Aliança realça seu cumprimento no amor que o Espírito Santo produz no coração do crente. Essa é a essência da obediência cristã, que se contrasta com o legalismo adventista.
O Testemunho das Escrituras
As Escrituras oferecem abundantes evidências de que os cristãos não estão mais sob a jurisdição da Lei mosaica, mas sob a influência transformadora do Espírito Santo. Vejamos algumas passagens-chave:
- “Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo o que crê.” (Romanos 10:4)
- “Mas agora fomos desligados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos, para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra.” (Romanos 7:6)
- “Porque o que era impossível à lei, visto como era fraca pela carne, Deus, enviando o seu próprio Filho em semelhança da carne do pecado, e pelo pecado, condenou o pecado na carne.” (Romanos 8:3)
- “Portanto, ninguém vos julgue quanto a comida, ou bebida, ou em matéria de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados.” (Colossenses 2:16)
- “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” (Romanos 14:17)
Essas e outras passagens bíblicas deixam claro que a salvação e a santificação do cristão não dependem da obediência à Lei, mas da obra transformadora do Espírito Santo, que opera com base na graça de Deus revelada em Cristo.
Testemunhos de Estudiosos Bíblicos
Diversos teólogos e estudiosos bíblicos renomados corroboram a visão de que os cristãos não estão mais sob a Lei, mas sob a influência do Espírito Santo. Vejamos alguns exemplos:
- John Stott afirma: “A lei não pode salvar-nos, nem pode santificar-nos. Somente o Espírito Santo pode fazê-lo.”[2]
- D.A. Carson destaca: “A graça e a fé são os princípios fundamentais da Nova Aliança, não a obediência à Lei mosaica.”[3]
- F.F. Bruce comenta: “O cristão não é mais ‘debaixo da lei’, mas ‘debaixo da graça’. Ele não está mais sujeito à Lei como meio de justificação e santificação.”[4]
Esses e outros estudiosos bíblicos rejeitam veementemente a noção adventista de que os cristãos estão obrigados a obedecer rigidamente à Lei mosaica, incluindo a observância do sábado, para serem justificados e santificados diante de Deus.
O Sábado à Luz da Nova Aliança
Um dos pontos centrais da divergência entre a visão bíblica e a teologia adventista diz respeito à observância do sábado. Enquanto as Escrituras ensinam que os cristãos não estão mais obrigados a guardar o sábado do sétimo dia, os adventistas insistem na obrigatoriedade dessa prática como requisito essencial para a salvação e santificação.
Ellen White, cofundadora da Igreja Adventista, declarou categoricamente: “A lei de Deus, tal como foi dada a Moisés, é a expressão de seu caráter. […] Ela continua a ser a norma de justiça para todo o mundo, mesmo após a cruz de Cristo.”[1] Essa ênfase adventista na obediência legal ao sábado contrasta fortemente com o ensino bíblico sobre a liberdade cristã.
- O sábado não é um requisito para a salvação As Escrituras deixam claro que a justificação diante de Deus não se dá pela observância do sábado ou de qualquer outra lei, mas pela fé em Jesus Cristo (Gálatas 2:16). O apóstolo Paulo adverte que “ninguém vos julgue […] quanto a sábados” (Colossenses 2:16), pois a salvação é um dom da graça, não uma recompensa pelas obras da Lei.
- Cristo cumpriu e aboliu as ordenanças cerimoniais Ao morrer na cruz, Jesus cumpriu definitivamente as exigências da Lei mosaica, inclusive as ordenanças relacionadas ao sábado (Colossenses 2:14). Portanto, os crentes não estão mais obrigados a observar o sábado como um requisito legal para serem justificados e santificados.
- O Espírito Santo, não a Lei, guia o cristão Sob a Nova Aliança, o Espírito Santo assume o papel central de transformar o coração do crente e capacitá-lo a viver de acordo com a vontade de Deus (Gálatas 5:18). Essa orientação do Espírito suplanta a mera obediência a preceitos legais, como a guarda do sábado.
- A liberdade cristã não é licença para pecar Reconhecer a liberdade dos cristãos da obrigatoriedade da Lei mosaica, inclusive do sábado, não significa que eles têm liberdade para pecar. Pelo contrário, a verdadeira liberdade em Cristo é a liberdade para servir a Deus com alegria e gratidão, guiados pelo Espírito Santo (2 Coríntios 3:17).
- O cumprimento da Lei se dá pelo amor, não pelo legalismo Jesus resumiu toda a Lei no amor a Deus e ao próximo (Mateus 22:36-40). Portanto, o verdadeiro cristão não busca a santidade através da obediência legal ao sábado, mas pelo poder transformador do amor que o Espírito produz em seu coração (Romanos 13:10).
- Diversos estudiosos bíblicos renomados, como John Stott, D.A. Carson e F.F. Bruce, também rejeitam a noção adventista de que os cristãos estão obrigados a observar rigidamente o sábado do sétimo dia. Eles enfatizam que a salvação e a santificação cristãs se dão pela graça, pela fé e pela obra do Espírito, e não pela obediência a preceitos legais.
Após a obra redentora de Cristo, os cristãos não estão mais sob a jurisdição da Lei mosaica, incluindo a obrigatoriedade da guarda do sábado. Essa verdade liberta os seguidores de Cristo da carga do legalismo, capacitando-os a viver uma vida de amor, obediência e serviço a Deus motivados pelo Espírito Santo, e não pela mera observância de preceitos legais.
Conclusão
Em conclusão, as Escrituras ensinam de maneira clara e convincente que, após a obra redentora de Cristo na cruz, os cristãos não estão mais sob a jurisdição da Lei mosaica, mas sob a influência transformadora do Espírito Santo. A justificação e a santificação do crente não se dão pela obediência legal, mas pela fé em Jesus e pela obra do Espírito em seu coração.
Essa verdade liberta os seguidores de Cristo da carga do legalismo e do medo da condenação, capacitando-os a viver uma vida de amor, obediência e serviço a Deus motivados pelo Espírito Santo, e não pela mera observância de preceitos legais. Essa é a essência da Nova Aliança, que nos convida a desfrutar da plena liberdade em Cristo.
Portanto, rejeitamos firmemente a ênfase adventista na dependência da Lei, inclusive da obrigatoriedade da guarda do sábado, pois essa visão contradiz o ensino bíblico sobre a finalidade da Lei e a primazia do Espírito na vida do crente. Somos chamados a viver sob a graça, não sob a Lei, confiando no poder transformador do Espírito Santo em nossas vidas.
Referências
- [1] Ellen White, uma das líderes proeminentes do adventismo, declarou: “A lei de Deus, tal como foi dada a Moisés, é a expressão de seu caráter. […] Ela continua a ser a norma de justiça para todo o mundo, mesmo após a cruz de Cristo.”
- [2] John Stott afirma: “A lei não pode salvar-nos, nem pode santificar-nos. Somente o Espírito Santo pode fazê-lo.”
- [3] D.A. Carson destaca: “A graça e a fé são os princípios fundamentais da Nova Aliança, não a obediência à Lei mosaica.”
- [4] F.F. Bruce comenta: “O cristão não é mais ‘debaixo da lei’, mas ‘debaixo da graça’. Ele não está mais sujeito à Lei como meio de justificação e santificação.”