Dudley M. Canright: Da Liderança Adventista à Crítica Proeminente

Introdução

Dudley Marvin Canright (1840-1919) foi uma figura controversa na história do adventismo do sétimo dia, passando de um de seus líderes e evangelistas mais influentes a um de seus críticos mais vocais. Sua jornada de fé e subsequente rejeição do adventismo tiveram um impacto significativo no diálogo sobre as doutrinas adventistas, a autoridade profética de Ellen G. White e as percepções de falhas teológicas dentro do movimento. Este artigo explora a vida de Canright, suas críticas ao adventismo e o legado duradouro de seu trabalho como um “alertador” sobre o que ele via como erros e enganos dentro da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD).

Carreira Inicial no Adventismo

Canright abraçou o adventismo do sétimo dia com grande entusiasmo e dedicação em seus primeiros anos. Como um evangelista talentoso e escritor prolífico, ele contribuiu significativamente para o crescimento e desenvolvimento da denominação. Seus esforços ajudaram a estabelecer muitas congregações adventistas e fortalecer a presença da igreja em várias regiões.

No entanto, ao longo do tempo, Canright começou a ter dúvidas e questionamentos sobre várias doutrinas fundamentais do adventismo. Ele lutou com a autoridade profética de Ellen G. White, a ênfase na guarda do sábado e as interpretações proféticas únicas da igreja. Essas lutas internas eventualmente o levaram a se afastar da denominação e assumir uma postura crítica em relação a suas crenças e práticas.

Críticas à Autoridade Profética de Ellen White

Um dos principais pontos de discórdia de Canright com o adventismo foi o papel de Ellen G. White como profetisa e líder espiritual da igreja. Ele questionou a autenticidade de suas visões e profecias, argumentando que elas não estavam de acordo com os ensinos bíblicos e muitas vezes contradiziam a razão e a evidência. Canright via a dependência da igreja dos escritos de White como um desvio perigoso do cristianismo bíblico:

“A Sra. White foi aceita como profeta e guia tanto na vida espiritual quanto nos negócios temporais. Aqui está a fonte de toda a dificuldade para os Adventistas. É um sistema falso. Aqueles que têm a coragem de repudiá-lo e sair, como estou fazendo, não encontrarão problemas.”[1]

Ele também apontou as inconsistências e erros em suas profecias, argumentando que isso minava sua alegação de inspiração divina:

“Foi claramente provado em meu livro que suas profecias, todas elas, são meramente o produto de sua própria imaginação afligida, fantasias, sonhos comuns, suposições erradas e presunções.”[2]

Essas críticas de Canright à autoridade profética de White continuam a ser um ponto de discussão e debate entre os estudiosos adventistas e seus críticos até hoje.

Questionando as Doutrinas Adventistas

Além de sua oposição a Ellen White, Canright desafiou várias doutrinas distintivas do adventismo do sétimo dia. Ele argumentou contra a importância da guarda do sábado, uma crença central para os adventistas:

“A observância do sétimo dia é a doutrina fundamental dos Adventistas do Sétimo Dia. Remova isso, e não há nada para mantê-los juntos ou caracterizá-los. Mas esta é sua maior fraqueza e erro.”[3]

Canright também criticou as interpretações proféticas adventistas, particularmente em torno do santuário celestial e do julgamento investigativo:

“Não há uma só linha nas escrituras para apoiar tal visão. É inteiramente uma invenção da imaginação humana, uma pura suposição.”[4]

Essas críticas doutrinárias de Canright expuseram o que ele via como falhas teológicas fundamentais dentro do adventismo, desafiando suas alegações de ser o remanescente fiel e verdadeiro do cristianismo bíblico.

Destacando Fracassos Proféticos

Canright também criticou a IASD por seus repetidos fracassos proféticos, mais notavelmente o Grande Desapontamento de 1844, quando Jesus não retornou como previsto pelo movimento Millerita. Ele argumentou que esses erros proféticos lançavam dúvidas sobre a credibilidade das crenças adventistas:

“Milhares e milhares foram enganados pelos ‘cálculos proféticos’ de Miller, os Adventistas do Sétimo Dia e muitos outros, mas todos se mostraram falsos. Nenhum deles se cumpriu, nem se cumprirão.”[5]

Para Canright, a incapacidade do adventismo de cumprir suas próprias profecias era evidência de falibilidade e erro humano, em vez de orientação divina.

Reação da IASD e Legado

A Igreja Adventista do Sétimo Dia reagiu às críticas de Canright procurando desacreditá-lo como um apóstata amargurado e confuso. Líderes adventistas como George I. Butler e Uriah Smith escreveram extensas refutações às suas acusações. No entanto, para muitos críticos e observadores externos, Canright é visto como um pioneiro corajoso que expôs os erros e enganos do adventismo:

“O livro de Canright ‘Seventh-Day Adventism Renounced’ é o trabalho clássico por excelência sobre o adventismo do sétimo dia escrito por um ex-adepto. Ainda hoje, é o tratamento mais abrangente e devastador sobre o assunto já publicado.”[6]

Os escritos de Canright, especialmente “Seventh-Day Adventism Renounced” e “Life of Mrs. E.G. White”, continuam sendo recursos influentes para aqueles que questionam as doutrinas e práticas adventistas. Sua perspectiva interna como ex-líder fornece uma visão valiosa das falhas que ele percebeu dentro do movimento.

Embora a IASD tenha crescido e prosperado desde os dias de Canright, suas críticas e preocupações continuam relevantes para os debates atuais sobre a autoridade dos escritos de Ellen White, as doutrinas distintivas da igreja e o papel da profecia no adventismo. Como observou o estudioso adventista George R. Knight:

“Canright foi o pai fundador dos críticos do adventismo, e suas críticas têm sido usadas por gerações de oponentes desde então. Seus argumentos ainda precisam ser abordados pelos apologistas adventistas.”[7]

Conclusão

A jornada de Dudley M. Canright de líder adventista a crítico proeminente deixou um legado duradouro que continua a moldar os diálogos sobre o adventismo do sétimo dia. Suas críticas à autoridade profética de Ellen White, suas objeções às doutrinas adventistas distintivas e seus destaques dos fracassos proféticos da igreja levantaram questões importantes que ainda são debatidas até hoje.

Embora a IASD tenha buscado desacreditar Canright, seu impacto como voz dissidente não pode ser ignorado. Para muitos que questionam o adventismo, seus escritos permanecem como um recurso valioso e perspicaz, oferecendo uma visão crítica das crenças e práticas da denominação.

Como cristãos, somos chamados a testar todas as coisas e reter o que é bom (1 Tessalonicenses 5:21). O legado de Canright serve como um lembrete da importância de examinar cuidadosamente nossas crenças à luz das Escrituras e estar dispostos a desafiar ideias e ensinos que possam se desviar da verdade bíblica. Que possamos sempre buscar sabedoria e discernimento ao avaliar qualquer doutrina ou prática religiosa, seguindo fielmente a Palavra de Deus como nossa autoridade final.

“Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.” (1 João 4:1)

Citações Adicionais de Dudley M. Canright:

1.

“Eu acredito que os Adventistas do Sétimo Dia são sinceros, devotos e zelosos, mas estão terrivelmente enganados.”[8]

2.

“A Sra. White sempre foi muito sensível a qualquer dúvida ou queixa sobre suas revelações.”[9]

3.

“Finalmente, a coisa toda se mostrou ter sido apenas uma emoção religiosa, um fanatismo cego, sem base na verdade.”[10]

Livros Para Estudos:

1. “The Life of Ellen White” de D. M. Canright
2. “Ellen G. White and Her Critics” de Francis D. Nichol
3. “D. M. Canright: From Defender to Critic of Seventh-day Adventism” de Norman F. Douty
4. “Danger in the Camp” de Fred Barlow
5. “Testimonies of Apostasy: Why D. M. Canright and Others Left Seventh-day Adventism” de J. C. Hare

Referências:


  • [1] Canright, D.M. (1919). Life of Mrs. E.G. White, Seventh-day Adventist Prophet: Her False Claims Refuted. p. 30.
  • [2] Ibid, p. 148.
  • [3] Canright, D.M. (1914). Seventh-Day Adventism Renounced. p. 211.
  • [4] Ibid, p. 118.
  • [5] Ibid, p. 58.
  • [6] Ropp, E. (1987). The Life and ministry of D. M. Canright. Sword of the Lord Publishers. Back cover.
  • [7] Knight, G.R. (2013). Seventh-day Adventism in Conflict: How the Earliest Adventists Related to the Christian World Around Them. Andrews University Press. p. 36.
  • [8] Canright, D.M. (1914). Seventh-Day Adventism Renounced. p. 64.
  • [9] Canright, D.M. (1919). Life of Mrs. E.G. White, Seventh-day Adventist Prophet: Her False Claims Refuted. p. 68.
  • [10] Ibid, p. 42.

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