Erros Clássicos Adventistas Sobre o Juízo Investigativo

Introdução

O conceito de Juízo Investigativo, como ensinado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, propõe que, desde 1844, Cristo iniciou um processo de julgamento investigativo no céu, revisando os registros dos crentes para determinar quem será salvo. No entanto, essa doutrina levanta sérias questões teológicas quando confrontada com os ensinamentos bíblicos sobre a natureza de Deus, o ministério de Cristo, e o evangelho. Ao examinarmos as Escrituras e compararmos com as afirmações de Ellen White, podemos identificar várias áreas onde o Juízo Investigativo contraria os fundamentos bíblicos. Nesta análise, abordaremos sete áreas críticas: a onisciência de Deus e Cristo, a natureza metafórica dos “livros” no céu, a inexistência de seres não caídos com árvores do conhecimento, o conceito de julgamento para os vivos, a consumação da expiação na cruz, o papel de Cristo em comparação com o de Satanás, e o momento do juízo final segundo as Escrituras. Essa reflexão tem como objetivo esclarecer por que o Juízo Investigativo não se alinha com a mensagem central do evangelho e o ministério redentor de Cristo.

Datas Bíblicas

458 a.C.: Viagem de Esdras a Jerusalém (Esdras 7:7-8)

  • Evento Bíblico: O rei Artaxerxes I emite um decreto permitindo que Esdras lidere um grupo de exilados de volta a Jerusalém.
  • Fontes Judaicas: De acordo com o Talmud e outros textos rabínicos, Esdras é considerado um grande líder religioso, e sua viagem marca o início de uma reforma espiritual significativa em Jerusalém.

Significado: Esdras é creditado com a reintrodução da Lei de Moisés entre os judeus retornados, fortalecendo a comunidade e o culto no Segundo Templo.

457 a.C.: Ano de Referência Adventista

  • Evento Bíblico: Não há eventos bíblicos ou judaicos significativos registrados para este ano específico.
  • Fontes Judaicas: Análises históricas e textos judaicos, como o Talmud e os escritos de Flávio Josefo, não indicam eventos de importância em 457 a.C. O ano não se destaca na literatura judaica como um marco para grandes acontecimentos.

Conclusão: Este ano é historicamente insignificante dentro do contexto bíblico e judaico, o que sugere que a interpretação adventista de iniciar a contagem dos 2300 dias/anos aqui não tem base em eventos documentados.

456-455 a.C.: Reformas de Esdras em Jerusalém

  • Evento Bíblico: Esdras continua a implementar reformas religiosas e sociais com base na Lei de Moisés.
  • Fontes Judaicas: Esdras é visto como um reformador que revitalizou a fé judaica e reforçou as práticas religiosas. Megillat Taanit, um texto judaico, menciona reformas litúrgicas e de calendário atribuídas a Esdras.

Significado: Estas reformas são consideradas fundamentais para a restauração da prática judaica, mas não estão conectadas a 457 a.C.

450 a.C.: Esdras e Neemias Trabalham Juntos

  • Evento Bíblico: Esdras e Neemias colaboram na reorganização de Jerusalém.
  • Fontes Judaicas: Josefo, em sua obra Antiguidades Judaicas, descreve a importância do trabalho conjunto de Esdras e Neemias na restauração de Jerusalém e na unificação do povo.

Significado: Este período é marcado por esforços significativos na reconstrução espiritual e física de Jerusalém.

445 a.C.: Missão de Neemias (Neemias 2:1-8)

  • Evento Bíblico: Artaxerxes I emite um decreto autorizando Neemias a reconstruir os muros de Jerusalém.
  • Fontes Judaicas: Josefo e o Talmud mencionam a importância da reconstrução dos muros como um ato de restauração nacional. Este evento é central para a identidade e segurança de Jerusalém.

Significado: Este decreto é amplamente aceito como o “decreto para restaurar e reconstruir Jerusalém,” sendo considerado por muitos estudiosos como o ponto de partida mais lógico para as profecias de Daniel.

444 a.C.: Conclusão dos Muros de Jerusalém (Neemias 6:15)

  • Evento Bíblico: Os muros de Jerusalém são reconstruídos em 52 dias.
  • Fontes Judaicas: Esta conclusão é vista como uma vitória espiritual e física, simbolizando a resiliência e a renovação da comunidade judaica.

Significado: Este evento marca a consolidação das reformas e da segurança de Jerusalém, com Neemias sendo visto como um líder crucial na história judaica.

433 a.C.: Última Visita de Neemias a Jerusalém

  • Evento Bíblico: Neemias retorna para garantir a continuidade das reformas.
  • Fontes Judaicas: Josefo registra as tentativas de Neemias de purificar o templo e reforçar as leis mosaicas.

Significado: Esta visita final de Neemias é importante para garantir que as reformas que ele e Esdras iniciaram continuassem sendo observadas, mas não está ligada a 457 a.C.

A interpretação dia/ano proposta por William Miller, que deu origem à doutrina adventista do Juízo Investigativo, baseia-se em datas historicamente infundadas e matematicamente desconectadas dos eventos bíblicos. Essa abordagem destaca uma fraqueza significativa na doutrina adventista, ao ignorar o contexto histórico e profético de Daniel. De fato, uma análise cuidadosa dos textos bíblicos revela que as profecias de Daniel estão intimamente ligadas aos eventos ocorridos durante o reinado de Antíoco Epifânio, um governante selêucida que perseguiu o povo judeu e profanou o templo em Jerusalém. Essa conexão é amplamente reconhecida por estudiosos bíblicos e demonstra que a interpretação dia/ano, ao ser aplicada fora desse contexto, leva a conclusões errôneas e desconectadas da mensagem original das Escrituras. Ao desconsiderar o cenário histórico de Daniel, a doutrina adventista expõe suas próprias vulnerabilidades, colocando em risco a integridade de sua base teológica.

Linha do Tempo de Eventos e Erros na História Adventista

1818: Estudo e Conclusão de William Miller

William Miller começa a estudar a Bíblia e conclui que Cristo retornará por volta de 1843, com base em sua interpretação de Daniel 8:14 e dos “2300 dias.”

Texto de William Miller: “Eu estava convencido de que todas as Escrituras dadas por inspiração de Deus são proveitosas; e que se as profecias não fossem compreendidas, as palavras inspiradas de Deus não poderiam ser proveitosas. […] Eu não poderia me livrar da convicção de que algo de imenso interesse ao homem estava contido nas santas escrituras, que ainda não havia sido desenvolvido. Assim, resolvi, se possível, harmonizar todos os aparentes desacordos e perceber a plenitude e beleza do texto sagrado. […] A profecia dos 2300 dias, então, se estendia até o ano 1843; e a chegada deste tempo, como estava convencido, deveria testemunhar a segunda vinda de Cristo.”
(Evidence from Scripture and History of the Second Coming of Christ About the Year 1843)


1831: Início das Pregações Públicas de Miller

Miller começa a pregar publicamente que Cristo retornará entre 21 de março de 1843 e 21 de março de 1844.

Texto de William Miller: “Quando comecei, há uns doze anos, a pregar que o Senhor estava às portas, o povo começou a inquirir sobre minha autoridade para fazer tais declarações. Então, comecei a examinar a Bíblia mais de perto, e para minha grande surpresa, encontrei que a Bíblia, como eu a entendia, estava toda a favor das minhas suposições.” (Apology and Defence, 1845)


21 de março de 1844: Primeira Decepção

A data passa sem o retorno de Cristo. Miller revisa seus cálculos e define uma nova data.

Texto de William Miller: “Eu confesso meu erro, e reconheço minha decepção; mas não negarei a verdade da palavra de Deus, ou mesmo abandonarei a posição que adotei após anos de estudo sério e oração fervorosa.”
(Apology and Defence, 1845)


22 de outubro de 1844: A Grande Decepção

Miller e seus seguidores experimentam a Grande Decepção, pois Cristo não retorna nessa data.

Texto de William Miller: “Embora não tenhamos visto o cumprimento das nossas expectativas no tempo apontado, eu ainda acredito que o dia do Senhor está perto, mesmo às portas. Eu tenho fixado minhas expectativas no evento glorioso, e não no tempo; e embora meu cálculo de tempo tenha sido incerto, eu ainda não vejo razão para me arrepender da experiência que tem me levado a esperar diariamente por meu Senhor.”
(Letter to the Believers, 1844)


1845: Ellen White Afirma William Miller:

  • Ellen White, uma seguidora de Miller, afirma que sua mensagem foi inspirada divinamente, apesar do fracasso da predição.

Citação de Ellen White: “Deus enviou Seu anjo para mover o coração de um fazendeiro que não cria na Bíblia, e levá-lo a investigar as profecias. Anjos de Deus repetidamente visitaram esse escolhido, para guiá-lo e abrir à sua mente profecias que sempre estiveram fechadas ao povo de Deus.” (O Grande Conflito, p. 368)


Década de 1850: Visão de Ellen White sobre o ‘Erro Oculto’:

  • Ellen White afirma que Deus deliberadamente escondeu o erro nos cálculos de Miller com Sua mão para testar a fé dos crentes.

Citação de Ellen White: “Foi-me mostrado que o erro no qual eles caíram, e que os levou a esse erro, estava em não entender que havia ainda um outro trabalho a ser feito antes que o Senhor viesse. Eles entenderam que Deus os levara a enganar a respeito do que eles haviam esperado, para que pudessem ser provados como na fornalha ardente.” (Primeiros Escritos, p. 235)


1856: Ellen White Apoia a Interpretação de 457 a.C.:

  • Ellen White endossa a interpretação de que a profecia dos 2300 dias começa em 457 a.C. com o decreto de Artaxerxes. Isso é vinculado à nova doutrina adventista do Juízo Investigativo, que afirma que Cristo entrou no Lugar Santíssimo no santuário celestial em 22 de outubro de 1844, para iniciar um processo de julgamento.

Citação de Ellen White: “O anjo Gabriel, em 457 a.C., entregou a Esdras o comando de Artaxerxes que permitiu que ele conduzisse o povo de Deus de volta a Jerusalém e reconstruísse os muros. Este foi o ponto de partida do período profético dos 2300 dias que culminou em 1844.” (O Grande Conflito, p. 410)


Décadas de 1870 – 1880:

  • Doutrina do Juízo Investigativo:
    A doutrina se torna uma crença central da Igreja Adventista do Sétimo Dia, solidificada pelas visões e escritos de Ellen White.

Citação de Ellen White: “O juízo investigativo e a obra de expiação são realizados em benefício dos crentes na verdade. O dia da expiação estava destinado a ser um dia de exame de coração e humilhação de alma para o povo de Deus. O sinal era que Cristo agora entrou no Lugar Santíssimo, onde Ele realiza a última parte de Sua obra como nosso Sumo Sacerdote, que consiste em fazer expiação por todos aqueles que são encontrados escritos no Livro da Vida.” (O Grande Conflito, p. 489)


Resumo dos Pontos-Chave

  • Erros de William Miller:
    • Predição incorreta do retorno de Cristo em 1843 e 1844.
    • Interpretação errônea da profecia dos “2300 dias.”
  • Afirmações de Ellen White:
    • Inicialmente apoiou os cálculos e ensinamentos de Miller.
    • Posteriormente, afirmou que Deus havia escondido o erro para testar a fé dos crentes.
  • Apoio para 457 a.C.:
    • Ellen White endossou a interpretação de que a profecia dos 2300 dias começou em 457 a.C., o que foi essencial para o desenvolvimento da doutrina do Juízo Investigativo.

Essa linha do tempo, com as citações de Ellen White, destaca a sequência de erros, o papel de Ellen White em afirmar e depois explicar esses erros, e o eventual estabelecimento de uma nova doutrina dentro da fé adventista.

Principais Refutações do Juízo Investigativo e o Perigo dessa Doutrina

1. Onisciência de Deus e Cristo

Afirmação Bíblica: Deus e Cristo são oniscientes, conhecendo todos os corações e pensamentos, sem necessidade de um processo investigativo para determinar quem é salvo ou perdido.

  • Versículos Bíblicos:
    • Hebreus 4:13: “E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar.”
    • Salmos 139:1-4: “Senhor, tu me sondaste, e me conheces. Tu conheces o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces.”

Refutação ao Juízo Investigativo: Se Deus é onisciente, o conceito de um Juízo Investigativo, onde Deus “investiga” quem será salvo, é desnecessário e contradiz a natureza divina.

2. Não Existem Livros Físicos no Céu… É uma Metáfora Ilustrativa

Afirmação Bíblica: As referências a “livros” no céu são simbólicas e não devem ser interpretadas literalmente como registros físicos.

  • Versículos Bíblicos:
    • Apocalipse 20:12: “E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.”
    • Lucas 10:20: “Mas não vos alegreis porque se vos sujeitam os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus.”

Refutação ao Juízo Investigativo: A ideia de “livros” no céu deve ser entendida como uma metáfora para a completa e perfeita memória de Deus e não como livros físicos que precisam ser consultados.

3. Não Existem Seres de Outros Planetas Não Caídos com Árvores do Conhecimento do Bem e do Mal

Ellen White: Ellen White sugere a existência de outros planetas habitados por seres não caídos, com árvores do conhecimento do bem e do mal semelhantes àquelas no Éden (ver Patriarcas e Profetas, pp. 69, 115).

Afirmação Bíblica: A Bíblia não faz menção de outros planetas habitados ou de árvores do conhecimento do bem e do mal em outros mundos.

  • Versículos Bíblicos:
    • Gênesis 1:1: “No princípio, criou Deus os céus e a terra.”
    • Romanos 8:22: “Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora.”

Refutação ao Juízo Investigativo: A Bíblia se concentra exclusivamente na Terra como o palco da redenção. A introdução de outros planetas habitados e árvores do conhecimento em outros mundos não encontra suporte bíblico.

4. O Juízo dos Mortos Faz Sentido, Mas Não o dos Vivos, Enquanto Estão Vivos

Afirmação Bíblica: O destino dos vivos não é fixado enquanto ainda têm a oportunidade de arrependimento e mudança, pois Deus respeita o livre-arbítrio.

  • Versículos Bíblicos:
    • 2 Pedro 3:9: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.”
    • Hebreus 9:27: “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo.”

Refutação ao Juízo Investigativo: Um Juízo Investigativo para os vivos contraria o conceito de livre-arbítrio contínuo, onde a decisão final de salvação só ocorre após a morte ou na segunda vinda de Cristo.

5. Deus Disse Que Estava Consumado Sua Expiação

Afirmação Bíblica: A expiação foi completada na cruz e não há necessidade de uma expiação contínua ou investigativa após a ascensão de Cristo.

  • Versículos Bíblicos:
    • João 19:30: “E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.”
    • Hebreus 10:12: “Mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus.”

Refutação ao Juízo Investigativo: A expiação foi completada na cruz, e a ideia de um processo contínuo de expiação no céu contradiz o “Está consumado” de Jesus.

6. Satanás Não é o Bode do Santuário e Não Vai Levar Nossos Pecados

Ellen White: Ellen White sugere que Satanás, como o “bode emissário,” levará os pecados do povo de Deus (O Grande Conflito, p. 485).

Afirmação Bíblica: Cristo é o único portador dos pecados e não Satanás.

  • Versículos Bíblicos:
    • Isaías 53:6: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.”
    • 1 Pedro 2:24: “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados.”

Refutação ao Juízo Investigativo: A doutrina de que Satanás leva os pecados contradiz o ensino bíblico de que Cristo levou todos os pecados na cruz.

7. Haverá um Juízo Após a Volta de Cristo

Afirmação Bíblica: O julgamento final ocorrerá após a segunda vinda de Cristo, onde os justos serão justificados publicamente, e os ímpios condenados.

  • Versículos Bíblicos:
    • Mateus 25:31-34, 41: “E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.”
    • Apocalipse 20:11-15: “E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele… E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.”

Refutação ao Juízo Investigativo: A Bíblia ensina que o julgamento final ocorre após a segunda vinda de Cristo, não como um processo investigativo contínuo antes da volta de Jesus.

Essa análise bíblica demonstra que o conceito de um Juízo Investigativo é inconsistente com os ensinamentos da Bíblia sobre a onisciência de Deus, o papel de Cristo na expiação, e a natureza do julgamento final. As afirmações de Ellen White que sustentam essa doutrina carecem de suporte bíblico e, em alguns casos, contradizem diretamente a Escritura.

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