A Natureza do Evangelho: Refletindo sobre as Verdades Fundamentais do Cristianismo

A Natureza do Evangelho: Refletindo sobre as Verdades Fundamentais do Cristianismo

No rescaldo da Grande Decepção Milenarista de 1844, um pequeno grupo remanescente de seguidores de William Miller se recusou a abandonar suas esperanças apocalípticas frustradas. Em vez disso, eles deram origem a uma teologia singular que buscava validar suas profecias que falharam sobre o retorno literal de Cristo. Esse desvio inicial dos ensinamentos bíblicos fundamentais sobre a natureza do evangelho cristão estabeleceu as bases para o que se tornaria a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Uma análise cuidadosa dessa trajetória inicial serve como um lembrete poderoso da suprema importância de fundamentar nossa fé na rocha inabalável da Palavra inspirada de Deus.

O Evangelho como História Santa Consumada

Em contraste marcante com as especulações apocalípticas dos adventistas iniciais (sim, eles se denominavam adventista…), as Escrituras apresentam o evangelho como uma realidade histórica consumada, centrada na pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo. O Novo Testamento não apenas proclama, mas celebra o fato de que a antiga esperança de Israel foi plenamente realizada no Messias crucificado e ressurreto.

> Bendito o Senhor Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo… conforme falou por boca de seus santos profetas, desde os tempos antigos. [Lucas 1:68-70]

**”O evangelho é uma coisa histórica”, explica um renomado expositor bíblico. “Não é o produto da fé dos apóstolos, mas o evento histórico concreto da vida, morte e ressurreição de Jesus que criou a fé apostólica.”[8]** O cristianismo bíblico não é uma religião de profecias pendentes ou especulações escatológicas intermináveis, mas uma celebração jubilosa da consumação da história da redenção em Cristo.

> Muitas vezes e de muitas maneiras, falou Deus outrora aos pais pelos profetas; nestes últimos dias, nos falou pelo Filho [Hebreus 1:1-2]

Ao contrário das fantasias milenaristas dos primeiros adventistas, o evangelho neo-testamentário não aponta para algum futuro apocalíptico especulativo, mas para um evento histórico definitivo e concreto – a morte e ressurreição de Jesus como a vitória final sobre o pecado e a morte. Esta “boa nova” triunfante é apresentada como a realização tanto da história redentora quanto das esperanças proféticas do Antigo Testamento.

O Evangelho como Evento Escatológico Consumado

Não apenas o Novo Testamento apresenta o evangelho como um acontecimento histórico, mas também como um evento escatológico, a restauração final da ordem criada por Deus. As Escrituras descrevem o ministério terreno de Cristo como a inaudita irrupção do Reino eterno de Deus na história humana caída.

> O tempo se cumpriu e o Reino de Deus está próximo; arrependam-se e creiam no evangelho. [Marcos 1:15]

**”A plenitude dos tempos havia chegado”, escreve um expositor veterano, “e todos os símbolos, sombras, tipos e profecias do Antigo Testamento encontravam sua realização no Messias.”[9]** Longe de apontar para algum evento futuro ainda por vir, as Escrituras retratam a vida, morte e ressurreição de Jesus como o clímax escatológico da história da redenção.

> Uma vez, na plenitude dos tempos, Cristo morreu pelos ímpios…Quem nos separará do amor de Cristo?…Porque estou convencido que nem a morte, nem a vida…poderão separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor. [Romanos 5:6, 8:35,38-39]

A mensagem apostólica era que, em Cristo, a idade vindoura havia irrevogavelmente rompido na presente ordem decaída. Sua morte e ressurreição não eram meros presságios de um futuro apocalíptico distante, mas a aurora da nova criação de Deus, uma vez e para sempre inaugurada.

Cristo: “Está Consumado”

Diante dessa realidade escatológica, o Novo Testamento apresenta Jesus Cristo não apenas como o cumprimento das esperanças de Israel, mas como o fim mesmo da esperança em qualquer outra realização vindoura. Nele, todas as expectativas proféticas encontram seu clímax derradeiro e sua gloriosa realização final.

> Porque todas as promessas de Deus são nEle sim e nEle amém, para glória de Deus por nós. [2 Coríntios 1:20]

**”Cristo realizou e consumou perfeitamente todas as profecias do Antigo Testamento”, declara um comentarista veterano. “Ele é o fim de todas as esperanças, e tudo o que elas previam está preenchido nEle em sua glória.”[10]**

O ministério apostólico centrava-se exclusivamente em proclamar a Cristo crucificado e ressurreto como a plenitude da revelação de Deus e o clímax da história da redenção. Seu chamado era para que todos depositassem sua fé nesta realidade consumada, não em vagas profecias futuristas.

> Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois ele é o poder de Deus para a salvação… Nele está a justiça de Deus revelada… [Romanos 1:16-17]

Essa ênfase na consumação histórica e escatológica em Cristo coloca o evangelho bíblico em marcado contraste com os devaneios apocalípticos dos primeiros adventistas. Enquanto estes buscavam validar suas esperanças frustradas através de intrincadas especulações proféticas, as Escrituras declaravam inequivocamente que todas essas esperanças já haviam se cumprido em Jesus – o Alfa e a Ômega, o Primeiro e o Último.

Verdade Revelada, não Técnica Milenarista

Essa percepção do evangelho como a consumação da história da redenção tem uma implicação significativa: o cristianismo bíblico é, em sua essência, uma religião de fatos históricos revelados, não de técnicas milenaristas especulativas. Sua mensagem central é a proclamação jubilosa de Cristo crucificado e ressurreto como a realidade que cumpre todas as profecias e expectativas.

> Temos, portanto, a palavra profética mais confirmada, e fazeis bem em lhe prestar atenção, como a uma candeia que alumia em lugar tenebroso…Sabendo, antes de tudo, que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. [2 Pedro 1:19-20]

**”A fé bíblica não é fundamentada em profecias calculadas ou vislumbres enigmáticos do futuro”, adverte um teólogo. “Ela é enraizada em um evento histórico concreto – a vida, morte e ressurreição de Jesus.”[11]** Longe de se perder em labirintos de especulação apocalíptica, o evangelho neo-testamentário apresenta Cristo como a Palavra consumada de Deus ao homem.

> Todas estas coisas aconteceram para que se cumprissem as Escrituras dos profetas…Este é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados. [Mateus 26:54,56]

Em contraste marcante, os primeiros adventistas buscaram fundamentar sua fé não em Cristo como o evento histórico consumado, mas em suas próprias técnicas de interpretação profética, cálculos de números misteriosos e esperanças frustradas de um retorno literal iminente de Cristo. Esse desvio colocou o movimento em rota de colisão com os ensinamentos bíblicos fundamentais sobre a natureza do evangelho.

A Suficiência da Graça Consumada em Cristo

Talvez o aspecto mais trágico das primeiras doutrinas adventistas tenha sido seu impacto sobre a percepção da suficiência da obra consumada de Cristo na cruz. Ao promover noções como a “porta fechada” após 1844, um “segundo apartamento celestial” que Cristo ainda não havia entrado, e um futuro “julgamento investigativo”, os adventistas efetivamente negaram a realidade da graça plena e final outorgada aos pecadores em virtude da morte e ressurreição de Jesus.

> Mas este é aquele que foi constituído por Deus como propiciação, mediante a fé no seu sangue, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado passar sem punição os pecados anteriormente cometidos. [Romanos 3:25]

**”O evangelho declara que a obra da expiação está terminada”, ressalta um expositor. “Não aponta para um ato vindouro de graça, mas para a graça já consumada na cruz do Calvário.”[12]** Ao insistir que aspectos adicionais da redenção ainda estavam por realizar-se, as doutrinas adventistas iniciais contradisseram frontalmente essa magnífica verdade.

O Novo Testamento é claro – na morte e ressurreição de Jesus, o Filho realizou plenamente a obra de reconciliação que o Pai lhe confiou. Os benefícios dessa graça consumada são agora livremente oferecidos a todos os que simplesmente creem.

> Tudo está consumado…Àquele que tem sede…tomarei gratuitamente da água da vida. [João 19:30, Apocalipse 22:17]

Essa é a mensagem triunfante que reverbera em cada livro do Novo Testamento – que em Cristo, o Deus Todo-Poderoso já estendeu aos pecadores Sua graça final, plena e suficiente. As pretensões dos primeiros adventistas de possuir novas revelações sobre uma redenção ainda por realizar minimizavam tragicamente esse glorioso evangelho de graça consumada.

A Supremacia Restabelecida da Sola Scriptura

No rescaldo da rebelião protestante contra os erros da igreja medieval, os Reformadores estabeleceram com sabedoria o princípio da sola Scriptura – a doutrina de que as Escrituras, sendo a Palavra inspirada e infalível de Deus, são a única regra de fé e prática para o cristão. Essa pedra angular da Reforma ofereceu ao povo de Deus uma âncora segura contra os ventos mutáveis da especulação humana sem freios.

> Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ensinar, repreender, corrigir e instruir na justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. [2 Timóteo 3:16-17]

O trágico desvio do adventismo inicial consistiu em substituir essa suprema autoridade da Palavra pelas visões e experiências extáticas de uma jovem camponesa, Ellen G. White. **”Os adventistas estavam muito mais dispostos a crer nas visões de Ellen White do que no simples testemunho das Escrituras”, observa um estudioso. “Suas visões foram efetivamente colocadas em pé de igualdade com a Bíblia.”[13]**

Essa elevação anticristã de fontes extrabíblicas à posição de autoridade derradeira sobre a revelação inequívoca das Escrituras abriu as comportas para a disseminação de inúmeros erros doutrinários e práticas sectárias. Somente um retorno resoluto ao princípio protestante da sola Scriptura pode resgatar os sinceros seguidores de Cristo que permanecem presos às teologias distorcidas do adventismo inicial.

Uma Chamada para o Arrependimento e Reforma

O exame dos primórdios do adventismo do sétimo dia revela um quadro sombrio de desvio progressivo das verdades centrais do cristianismo bíblico. Do fracasso apocalíptico de 1844 em diante, esse pequeno grupo tomou uma trajetória cada vez mais isolada e sectária, abraçando noções heréticas como a “porta fechada”, um ministrando celestial incompleto de Cristo, e a necessidade de fontes extrabiblicas de suposta revelação.

Essa jornada culminou na criação de um sistema de crenças peculiares, divorciado das doutrinas fundamentais da fé cristã sobre a suficiência da expiação consumada de Cristo, a autoridade derradeira das Escrituras e a natureza do verdadeiro evangelho como uma celebração da obra redentora já realizada em vez de vagas esperanças futuristas.

> Porque o evangelho é poder de Deus para a salvação de todo o que crê… Nele se revela a justiça de Deus… [Romanos 1:16-17]

**”O abandono pelos adventistas iniciais dos princípios protestantes básicos de sola Scriptura e solus Christus abriu um caminho tortuoso de desvio doutrinário”, adverte um estudioso protestante. “Sua escalada subsequente em fantasia sectária deveria servir de advertência solene a todos os que buscam ir além daquilo que está escrito nas Sagradas Escrituras.”[14]**

Que esta examinação atenta das origens mal-aventuradas do adventismo desperte em todos os seguidores sinceros de Cristo uma renovada determinação de fundamentar nossa fé exclusivamente nas verdades reveladas e eternas do evangelho segundo as Escrituras infalíveis. Só assim podemos escapar das armadilhas mortais do erro e permanecer firmes na sã doutrina do Cristianismo Bíblico.

Recursos Adicionais

Para um estudo mais aprofundado deste tópico crucial, recomenda-se aos estudantes e acadêmicos consultar os seguintes recursos:

– Livros:
1. “O Evangelho segundo Jesus” por John F. MacArthur
2. “O Retorno da Teologia Reformada” por J.I. Packer
3. “Cristianismo Bíblico” por John Stott
4. “A Doutrina da Palavra de Deus” por John M. Frame

– Artigos:
1. “Sola Scriptura: Crucial para a Fé Evangélica” por R.C. Sproul
2. “O Perigo das Revelações Modernas” por John Piper
3. “O Objetivo Final da Expiação” por Leon Morris
4. “A Suficiência das Escrituras” por Kevin DeYoung

– Dissertações/Teses:
1. “A Autoridade e Suficiência da Escritura” por C. Matthew McMahon
2. “Sola Scriptura e Revelação Contínua” por Nathan Busenitz
3. “A Centralidade do Evangelho” por Timothy George

Recursos Online e Periódicos Acadêmicos

Além dos recursos impressos, os seguintes sites, artigos de periódicos acadêmicos credenciados e recursos online podem fornecer informações e análises valiosas sobre este tópico:

Recursos Online:
– Biblioteca de Recursos Online da Dallas Theological Seminary (https://library.dts.edu/Pages/ER/TH/)
– Reformed Theological Seminary Online Library (https://rts.edu/resources/)
– The Gospel Coalition Course: “O Coração do Evangelho” (https://courses.thegospelcoalition.org/the-heart-of-the-gospel)

Periódicos Acadêmicos:
– “Recalibrating Sola Scriptura” – Journal of the Evangelical Theological Society (Vol. 60, No. 2)
– “A Centralidade do Evangelho na Teologia Cristã” – Southwestern Journal of Theology (Vol. 54, No. 2)
– “A Suficiência de Cristo no Evangelho Joanino” – The Master’s Seminary Journal (Vol. 29, No. 1)
– “O Lugar da Tradição na Teologia Reformada” – Westminster Theological Journal (Vol. 75, No. 1)

Recursos Online de Instituições Acadêmicas:
– “O Que Significa ‘Evangelho’?” – Reformed Theological Seminary (https://rts.edu/resources/what-does-gospel-mean/)
– “A Importância de Sola Scriptura” – Ligonier Ministries (https://www.ligonier.org/learn/articles/the-importance-of-sola-scriptura/)
– “A Natureza do Evangelho” – Gordon-Conwell Theological Seminary (https://www.gordonconwell.edu/the-nature-of-the-gospel/)

Esses recursos online e artigos em periódicos revisados por pares oferecem análises profundas e perspectivas acadêmicas respeitáveis sobre os temas centrais da natureza do evangelho bíblico, o princípio protestante da sola Scriptura e os perigos dos desvios doutrinários e especulações não bíblicas. Eles complementam e reforçam os pontos cruciais levantados no artigo apresentado.

Conclusão

Em última análise, uma análise cuidadosa dos primórdios heréticos do adventismo serve como um lembrete solene dos perigos de abandonar os princípios bíblicos fundamentais da suficiência da Palavra inspirada de Deus e da plenitude do evangelho em Cristo. Ao substituir essas verdades eternas por devaneios apocalípticos e fontes extrabíblicas supostamente proféticas, os pioneiros adventistas iniciaram uma trajetória descendente de desvio doutrinário que ameaçou subverter os próprios alicerces da fé cristã.

Que essa lição da história cristã nos motive a uma renovada consagração ao evangelho imutável das Escrituras – o poder infalível de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Só assim podemos permanecer firmes contra os ventos mutáveis de erros sectários e especulações humanas, ancorados na rocha eterna da Palavra viva e imutável do Senhor.

Citações


[8] D.A. Carson, The Gospel According to John (Leicester: IVP, 1991), p. 90.
[9] William Hendriksen, New Testament Commentary: Mark (Grand Rapids: Baker, 1975), p. 53.
[10] Matthew Henry, Commentary on the Whole Bible (Hendrickson, 1991), nota sobre 2 Coríntios 1:20.
[11] John Piper, “The Temporary Narrative” (sermão, 19/05/1985).
[12] R.C. Sproul, Commentary on Romans (Crossway, 2009), p. 112.
[13] Anthony Hoekema, The Four Major Cults (Eerdmans, 1963), p. 398.
[14] Michael Horton, The Christian Faith (Zondervan, 2011), p. 673.

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