Introdução:
O debate sobre a obrigatoriedade da observância do sábado pelos cristãos é um tema recorrente e polêmico dentro do Cristianismo. Grupos como os Adventistas do Sétimo Dia e outros cultos defendem veementemente que os cristãos devem obedecer ao mandamento do sábado, conforme estabelecido na lei mosaica. Alguns chegam a afirmar que, durante o período descrito no Livro de Apocalipse, adorar no domingo seria a marca da besta, enquanto a observância do sábado seria o selo de Deus. Essa crença radical indica que aqueles que forem à igreja no domingo durante a tribulação estariam condenados ao inferno eterno.
No entanto, essa interpretação é completamente incorreta e falsa, conforme será demonstrado neste artigo por meio de uma análise minuciosa das Escrituras. Através de um estudo aprofundado do Livro de Gênesis e de outros textos bíblicos relevantes, evidenciaremos que Adão e Eva não foram instruídos a observar o sábado antes da queda no Éden. Na verdade, eles viviam em um estado de descanso perpétuo, servindo como sacerdotes no jardim do Éden, em perfeita comunhão com Deus.
O Argumento da Criação:
Os grupos que defendem a observância do sábado argumentam que Deus separou o sétimo dia desde o início da criação e ordenou à humanidade que o observasse. Eles baseiam esse argumento em Gênesis 2:2-3, que diz: “No sétimo dia, Deus completou a obra que fizera; e no sétimo dia descansou de toda a sua obra, que tinha feito. E Deus abençoou o sétimo dia e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra, que por sua vontade criadora tinha feito.”
No entanto, é crucial observar que esse trecho não menciona que a humanidade foi ordenada a descansar no sétimo dia. O texto simplesmente relata que Deus descansou após completar a obra da criação. Adão foi criado no sexto dia, e não há indicação de que ele tenha trabalhado ou contribuído para a criação de alguma forma.
O Estado de Descanso Perpétuo no Éden:
Ao examinarmos detalhadamente a condição de Adão e Eva antes da queda, fica evidente que eles viviam em um estado de descanso perpétuo no jardim do Éden. O Éden era o lar deles, sem restrições de locomoção. Eles não precisavam semear ou colher, pois se alimentavam diretamente das árvores frutíferas. Não havia necessidade de acender fogo para cozinhar carnes ou verduras, nem roupas para lavar ou utensílios para limpar. Não existiam espinhos, ervas daninhas ou pragas a serem combatidas, e uma neblina subia da terra e regava toda a superfície (Gênesis 2:6).
Adão e Eva viviam em um estado de descanso e comunhão perfeita com Deus, a cada dia, desde o momento em que foram criados até a queda. Portanto, eles não teriam feito nada que violasse os mandamentos do sábado antes da queda, pois não havia necessidade de trabalhar ou realizar atividades proibidas no sábado.
O Papel Sacerdotal de Adão no Éden:
Alguns críticos apontam para Gênesis 2:15, que diz: “E o Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden, para o cultivar e o guardar.” No entanto, essa passagem pode ser interpretada de forma diferente. Verbos semelhantes são usados para descrever o papel dos sacerdotes e levitas no tabernáculo e no templo (Números 3:5-8; 4:21-23; 8:26). Esses verbos podem ser traduzidos como “servir” e “guardar”, indicando que Adão tinha um papel sacerdotal de proteger e servir no santuário do jardim do Éden (Gênesis 1:26).
Essa interpretação é reforçada por diversas evidências bíblicas e insights dos estudiosos. A Bíblia de Estudo de D.A. Carson ressalta que os verbos “cultivar” e “guardar” podem ser compreendidos como “servir” e “proteger”, descrevendo um papel sacerdotal de Adão no jardim, semelhante ao serviço dos sacerdotes e levitas no tabernáculo e no templo.
Além disso, o Cultural Backgrounds Study Bible (Bíblia de Estudo dos Backgrounds Culturais) observa que o conceito de descanso divino é proeminente na literatura do Antigo Oriente Próximo. O descanso das divindades era geralmente alcançado em um templo, como resultado da ordem estabelecida. Assim, a narrativa da criação em sete dias, culminando no descanso divino, pode ser compreendida como paralela à construção de templos para o repouso divino. Essa analogia e lógica resultam na compreensão de que Gênesis 1 está enquadrado em termos da criação de um templo cósmico, no qual Deus estabelece seu repouso.
Após a queda, Adão falhou em suas obrigações sacerdotais, sendo expulso do Éden. O querubim foi então colocado para guardar a entrada do jardim, assumindo o papel que antes era de Adão (Gênesis 3:24). É interessante notar que a entrada do jardim do Éden estava localizada a leste, assim como a entrada do tabernáculo e do templo. Essa conexão sugere que o tabernáculo e o templo eram representações simbólicas do jardim do Éden, o santuário original de Deus.
A Única Ordem para Adão antes da Queda:
É importante ressaltar que, antes da queda, Adão recebeu apenas uma ordem de Deus: não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:16-17). Adão e Eva estavam em um estado de inocência, sem conhecimento do pecado ou da maldade. Se não tivessem desobedecido esse mandamento, a humanidade permaneceria nessa condição de inocência, sem a necessidade de outros mandamentos.
Após a queda, os olhos de Adão e Eva foram abertos, e eles adquiriram o conhecimento do bem e do mal. A partir desse momento, a humanidade passou a ter uma compreensão intrínseca do certo e do errado, tornando desnecessária uma lista detalhada de mandamentos antes da queda. Isso é evidente no relato bíblico, pois vemos personagens como José reconhecendo certas ações como pecaminosas, mesmo antes da promulgação da lei mosaica.
A Expectativa de Restauração do Descanso Perdido
Embora Noé não tenha sido o libertador esperado para restaurar o descanso perdido no Éden, essa passagem aponta para a esperança de que alguém traria a humanidade de volta ao repouso original. Como veremos posteriormente, é Jesus Cristo quem cumpre essa promessa de restauração do verdadeiro descanso.
O Sábado na Lei Mosaica:
Após a queda, a humanidade foi expulsa do jardim do Éden e condenada ao trabalho árduo e ao sofrimento (Gênesis 3:17-19). Foi nesse contexto que Deus introduziu a lei mosaica, incluindo o mandamento do sábado, como uma sombra que apontava para a verdadeira realidade que viria em Cristo (Colossenses 2:16-17).
O mandamento do sábado era um sinal da aliança entre Deus e o povo de Israel (Êxodo 31:13-17). Eles deveriam trabalhar seis dias, lembrando-se da maldição do trabalho árduo após a queda, mas no sétimo dia deveriam descansar, como um lembrete do descanso original desfrutado no Éden.
No entanto, é importante ressaltar que o sábado era parte integrante da lei mosaica, que incluía não apenas os Dez Mandamentos, mas também inúmeras regulamentações cerimoniais e civis. Essa lei foi dada especificamente ao povo de Israel e não era obrigatória para os gentios (não judeus).
O Cumprimento do Sábado em Cristo:
No Novo Testamento, Jesus Cristo cumpriu a lei mosaica em toda a sua plenitude (Mateus 5:17-18). Ele é o Senhor do sábado (Marcos 2:28) e ensinou que o sábado foi feito para o benefício do homem, e não o contrário (Marcos 2:27).
Jesus também deixou claro que Ele é o verdadeiro descanso prometido (Mateus 11:28-30). Aqueles que creem nEle não mais carregam o fardo da lei, mas encontram descanso para suas almas. Esse descanso não é baseado em um dia específico da semana, mas na obra completa de Cristo na cruz.
Os apóstolos e a igreja primitiva compreenderam essa verdade e, sob a direção do Espírito Santo, não impuseram a observância do sábado aos cristãos gentios (Atos 15). Em vez disso, eles se reuniam no primeiro dia da semana, o dia da ressurreição de Cristo, para adoração e comunhão (Atos 20:7; 1 Coríntios 16:2).
A Liberdade em Cristo:
O apóstolo Paulo enfatizou repetidamente que os cristãos foram libertos da escravidão da lei mosaica, incluindo a obrigação de observar dias especiais, como o sábado (Gálatas 4:9-11; Colossenses 2:16-17). Ele advertiu contra aqueles que tentavam impor a observância do sábado como uma obrigação religiosa.
Em vez disso, Paulo ensinou que os cristãos devem viver em liberdade, não se sujeitando a regulamentações legalistas (Gálatas 5:1). Ao mesmo tempo, ele exortou os cristãos a não usar essa liberdade como uma desculpa para a imoralidade, mas a servirem uns aos outros em amor (Gálatas 5:13).
O Verdadeiro Descanso em Cristo:
O verdadeiro descanso prometido na Escritura não está vinculado a um dia específico da semana, mas à obra redentora de Cristo. Através de Sua morte e ressurreição, Jesus nos libertou do fardo do pecado e da condenação da lei.
Aqueles que creem em Cristo encontram descanso para suas almas (Mateus 11:28-30), não por meio da observância de dias específicos, mas pela fé na obra completa de Cristo. Esse descanso é uma realidade presente e contínua, não limitada a um dia da semana.
Além disso, a Escritura aponta para um descanso eterno que os cristãos desfrutarão na presença de Deus (Hebreus 4:9-11). Esse repouso eterno é a restauração final do estado de comunhão perfeita e descanso que Adão e Eva desfrutaram no jardim do Éden antes da queda.
Pense Nisso:
Mediante um estudo aprofundado das Escrituras, fica evidente que Adão e Eva não foram instruídos a observar o sábado antes da queda no Éden. Eles viviam em um estado de descanso perpétuo, servindo como sacerdotes no jardim do Éden, em perfeita comunhão com Deus.
Após a queda, a humanidade foi expulsa do Éden e condenada ao trabalho árduo. Foi nesse contexto que Deus introduziu a lei mosaica, incluindo o mandamento do sábado, como uma sombra que apontava para a verdadeira realidade que viria em Cristo.
No Novo Testamento, Jesus cumpriu a lei mosaica em toda a sua plenitude e se tornou o verdadeiro descanso prometido. Através de Sua morte e ressurreição, Ele nos libertou do fardo do pecado e da condenação da lei, trazendo-nos para um descanso contínuo em Sua graça.
Os cristãos não estão mais obrigados a observar dias específicos, como o sábado, pois encontram seu verdadeiro descanso em Cristo. Eles são exortados a viver em liberdade, não se sujeitando a regulamentações legalistas, mas servindo uns aos outros em amor.
Essa liberdade em Cristo, no entanto, não é uma desculpa para a imoralidade, mas um chamado a desfrutar do verdadeiro descanso prometido na Escritura – um descanso presente e eterno na presença de Deus, restaurando a comunhão perfeita que Adão e Eva desfrutaram no Éden antes da queda.