A Negação da Doutrina da Trindade por Tiago White e Ellen White

Introdução

A doutrina da Trindade é um pilar fundamental da fé cristã, enraizada nas Escrituras Sagradas e desenvolvida ao longo dos séculos pela tradição e reflexão teológica da Igreja. No entanto, ao longo da história, surgiram vozes dissonantes que desafiaram esse dogma central do cristianismo. Entre essas vozes, destacam-se as de Tiago White e Ellen G. White, co-fundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Este artigo tem como objetivo analisar criticamente as posições de Tiago White e Ellen G. White em relação à doutrina da Trindade, confrontando-as com os ensinamentos bíblicos e a compreensão ortodoxa da Igreja. Além disso, busca-se examinar a coerência interna entre as crenças do casal, questionando se Ellen G. White, tida como profetisa pelos adventistas, alertou ou impediu seu marido de propagar publicamente ideias heréticas sobre a natureza de Deus.

Desenvolvimento

A Negação da Trindade por Tiago White

Tiago White, um dos principais líderes e teólogos da nascente Igreja Adventista do Sétimo Dia, rejeitava abertamente a doutrina da Trindade. Em diversas ocasiões, ele se referiu a ela como “o antigo credo trinitário não bíblico”[1] e “o absurdo inexplicável que faz a divindade três em um e um em três”[2]. Para Tiago White, a crença de que Jesus Cristo é o próprio e eterno Deus não encontrava respaldo nas Escrituras.

Em uma de suas citações mais emblemáticas, ele afirma:

“O velho credo trinitário não bíblico, de que Jesus Cristo é o Deus eterno, mesmo que eles não tenham uma única passagem para apoiá-lo, enquanto temos testemunho claro das Escrituras em abundância de que Ele é o Filho do Deus eterno.“[3]

Essa declaração revela claramente a rejeição de Tiago White ao dogma da Trindade e sua crença de que Jesus Cristo é um ser criado, subordinado ao Pai e distinto d’Ele em essência.

Além disso, Tiago White sustentava que Jesus Cristo não era co-eterno com o Pai, mas sim um ser que foi exaltado a uma posição de igualdade com o Pai em algum momento antes da criação do mundo. Ele escreveu:

“Em sua exaltação antes de se humilhar para a obra de redimir os pecadores perdidos, Cristo não considerou roubo ser igual a Deus, porque na obra da criação e da instituição da lei para governar as inteligências criadas, ele era igual ao Pai… O leitor pode agora olhar para o pai e o filho, para usar uma figura comum, como uma grande firma criadora e instituidora da lei.”[4]

Essa visão de Tiago White está em desacordo com o entendimento bíblico ortodoxo de que Jesus Cristo é a segunda pessoa da Trindade, co-igual, co-eterna e co-essencial com o Pai e o Espírito Santo desde a eternidade.

A Conivência de Ellen G. White com as Heresias de Tiago White

Ellen G. White, esposa de Tiago White e considerada profetisa pelos adventistas, não apenas não corrigiu as crenças heréticas de seu marido sobre a Trindade, como suas próprias escrituras reforçam essas ideias distorcidas. Em seu livro “Testemunhos para a Igreja”, ela afirma:

“Deus é o Pai de Cristo, Cristo é o Filho de Deus. A Cristo foi dada uma posição exaltada. Ele foi feito igual ao Pai. Todos os conselhos de Deus estão abertos a seu Filho.“[5]

Essa declaração sugere que Jesus Cristo não era co-igual e co-eterno com o Pai desde a eternidade, mas sim um ser subordinado que foi “feito igual” ao Pai em algum momento anterior à criação do mundo.

Além disso, Ellen G. White apresenta uma visão distorcida da relação entre as pessoas da Trindade, afirmando que Jesus era “a próxima autoridade do Grande Legislador” e que “Ele sabia que somente sua vida seria suficiente para resgatar o homem caído”[6]. Essa linguagem implica uma hierarquia e uma separação de naturezas entre o Pai e o Filho, o que contraria o entendimento ortodoxo de que as três pessoas da Trindade são co-iguais e co-eternas.

É importante ressaltar que, como Ellen White mesmo se autoproclamou, como sendo uma mensageira de Deus e mais importante que um profeta autoproclamada, Ellen G. White deveria ter sido capaz de discernir e corrigir os erros doutrinários de seu marido sobre um aspeto tão fundamental da fé cristã. No entanto, não apenas ela não o fez, como reforçou essas crenças heréticas em seus próprios escritos.

A Doutrina da Trindade nas Escrituras e na Tradição Ortodoxa

A doutrina da Trindade, embora não seja explicitamente mencionada nestes termos nas Escrituras, é claramente sustentada por diversos textos bíblicos e foi desenvolvida e defendida pela Igreja ao longo dos séculos.

O Antigo Testamento apresenta indícios da pluralidade divina, como o uso do plural “Elohim” (Gênesis 1:26) e a referência a “Façamos o homem à nossa imagem” (Gênesis 1:26). No Novo Testamento, Jesus se refere ao Pai (João 14:9), ao Filho (João 14:6) e ao Espírito Santo (João 14:26) como pessoas distintas, e a fórmula batismal menciona as três pessoas da Trindade (Mateus 28:19).

Além disso, os Pais da Igreja, desde os primeiros séculos, lutaram contra heresias como o arianismo e o modalismo, defendendo a doutrina da Trindade como a correta compreensão da natureza de Deus. Os Concílios Ecumênicos de Niceia (325 d.C.) e Constantinopla (381 d.C.) foram fundamentais para a formulação e definição desse dogma central do cristianismo.

A tradição ortodoxa da Igreja, baseada nas Escrituras e na reflexão teológica ao longo dos séculos, entende que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas distintas que compartilham a mesma essência divina, co-iguais, co-eternas e co-onipotentes. Essa doutrina é considerada fundamental para a correta compreensão da natureza de Deus e da obra redentora de Cristo.

Citações de Tiago White:

  1. “Na lei divina, e no evangelho do Filho divino, estão os testes de caráter cristão. E é com uma graça ruim que aqueles que se dividiram em seitas insignificantes durante o século dezenove por formas de governo da igreja, questões de conveniência, salvação livre e restrita, se podemos cantar algum bom hino na igreja, ou apenas os Salmos de Davi, e outras questões que não constituem nenhum teste de aptidão para o Céu, agora se lançam sobre nós, e exibem qualquer quantidade de horror religioso, simplesmente porque consideramos a estrita conformidade com os mandamentos de Deus e a fé em Jesus o único verdadeiro teste de caráter cristão.” Tiago White REVIEW AND HERALD 12 DE OUTUBRO DE 1846
  2. “Amados, quando dediquei toda a diligência para escrever a vocês sobre a salvação comum, foi necessário que eu escrevesse e exortasse vocês a contenderem seriamente pela fé que uma vez foi entregue aos santos…” (Judas 3, 4)… A exortação para contender pela fé entregue aos santos, é para nós somente. E é muito importante para nós saber pelo que e como contender. No quarto verso, ele nos dá a razão pela qual devemos contender pela fé, uma fé particular; “pois existem certos homens,” ou uma certa classe que nega o único Senhor Deus e nosso Senhor Jesus Cristo… A maneira como os espiritualizadores descartaram ou negaram o único Senhor Deus e nosso Senhor Jesus Cristo é primeiro usando o antigo credo trinitário não bíblico, que Jesus Cristo é o Deus eterno, embora não tenham um único versículo para apoiá-lo, enquanto temos testemunho escritural em abundância de que ele é o Filho do Deus eterno. Tiago White THE DAY STAR 24 DE JANEIRO DE 1846
  3. “Afirmar que os ditos do Filho e de seus apóstolos são os mandamentos do Pai, é tão distante da verdade quanto a velha absurdidade trinitária de que Jesus Cristo é o próprio e Eterno Deus. E como a fé de Jesus abrange cada requisito peculiar ao evangelho, segue-se necessariamente que os mandamentos de Deus, mencionados pelo terceiro anjo, abrangem apenas os dez preceitos da lei imutável do Pai, que não são peculiares a nenhuma dispensação, mas comuns a todos. Tiago White REVIEW AND HERALD 5 DE AGOSTO DE 1852
  4. “Em sua exaltação, antes de se humilhar para a obra de redimir pecadores perdidos, Cristo não considerou usurpação ser igual a Deus, porque, na obra da criação e na instituição da lei para governar inteligências criadas, ele era igual ao Pai. O Pai era maior do que o Filho porque ele foi o primeiro. O Filho era igual ao Pai porque dele recebeu todas as coisas. O leitor pode agora considerar o Pai e o Filho, usando uma figura comum, como uma grande firma criadora e instituidora de leis. Tiago White REVIEW AND HERALD 4 DE JANEIRO DE 1881
  5. “A inexplicável Trindade que faz com que a Divindade seja três em um e um em três, já é ruim o suficiente; mas essa ultra Unitarismo que faz Cristo inferior ao Pai é pior. Deus disse a um inferior, “Façamos o homem à nossa imagem? Tiago White REVIEW AND HERALD 29 DE NOVEMBRO DE 1877

Conclusão

As posições de Tiago White e Ellen G. White sobre a doutrina da Trindade representam uma clara divergência dos ensinamentos bíblicos e da compreensão ortodoxa da Igreja. Ao negar a co-igualdade, a co-eternidade e a co-essencialidade das três pessoas da Trindade, eles promoveram ideias heréticas que distorcem a natureza de Deus e comprometem a correta compreensão da obra redentora de Cristo.

Além disso, a conivência de Ellen G. White, tida como profetisa pelos adventistas, com as crenças heréticas de seu marido, é profundamente preocupante. Como suposta mensageira de Deus, ela deveria ter sido capaz de discernir e corrigir os erros doutrinários de Tiago White sobre um aspecto tão fundamental da fé cristã. No entanto, não apenas ela não o fez, como reforçou essas ideias distorcidas em seus próprios escritos.

Essa incongruência entre as crenças do casal White e os ensinamentos bíblicos e da tradição ortodoxa da Igreja põe em xeque a credibilidade dos adventistas como verdadeiros herdeiros da Reforma Protestante. Ao rejeitarem a doutrina da Trindade, eles se distanciaram dos princípios fundamentais da fé cristã e abraçaram ideias heréticas que remontam a antigas heresias já refutadas pela Igreja ao longo dos séculos.

Referências:


[1] Review and Herald, 12 de junho de 1856.
[2] Fonte não especificada no texto, citada como “quatro anos antes” da citação de 1881.
[3] Review and Herald, 12 de junho de 1856.
[4] Review and Herald, 4 de janeiro de 1881.
[5] Testemunhos para a Igreja, Volume 8.
[6] Fonte não especificada no texto.