A Problemática Doutrina Adventista dos 144.000

Introdução – Um Labirinto de Contradições e Especulações Anti-Bíblicas

O adventismo do sétimo dia apresenta uma das doutrinas mais enigmáticas e polêmicas do cristianismo moderno – a doutrina dos 144.000 mencionados no Apocalipse. Essa crença é central na teologia adventista, mas tem sido marcada por inúmeras contradições, mudanças e exigências cada vez mais bizarras ao longo dos anos. Neste artigo acadêmico, examinaremos de perto os ensinamentos adventistas sobre os 144.000, expondo suas inconsistências, explorando suas origens nos escritos de Ellen G. White e confrontando-os com as Escrituras Sagradas.

Origens Contraditórias nos Escritos de Ellen White

A origem dessa doutrina remonta aos escritos de Ellen G. White, a profetisa e fundadora do movimento adventista. Em seus livros e declarações, White apresentou visões e interpretações contraditórias sobre quem seriam os 144.000. Essas contradições deixaram os adventistas confusos sobre a verdadeira natureza desse grupo, levando a especulações e reinterpretações constantes.

Por exemplo, em 1849, White escreveu que lhe foi dito que ela poderia ser uma das 144.000 se fosse fiel:

“Com lágrimas de alegria, vi-me entre os 144.000” (Manuscript Releases, Vol. 5, p. 425).

No entanto, em 1901, ela afirmou que não havia valor espiritual em ser parte desse grupo seleto:

“Não vejo nenhum motivo especial para que tantos façam uma questão especial sobre quem serão os 144.000. Aqueles que são os escolhidos de Deus serão aqueles que possuírem a pura e santa fé e seguirão o Cordeiro onde quer que Ele vá.” (Manuscript Releases, Vol. 15, p. 229).

Essas contradições são evidentes em várias outras declarações de White. Em alguns momentos, ela descreveu os 144.000 como santos vivos que passariam pela tribulação final:

“Os 144.000 foram todos selados e perfeitamente unidos” (Early Writings, p. 15).

Em outros, como fiéis que já morreram:

“Se ela [Ellen White] terminar fielmente sua jornada, poderá fazer parte dos 144.000” (Mensagem para a Juventude, p. 88).

White também oscilou entre considerar o número 144.000 como literal ou simbólico. Em “Testemunhos para a Igreja” (Vol. 5, p. 475), ela afirmou que:

“os 144.000 serão literalmente reunidos”.

Mas depois, em Manuscript Releases ela disse:

“Não posso afirmar com certeza se esses números devem ser entendidos como literais ou simbólicos. Parece que, às vezes, as escrituras usam números de forma ideal ou representativa.” (Manuscript Releases, Vol. 20, p. 61).

A Busca Pelo Número Mágico e a Segunda Grande Decepção

Nos primeiros tempos do movimento adventista, muitos membros interpretaram o número 144.000 de forma literal, acreditando que quando a membresia da igreja atingisse esse número, Cristo retornaria. Essa crença é evidente em declarações como esta, de 1897:

“O número 144.000 deve ser um número definido, composto por tantos indivíduos. Não pode ser um número maior” (Bible Students’ Library, No. 188).

Em 1899, líderes adventistas incentivaram os membros a terem mais filhos para atingir esse “número mágico” e apressar a vinda de Jesus, conforme relata uma revista adventista da época:

“Quando Haskell voltou da Austrália para a América em 1899, ele ficou surpreso ao encontrar alguns adventistas tendo bebês, e a razão era para fazer parte dos 144.000, para que Jesus pudesse vir” (These Times, 26 de junho de 1975).

Quando a conferência geral adventista atingiu 144.000 membros entre 1916 e 1917, nada aconteceu, causando uma grande decepção semelhante à “Grande Decepção” de 1844, quando Jesus não retornou na data prevista. Diante desse fracasso profético, os líderes adventistas foram forçados a redefinir a doutrina, mudando o entendimento de que o número 144.000 era simbólico ou idealista, e não literal.

Essa mudança é evidente em publicações adventistas da época. Em 1920, o periódico “Review and Herald” admitiu:

“Um número dos nossos membros parece estar perplexo em relação aos 144.000… Alguns até expressam a opinião de que é um número figurativo” (Review and Herald, 13 de maio de 1920). E entre 1928 e 1935, vários artigos repetiram a mesma frase: “Os 144.000 são simbólicos, em vez de literais” (Sabbath School Lesson Quarterly, 1935).

Um Grupo Seleto e Elitista

Além das contradições sobre a natureza dos 144.000, os ensinamentos adventistas também promovem uma visão elitista e divisória dentro da própria igreja. De acordo com Ellen White e outras fontes adventistas, apenas um grupo seleto e especial de adventistas fiéis fará parte dos 144.000, enquanto o resto dos membros será excluído.

Em “Testemunhos para a Igreja” (Vol. 5, p. 475), White afirma:

“Os 144.000 são apresentados como uma classe selecionada e especial de servos de Deus”.

E em um artigo de 1989 da revista adventista “Lições Bíblicas da Escola de Sábado”, lemos:

“Nem todos os que professam ser cristãos serão selados… Eles são identificados com base em seu serviço a Deus e caracterizados por sua fidelidade, obediência e lealdade”.

Esse grupo seleto é descrito como tendo que atender a uma série de requisitos e características específicas, como perfeição de caráter, obediência absoluta, fidelidade inquestionável e realização de “obras” além da simples guarda do sábado.

Em “Testemunhos para a Igreja” (Vol. 5, p. 475), White declara:

“Não todos os que professam guardar o sábado serão selados. Há muitos… que não receberão o selo de Deus em suas testas”.

Essa ênfase nas obras contradiz diretamente os ensinamentos bíblicos de que a salvação é pela graça, por meio da fé em Cristo, e não pelas obras da lei (Efésios 2:8-9).

Os Atributos Divinos dos 144.000

Mas as peculiaridades não param por aí. Os ensinamentos adventistas sobre os 144.000 os elevam a um status quase divino, atribuindo-lhes características e poderes que desafiam as Escrituras Sagradas. Alguns exemplos dessas afirmações bizarras incluem:

“Os 144.000 terão corações puros, mentes puras, caracteres puros e falarão uma língua pura” (Lições Bíblicas da Escola de Sábado, 1995).

Isso contraria Jeremias 17:9, que diz que o coração é enganoso e perverso, e só Deus é perfeitamente puro (1 João 1:5).

“Eles [os 144.000] receberão ‘luz especial’ ou revelação divina” (These Times, 26 de junho de 1975).

No entanto, a Bíblia é a única revelação completa de Deus, segundo 2 Timóteo 3:16-17.

“Os 144.000 serão os guarda-costas de Cristo no Monte Sião” (Lições Bíblicas da Escola de Sábado, 1995).

Mais incrível ainda, os adventistas ensinam que os 144.000 terão “o caráter de Deus” e “a santidade de Cristo”, como afirmado em uma lição da Escola de Sábado de 1995:

“Os 144.000 têm o caráter de Deus e a santidade de Cristo”. Isso os torna seres divinos, uma clara violação da doutrina bíblica de que só Deus é perfeito e divino (Mateus 5:48).

Essas afirmações não só são absurdas e anti-bíblicas, como também relembram a antiga tentação do Éden, quando a serpente prometeu que Adão e Eva “seriam como Deus” (Gênesis 3:5). É justamente essa pretensão de divindade que levou à queda da humanidade, e os adventistas, com seus ensinamentos sobre os 144.000, parecem repetir o mesmo erro.

O Que Diz a Bíblia?

Diante de tantas contradições, exigências legalistas e atribuições divinas, é justo questionar: o que realmente diz a Bíblia sobre os 144.000? A passagem-chave encontra-se em Apocalipse 7:4-8 e 14:1-5.

Nessas passagens, os 144.000 são descritos como sendo “selados” dentre as doze tribos de Israel, sugerindo que sejam judeus fiéis durante o período da tribulação. Não há menção a adventistas ou qualquer outro grupo cristão específico. Além disso, o texto nunca atribui a eles os poderes e atributos divinos que os adventistas lhes conferem.

Em vez disso, a Bíblia apresenta os 144.000 como um grupo específico de judeus preservados por Deus durante um período de julgamento sobre a terra. Eles são descritos como “virgens”, provavelmente no sentido espiritual de não terem se contaminado com a idolatria e falsas doutrinas. Mas em nenhum momento são retratados como uma classe superior ou elite dentro do cristianismo.

A Verdadeira Unidade em Cristo

Ao elevar os 144.000 a um status quase divino e estabelecer uma divisão elitista dentro da igreja, os ensinamentos adventistas sobre esse grupo contrariam os princípios bíblicos de unidade e igualdade em Cristo.

A Bíblia ensina que todos os crentes são um só corpo em Cristo, sem distinção de raça, classe social ou posição (Gálatas 3:28; 1 Coríntios 12:13). Não há uma classe superior de “super cristãos” ou um grupo seleto que recebe revelações especiais. Todos somos igualmente salvos pela graça, por meio da fé em Jesus Cristo (Efésios 2:8-9; Romanos 3:22-24).

Além disso, a Bíblia adverte contra a tentação de buscar uma posição superior ou exaltada, lembrando que “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tiago 4:6; 1 Pedro 5:5). A verdadeira grandeza no Reino de Deus está na humildade e no serviço, não em reivindicar para si mesmos atributos divinos (Mateus 20:25-28).

Conclusão

A doutrina adventista dos 144.000 é um labirinto de contradições, especulações e afirmações anti-bíblicas. Desde suas origens nos escritos confusos de Ellen White até as mais recentes interpretações encontradas em publicações adventistas, essa crença promove uma visão elitista, divisória e baseada em obras dentro do cristianismo.

Ao atribuir poderes e características divinas aos 144.000, os adventistas repetem o antigo engano do Éden, buscando uma condição semelhante à de Deus através de seus próprios esforços e obediência. Essas doutrinas contrariam diretamente os ensinamentos bíblicos sobre a graça, a unidade do corpo de Cristo e a natureza exclusivamente divina de Deus.

Em vez de se perder em labirintos doutrinários obscuros, os cristãos devem permanecer fiéis à clara revelação das Escrituras Sagradas. Nelas, encontramos a verdade libertadora de que somos salvos exclusivamente pela graça de Deus, por meio da fé em Jesus Cristo, e não por nossas obras ou pretensões de perfeição (Efésios 2:8-9; Tito 3:5).

É nessa graça que devemos nos regozijar, buscando a verdadeira unidade e humildade em Cristo, em vez de divisões elitistas e reivindicações de divindade. Somente assim poderemos refletir fielmente o caráter de nosso Salvador e desfrutar da plenitude da vida eterna prometida a todos os que nEle creem.

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