A Purificação do Santuário Celestial e do Juízo Investigativo

Introdução

A doutrina da purificação do santuário celestial e do juízo investigativo tem sido um pilar central da teologia adventista do sétimo dia desde os primórdios do movimento.[1] Nascida das predições fracassadas de William Miller sobre a segunda vinda de Cristo em 1844, esta doutrina foi cimentada nos ensinamentos adventistas pelas visões e escritos de Ellen G. White, a quem os adventistas consideram ter manifestado o verdadeiro dom profético.[2]

No entanto, um exame mais atento desta doutrina revela que ela é problemática em vários níveis – bíblico, teológico, histórico e ético. Como uma farpa no pé que causa dor e impede o caminhar saudável, argumenta-se que esta doutrina precisa ser removida para permitir que a igreja adventista progrida em direção a uma teologia mais bíblica e evangélica.

A História da “Farpa”

O movimento adventista teve suas origens nas predições de William Miller de que Cristo retornaria em 1843 ou 1844.[3] Quando essas predições falharam, causando o “Grande Desapontamento”, os seguidores de Miller se dividiram. Alguns reconheceram o erro e seguiram em frente. Outros, no entanto, reinterpretaram a profecia, alegando que em 1844 Cristo havia de fato entrado no Lugar Santíssimo do santuário celestial para iniciar uma obra de juízo investigativo antes de Seu retorno à terra.[4]

Esta reinterpretação foi endossada e promovida por Ellen G. White, uma jovem que alegava receber visões de Deus. White afirmou que Deus havia guiado Miller em seus métodos de estudo bíblico e conclusões, e que o desapontamento de 1844 fazia parte do plano divino.[5] Suas visões se tornaram a base para a doutrina adventista do santuário e suas interpretações foram cimentadas como verdade autoritativa.[6]

No entanto, uma análise das visões e escritos de White revela muitas inconsistências e erros. Ela endossou as predições fracassadas de Miller mesmo depois do fato.[7] Ela ensinou que a porta da misericórdia havia sido fechada para os pecadores em 1844, apenas para mudar sua posição mais tarde.[8] E suas interpretações bíblicas muitas vezes contradizem o claro ensino das Escrituras.[9]

Problemas Bíblicos e Teológicos

Um exame da doutrina da purificação do santuário celestial e do juízo investigativo revela que ela carece de sólido fundamento bíblico. Seu texto chave, Daniel 8:14, não diz nada sobre 1844, a purificação do santuário celestial ou um juízo investigativo.[10] Para chegar a essas conclusões, os adventistas precisam empregar os mesmos métodos de interpretação alegórica e leitura nas entrelinhas usados por Miller, métodos que violam os princípios de sã hermenêutica.[11]

Além disso, a teologia decorrente desta doutrina contém sérios erros. Ela ensina que o sacrifício de Cristo na cruz não completou a expiação, que o sangue de Cristo transfere pecados para o santuário celestial em vez de purificá-lo, e que os crentes devem suportar um juízo investigativo com base em suas obras.[12] Estes ensinamentos contradizem doutrinas bíblicas centrais como a suficiência da expiação de Cristo, a purificação do sangue de Cristo e a justificação somente pela graça através da fé.[13]

O juízo investigativo também mina a certeza da salvação e a alegria do evangelho. Em vez de descansar na obra consumada de Cristo, os crentes devem se preocupar se confessaram cada pecado e alcançaram perfeição de caráter.[14] Esta ênfase legalista é contrária à mensagem libertadora da graça encontrada no Novo Testamento.[15]

A Necessidade de Remoção

Como uma farpa que causa dor e impede o crescimento saudável, argumenta-se que a doutrina do santuário e do juízo investigativo deve ser removida da teologia adventista. Embora profundamente enraizada e entrelaçada com outras doutrinas distintivas,[16] a liderança adventista deve ter a coragem de seguir a verdade bíblica onde quer que ela leve, não importando o custo.

Há precedentes para tal mudança. A Igreja Mundial de Deus, sob a liderança de Joseph Tkach, teve a coragem de abandonar seus erros e abraçar uma teologia evangélica mais bíblica, mesmo com perdas significativas de membros e dinheiro.[17] A liderança adventista deveria seguir esse exemplo e reconhecer abertamente os erros do passado.

Isso não significa abandonar tudo o que é único sobre o adventismo. Crenças como a mortalidade da alma, a destruição final dos ímpios e a perpetuidade da lei de Deus podem ser mantidas na medida em que sejam solidamente baseadas nas Escrituras.[18] Mas doutrinas não bíblicas como o juízo investigativo devem ser descartadas.

Fazê-lo não apenas aliviaria os adventistas de um fardo teológico desnecessário, mas também os libertaria para abraçar mais plenamente o evangelho bíblico da graça. Libertaria a igreja para se concentrar em sua missão de fazer discípulos e proclamar as boas novas ao mundo. E mostraria integridade e coragem em seguir a verdade, não importando onde ela leve.

Conclusão

Em conclusão, argumenta-se que a doutrina adventista da purificação do santuário celestial e do juízo investigativo é uma “farpa” teológica que deve ser removida. Carece de sólido fundamento bíblico, contradiz doutrinas centrais da fé cristã e mina a certeza do evangelho. Embora profundamente enraizada na tradição adventista, a liderança deve ter a coragem de reexaminar esta e outras doutrinas à luz das Escrituras.

Fazê-lo pode ser doloroso a curto prazo, como remover uma farpa profundamente alojada. Mas a longo prazo, libertaria a igreja para abraçar um evangelho mais bíblico e experimentar um crescimento mais saudável. Chegou a hora de os adventistas cortarem os erros do passado e seguirem a verdade em amor. Só então eles estarão verdadeiramente livres para cumprir sua missão dada por Deus no mundo.

Referências:


  • [1] LeRoy Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, 4 vols. (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1946-54), 4:879-905. ↩
  • [2] “Fundamental Beliefs of Seventh-day Adventists”, no. 17, in Seventh-day Adventist Church Manual (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 2010), 156. ↩
  • [3] George R. Knight, Millennial Fever and the End of the World (Boise, ID: Pacific Press, 1993), 17-19. ↩
  • [4] P. Gerard Damsteegt, Foundations of the Seventh-day Adventist Message and Mission (Grand Rapids: Eerdmans, 1977), 103-117. ↩
  • [5] Ellen G. White, Spiritual Gifts, 4 vols. (Battle Creek, MI: Seventh-day Adventist Publishing Association, 1858-1864), 1:129, 132. ↩
  • [6] “Fundamental Beliefs of Seventh-day Adventists”, no. 17. ↩
  • [7] Kai Arasola, The End of Historicism (Sigtuna, Sweden: Datem Publishing, 1990), 91-95. ↩
  • [8] Robert W. Olson, “The ‘Shut Door’ Documents” (Washington, D.C.: Ellen G. White Estate, 1982), 9-41. ↩
  • [9] Dale Ratzlaff, The Cultic Doctrine of Seventh-day Adventists (Sedona, AZ: Life Assurance Ministries, 2003), 191-222. ↩
  • [10] Desmond Ford, Daniel 8:14, the Day of Atonement, and the Investigative Judgment (Casselberry, FL: Euangelion Press, 1980), 166-173. ↩
  • [11] Arasola, 24-58. ↩
  • [12] Ratzlaff, The Cultic Doctrine, 137-152. ↩
  • [13] Roy Adams, The Sanctuary Doctrine: Three Approaches in the Seventh-day Adventist Church (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1981), 206-220. ↩
  • [14] Ellen G. White, The Great Controversy (Mountain View, CA: Pacific Press, 1911), 479-491. ↩
  • [15] Dale Ratzlaff, Sabbath in Christ (Sedona, AZ: Life Assurance Ministries, 2003), 293-335. ↩
  • [16] Ratzlaff, The Cultic Doctrine, 115-136. ↩
  • [17] Ruth A. Tucker, “From the Fringe to the Fold,” Christianity Today, July 15, 1996, 26-32. ↩
  • [18] Arasola, 164-168. ↩

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